Levando ao pé da letra o dito popular de que o cachorro é o melhor amigo do homem, muitos corredores acabam fazendo do bicho seu companheiro também de treinos – que podem ir de um trotinho leve até um ritmo mais forte. No entanto, antes de transformar seu mascote em um maratonista é preciso observar algumas questões. Segundo os especialistas, todos os cães (independente de raça e porte) podem correr, desde que não tenham problemas cardíacos ou articulares. Os obesos também precisam ir bem devagar. "O animal deve passar por uma avaliação veterinária e, assim como nós, começar aos poucos", recomenda a médica veterinária Alessandra Borges, da Arca Brasil (Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal).
Normalmente se cão e dono principiantes começarem juntos, o animal agüentará mais do que o humano, tanto em velocidade quanto em distância. "É bem mais fácil condicionar um cão do que uma pessoa. Isso faz parte da natureza dele. Mas atenção: só se ele gostar disso. Não o obrigue a correr. Se ele não quiser, respeite. Existem cães que não apreciam sair muito, daí podem ser estimulados dentro de casa, com um jogo de bolinha, por exemplo", diz Ana Regina Torro, veterinária e professora da Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.
A intensidade e a duração do treino do bicho – aí, sim – vão depender da raça e da personalidade do animal. "O border collie e o labrador têm energia para correr todos os dias. Já o buldog inglês tolera pouquíssimo exercício, e isso acontece com todos os braquicefálicos (cães com o focinho achatado)", conta Alessandra Borges. O ideal é ter a companhia de seu amigão no máximo cinco vezes por semana. "Com corridinhas de até uma hora, desde que estas sejam feitas de forma séria e gradual, para que se atinja o condicionamento físico necessário", reforça a veterinária da Arca Brasil.
É preciso ainda que você esteja atento aos sinais que o animal dá. "Ficar com a língua para fora não é problema, pois ele transpira pela língua. Mas quando diminuir muito a marcha ou empacar é hora de parar. O cão, diferente do homem, conhece o seu limite, que deve ser respeitado sempre", completa Ana Regina Torro. Se ele apresentar alteração da coloração da língua, algo como roxa ou azulada, pare o exercício e dê tempo para a recuperação. Caso a cor não volte ao normal, leve-o ao veterinário.
DURANTE O PERCURSO. Assim como você, seu atleta de quatro patas não deve correr de barriga cheia, nem tampouco com o sol a pino. "Não o alimente antes do treino, tome cuidado com o horário do dia, sempre evitando os períodos mais quentes, e forneça água a cada 15 ou 30 minutos", recomenda a especialista da Arca Brasil. "Imagine-se correndo sob sol forte com um casaco de peles e descalço. Isto pode causar desgaste físico, queimaduras, insolação, hipertermia e morte. Evite também ruas com grande movimento de veículos, o que pode assustar ou provocar acidentes", completa a professora da Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.
Hidratar seu mascote é essencial durante e após o exercício. Existem, inclusive, garrafinhas próprias que já trazem um bebedouro acoplado. "Não deixe o cão tomar água desconhecida, de fontes ou de sarjeta", alerta a médica Ana Regina Torro. Se após o treino ele ignorar a água, não force. Apenas deixe à disposição, em um lugar fresco, para que ele tome quando quiser.
Ter a companhia de seu cachorro, em um treino ou outro, certamente irá reforçar os laços de amizade e confiança entre vocês. Mas não esqueça de seus objetivos enquanto corredor. Afinal, você pode estar se preparando para uma maratona, mas seu mascote certamente não – já imaginou o pobrezinho em um longão de 30 km? Para que seu treinamento não seja prejudicado e para que o bicho não force além da conta, a dica é sempre usar o bom senso.
NOTAS
EM PROVA NÃO
Não há uma proibição expressa, ou seja, não há no regulamento das provas uma cláusula que impeça a presença de cachorros nas corridas organizadas pelo Brasil afora. Mas de acordo com Edgard José dos Santos, diretor administrativo da Corpore, a entidade recebe regularmente reclamações de atletas contrários à presença de animais nas competições. "Acreditamos que o assunto precise ser analisado e que seja criada alguma norma, considerando: risco de um animal agredir um atleta; suporte ao animal na prova (hidratação, atendimento veterinário); risco do animal ser atropelado pelos atletas; animal e atleta condutor atrapalharem o fluxo da prova; e sujeira produzida pelo animal", diz. Portanto, em dia de prova, deixe seu amigão em casa. Afinal, nem medalha ele vai receber…
CANICROSS: HOMEM E CÃO JUNTOS
Popular na Europa, especialmente no Reino Unido e na Espanha, o canicross é um esporte onde dono e cão correm juntos. A coleira do animal é acoplada a um cinturão que o indivíduo leva na cintura, permitindo que suas mãos fiquem livres para o movimento da corrida. O cachorro é ensinado a deixar a guia esticada – não com o objetivo de puxar a pessoa, mas para manter a mesma velocidade.
As distâncias percorridas podem variar de 2,5 km a 5 km. E para a alegria dos amantes de corridas e animais, diversos campeonatos movimentam a modalidade, indicada a todas as raças e portes. Ela só não é recomendada a cachorros com menos de um ano, devido ao esforço excessivo que pode prejudicar seu crescimento.
Os organizadores de canicross apontam alguns benefícios:
– Proporciona um estilo de vida saudável para você e seu cão.
– Reforça o elo entre você e seu animal.
– É um esporte versátil que pode ser praticado em qualquer lugar, por homens e mulheres de todas as idades.
"CÃOPEÃO"
Seu cachorro pode, sim, tornar-se um astro no esporte. É que existe uma modalidade criada especialmente para o exercício de cães, na qual eles desenvolvem tanto velocidade quanto concentração e obediência. Trata-se do Agility, nascido em 1978 na Inglaterra, bastante praticado no Brasil, inclusive com a organização de campeonatos nacionais.
Baseado em provas hípicas, o esporte consiste em fazer o cão percorrer um circuito de obstáculos no menor tempo possível e com o menor número de faltas. O condutor (dono) não pode encostar no animal e não pode ter nada em sua mão. O mascote, por sua vez, não pode estar preso à guia nem usar qualquer tipo de colar.
O Agility pode ser praticado por quaisquer raças e tamanhos de cães, com ou sem pedigree.
DONO CONSCIENTE
Ao sair para uma corridinha com seu animal…
– Mantenha-o a seu lado com coleira e guia. Não o deixe solto, para que ele não fuja de seu controle e atrapalhe – ou até ponha em risco – outras pessoas. Algumas raças, como pitbull, bull-terrier, mastin e rotweiller, devem ainda usar focinheira.
– Esteja preparado com, no mínimo, uma sacolinha plástica para recolher as necessidades do cão. Se ele resolver parar para se aliviar, você terá que interromper sua corrida e fazer a higiene do local.
– Carregue um recipiente próprio para fornecer água ao animal.
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Achei muito manero; obrigado, não sabia que filhotes podem prejudicar o crecimento com exesso de exercícios.VALEU!
gostei muito da leitura gostaria de poder receber algo mais no meu email