Tô Correndo zDestaque Centro Tomaz Lourenço 18 de dezembro de 2024 (0) (156)

Está achando as corridas meio sem graça? Prepare-se então para encarar uma maratona. Não é complicado e a sensação ao final é maravilhosa!

Avatar de Tomaz Lourenço


POR TOMAZ LOURENÇO


Se você ficar na chegada de uma prova de 10 km e até nas de 21 km, verá muita gente alegre, comemorando, mas dificilmente alguém chorando, emocionado. Já nas maratonas essa situação é corriqueira. Por que essa diferença?

A explicação é que, para se completar as distâncias mais curtas, geralmente não foi necessária uma dedicação muito grande na preparação, daí que finalizá-las não coroa um período de entrega aos treinos, por várias semanas ou meses. Exatamente ao contrário do que ocorre quando se decide encarar os 42 km, daí a sensação de vitória, ao se cruzar o pórtico final de uma maratona.

Na mesma linha de raciocínio, quando se larga para os 5 ou 10 km, já se sabe de antemão em torno de que tempo se deverá completar, precisão que se afrouxa numa meia-maratona e que ganha ares de absoluta incerteza quando se começa uma maratona. Aqui, não apenas é impossível prever com alguma certeza qual será o tempo final, como, inclusive, se o desafio será mesmo concluído, dúvida que raramente acontece nas distâncias menores.

Milhões de pessoas pelo mundo praticam corrida de vez em quando ou mesmo assiduamente (mas sem entrar em provas), e a maioria se satisfaz em ficar nesse patamar, ou seja, de se exercitar pelos benefícios à saúde física e mental. Não são “corredores”, assim como não são “nadadores” aqueles que dão umas braçadas no mar ou na piscina pra se refrescar, nem “ciclistas” os que passeiam de bicicleta.

Mas alguns pegam gosto pelas corridas e passam a encará-las como um esporte (e inscrevem-se nos eventos), treinando para ficarem mais rápidos e/ou mais resistentes. E é neste ponto que se encaixa a provocação no título deste post. Enquanto que correr mais veloz tem sérias limitações, ir mais longe, gradativamente, é plenamente viável e muito prazeroso, pela sensação de superação que acarreta.

Essa deve ser a razão para que pessoas, depois de algumas corridas de pequenas e mesmo médias distâncias, se sentirem pouco realizadas, em termos esportivos, e passarem a querer saber por que tanta gente se anima a enfrentar os 42.195 metros. Inclusive  por ouvirem delas expressões do gênero “sofri, mas valeu a pena”, “só completando uma maratona pra entender”, “agora me sinto um atleta” e por aí vai.

NADA COMPLICADO

E completar os 42 km não é nada complicado, para quem já faz suas corridinhas, bastando incrementar a quilometragem aos poucos, durante 3 ou 4 meses, para que o corpo vá se acostumando, até se chegar aos longos em torno de 35 km, reduzindo então o volume para o grande dia. Funcionou bem para minhas mais de 60 maratonas e duas ultras, com o detalhe de nesses 30 anos nunca ter me lesionado.

Quando decidi fazer a Comrades (89 km), na África do Sul, para comemorar meus 60 anos, me preparei por 5 meses, com três treinos por semana, começando com um total semanal de 30 km, sempre em ritmo confortável, e aumentando apenas 5 km a cada 7 dias. Dessa forma, fiz meu último treino de 8 horas com facilidade (140 km na semana), e completei a ultra em quase 11 horas. No ano seguinte, 2008, voltei lá melhor condicionado e fechei em 10h12, convencido de que eu era o máximo.

Dez anos depois, estava no km 40 da SP City lutando para manter o ritmo e completar sub 4h55, que era o tempo-limite da faixa 70/74 anos do Ranking Brasileiro de Maratonistas, quando encontrei uma garota caminhando e, naturalmente, a estimulei para me acompanhar até a chegada. Passados alguns minutos lado a lado, ela começou a chorar e foi se distanciando. Só fui conhecê-la no ano seguinte, em uma entrega de kit, no estande da CR, quando ela se identificou, me agradeceu e confirmou o que eu imaginava: “Era minha primeira maratona!”

Em outro post aqui no site, as provas brasileiras oficiais até setembro. São várias opções para estrear nos 42 km, sem contar as no exterior, algumas muito difíceis de participar, mas pelo alto custo da viagem ou restrições na inscrição. Como para a de Chicago 2025, que recebeu 160 mil pedidos para as 53 mil vagas, entre eles de quase 5 mil brasileiros. Parece que os corredores estão mesmo em busca das emoções que sentem os maratonistas.


Tomaz Lourenço é jornalista, 77 anos; lançou a revista Contra-Relógio em outubro de 1993, sendo seu editor até a última edição, em abril de 2021. Correu mais de 60 maratonas no Brasil e exterior, além de 2 Comrades; seu recorde nos 42 km foi ao estrear na distância, em Blumenau 1992, com 3h04. Contato: tomazloureno1947@gmail.com

Veja também

Leave a comment