Stephen Kiprotich, 24 anos, de Uganda, escreveu definitivamente seu nome na história das maratonas. Depois de ser medalha de ouro na Olimpíada de Londres no ano passado, foi o primeiro colocado nos 42 km no Mundial de Atletismo da Rússia, no dia 17 de agosto, em Moscou. Ao vencer com 2:09:51, tornou-se o primeiro corredor a ter simultaneamente as medalhas de ouro do Mundial e da Olimpíada. O pódio foi completado pelos etíopes Lelisa Desisa (2:10:12) e Tadese Tola (2:10:23).
Os brasileiros Solonei Rocha da Silva e Paulo Roberto de Almeida Paula correram juntos boa parte da maratona e cruzaram a linha de chegada de mãos dadas. Solonei terminou oficialmente em sexto lugar e Paulo Roberto em sétimo, com o mesmo tempo: 2:11:40 – as melhores marcas dos dois na temporada.
Com 70 participantes, a maratona do Mundial de Atletismo foi disputada com vento constante e sob uma temperatura de 24ºC, o que desgastou os corredores. Mas a dupla brasileira esteve bem. "Temos o mesmo ritmo e um procurou ajudar o outro. Tenho mais facilidades em subidas e ele em descidas. Somos amigos, da mesma região do interior de São Paulo", afirmou Paulo Roberto em entrevista à CBAt. Ele é de Irapuru, e Solonei nasceu em Penápolis. "A partir do km 35, quando ainda estávamos no pelotão da frente, decidimos correr em nosso ritmo, sem procurar saber quem ganharia o ouro. O importante era completar em boa posição a prova", completou Paulo Roberto.
Solonei concorda com o amigo. "O objetivo era ficar entre os dez primeiros e conseguimos, mostrando união", lembrou o maratonista, que chegou a liderar a prova no início. "Saí na frente, mas estava no meu ritmo, sem loucura, de uma maneira confortável. Acho que estamos no caminho certo para a Olimpíada do Rio."
Na maratona feminina, disputada no dia 10 de agosto, a queniana Edna Kiplagat fez uma corrida tática, acompanhando sempre quem estava na liderança para dar o "bote" na italiana Valeria Straneo a partir do km 40. A queniana venceu com 2:25:44, com Valeria levando a prata em 2:25:58. A japonesa Kayoko Fukushi foi bronze (2:27:45). O calor, com largada aos 27ºC e sensação térmica bem superior, o que só aumentou durante o trajeto, foi o grande adversário das atletas.
MO FARAH – Outro destaque do Mundial foi o britânico Mo Farah, que conquistou a dobradinha nos 5.000 m e 10.000 m, repetindo o feito da Olimpíada de Londres. Ele derrotou a "esquadra" etíope e os quenianos nos 10.000 m, levando o título mundial com 27:21:71. A vitória foi o troco no etíope Ibrahim Jeilan, que o havia ultrapassado nos metros finais no Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, em 2011. Desta vez, Jeilan tentou passar o britânico, sem sucesso, tendo de se contentar com a prata (27:22:23). O bronze foi do queniano Paul Kipngetich Tanui (27:22:61).
Nos 5.000m, Mo Farah deu uma arrancada na última volta para completar a prova em 13:26:98, à frente do etíope Hagos Gebrhiwet (13:27:26) e do queniano Isiah Kiplangat Koech (13:27:26). Agora, ao lado do etíope Kenenisa Bekele, Mo Farah é o único corredor a ter simultaneamente os títulos mundiais e olímpicos dos 5.000 m e 10.000 m.
Quem também brilhou na pista de Moscou foi a etíope Tirunesh Dibaba, que conquistou o quinto título mundial da carreira, ao vencer os 10.000 m com 30:43:35. A queniana Gladys Cherono (prata) e também etíope Belaynesh Oljira (bronze) completaram o pódio. Dibaba esteve sempre no pelotão da frente e acelerou na última volta para ser a grande campeã. Ela já tinha sido ouro nos 10.000 m em Helsinque-2005 e Osaka-2007, além do ouro nos 5.000 m em Paris-2003 e Helsinque-2005.
A LENDA – Com mais três medalhas de ouro (100 m, 200 m e revezamento 4×100 m), o jamaicano Usain Bolt foi embora de Moscou ainda mais uma "lenda vida" do que quando chegou. Ele soma agora dez conquistas em mundiais. O resultado fez Bolt igualar-se ao americano Carl Lewis, que brilhou nas décadas de 1980 e 90 com as mesmas dez medalhas. Só que Lewis tem oito ouros, uma prata e um bronze. Bolt tem oito ouros, duas pratas e pelo menos mais um Mundial a disputar, em 2015, às vésperas da Olimpíada do Rio. Ele é o atual recordista mundial nas três distâncias: 100 m (9.58), 200 m (19.19) e no 4×100 m (36.84).
O BRASIL – A delegação brasileira contou com 32 atletas no Mundial da Rússia e, a três anos da Olimpíada do Rio de Janeiro, repetiu o fraco desempenho dos Jogos de Londres, sem qualquer medalha conquistada. As melhores posições ficaram com Mauro Vinícius da Silva, o Duda, quinto lugar no salto em distância, e Fabiana Murer, quinta posição no salto com vara. Não tivemos representantes nos 5.000m, nos 10.000m e na maratona feminina, entre outras provas.
E a participação, como em Londres, terminou de forma melancólica, com a desclassificação do revezamento 4x100m, no último dia de disputas, 18 de agosto. Na semifinal, a equipe obteve a marca de 42.29, batendo o recorde sul-americano com Evelyn Santos, Ana Cláudia Lemos, Franciela Krasucki e Rosângela Santos. O recorde anterior era de 42.55 e foi obtido na Olimpíada de Londres, no ano passado. Na final, porém, depois de um ótimo início de prova, com chance até de medalha de prata, aconteceu um erro na última passagem do bastão, que acabou caindo; Vanda Gomes, que substituiu Rosângela, não conseguiu pegar o bastão.
Após a prova, em entrevista ao SporTV, Vanda Gomes citou a falta de treinamentos da equipe, reclamou da alimentação e da hospedagem. O fato fez a CBAt divulgar um comunicado contestando as acusações de Vanda por meio do site oficial (www.cbat.org.br). Por outro lado, a entidade considerou "os resultados da seleção brasileira no Campeonato Mundial de 2013 bastante satisfatórios, tendo seis atletas alcançando um lugar entre os oito primeiros em suas provas. A seleção ainda foi finalista em duas provas de revezamento."
O ouro no 4x100m ficou com a Jamaica, liderada por Shelly-Ann Frase-Pryce, com 41.29, novo recorde do torneio. A França foi prata (42.73) e os Estados Unidos, bronze (42.75).
No balanço do Mundial, a Rússia sagrou-se campeã, com 7 medalhas de ouro, 4 de prata e 6 de bronze. Os Estados Unidos ficaram na segunda posição, com 6 ouros, 13 pratas e 6 bronzes, e a Jamaica encerrou em terceiro, com 6 ouros, 2 pratas e 1 bronze.