20 de setembro de 2024

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Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (109)

Correndo bem o mês inteiro

Que atire o primeiro par de tênis a mulher que nunca teve dor de cabeça, sentiu os seios doloridos ou o corpo inchado durante a TPM (síndrome da tensão pré-menstrual). Além disso, os dias que antecedem a menstruação trazem consigo uma dose extra de irritação, e quando o fluxo finalmente chega quem toma a cena são as cólicas uterinas, além do desconforto do sangramento. Mas nem mesmo todos esses sintomas devem ser motivos para tirá-la da rua. Ao contrário, a corrida pode ajudar, e muito, a aliviar essas sensações.

"A atividade física em geral, e a corrida em particular, ajudam a amenizar muitos sintomas da TPM. Já durante o ciclo, ajuda a diminuir a cólica. É muito particular saber se esses efeitos podem ou não atrapalhar um treino; quem decide isso é a corredora. Se ela não está se sentindo bem, o indicado é não treinar. Mas quem mantém um treinamento regular, tem muitos benefícios", explica a treinadora Camila Hirsch, da Personal Life.

Sobre o desempenho, que por vezes fica reduzido, especialmente durante o período pré-menstrual, a coordenadora do Projeto Mulher, Cris Carvalho, esclarece que treino e competição são dois momentos diferentes. "A TPM pode atrapalhar o rendimento em uma competição, mas nunca o treinamento. Nessa fase, ajustamos volume e intensidade do exercício de acordo com a disposição da mulher. Muitas vezes, treinos leves colaboram para aliviar os sintomas de mal-estar", afirma.  

A vendedora Fernanda Tomaselli, que corre há um ano e meio, é daquelas que não deixa a corrida de lado nem mesmo durante ‘aqueles dias'. "Nesse período, me sinto um pouco cansada, então entrego os pontos para a musculação. Mas se é para correr, parece que tomo uma injeção de ânimo, corro mais que o normal. A corrida ainda me trouxe benefícios com relação às cólicas. Antes eu sentia muita dor e hoje melhorou bastante", conta. Aos 38 anos, Fernanda diz que seu ciclo sempre foi normal, mas a intensidade e a duração do fluxo diminuíram com a corrida (de cinco passou para três dias). "Mas isso é normal, segundo meu médico". 

Deixar fluir ou interromper o ciclo? A advogada Helena Noce também não tem problemas com a menstruação. "Corro muito bem de TPM, acho que coloco as idéias no lugar. É uma maneira de controlar os hormônios, me torno menos impulsiva". Ela admite que o primeiro dia do ciclo é o pior momento, quando se sente mais fraca e menos disposta ao esporte, mas depois o ânimo volta e ela corre "como se fosse qualquer outro dia do mês".

Em comum, Helena e Fernanda têm o fato de que nunca interromperam a continuidade do ciclo por conta da atividade física. Cris Carvalho diz que essa é uma questão que envolve diferentes pontos de vista, reações e propósitos. Segundo ela, para as atletas profissionais por vezes é necessária uma intervenção para não arriscar os resultados nas competições importantes. "Para as corredoras, o que dita o ciclo é o seu envolvimento com o esporte e o desconforto que sentem nessa fase", afirma. Ela enfatiza que antes de começar a utilizar qualquer método de controle à menstruação, é fundamental consultar o ginecologista. "É preciso ter orientação médica, porque se a interferência for feita de forma equivocada pode ser muito prejudicial", adverte.

O ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana Alfonso Massaguer explica que existem diversos métodos que impedem o fluxo, como pílulas anticoncepcionais específicas, implantes, DIU, e injeções mensais ou trimestrais. Esses procedimentos podem ser usados para impedir ou diminuir a intensidade do fluxo. "O ginecologista irá prescrever o método mais indicado para alcançar os objetivos que a corredora deseja. A menstruação é um sinal de que os hormônios estão funcionando normalmente e quando você impede o ciclo, é preciso consultar o médico para avaliar se está tudo certo com seu corpo", observa Alfonso. De acordo com o médico, todos os métodos têm prós e contras, mas se o uso for acompanhado de perto por um especialista, a mulher não sofre grandes problemas. "Também não existe um método melhor ou pior, isso depende da adaptação do organismo de cada mulher", completa.

Para o ginecologista Elsimar Coutinho, autor do livro "Menstruação, sangria inútil" e "Vivendo sem regras e sem TPM", a mulher só tem a ganhar com a interrupção do fluxo, independentemente de ser ou não atleta. "A corredora pode perder até um terço do mês por conta da menstruação. Não há contra indicação para suspender a menarca nem acabar de uma vez com a TPM. A menstruação é uma inutilidade na vida da mulher", diz o médico.

Coutinho explica que, para corredoras profissionais, essa interrupção acontece naturalmente. Isso porque mulheres que se submetem a um trabalho aeróbico intenso perdem a gordura das coxas e das nádegas, essenciais para o corpo desenvolver o processo de ovulação e menstruação. "A natureza vê na perda de gordura a impossibilidade de gerar um filho, portanto o próprio corpo inibe o processo de ovulação". A este episódio natural, isto é, sem intervenção de medicamentos, é dado o nome de amenorréia da maratonista, diz o medico. "Muitas maratonistas profissionais, quando desejam engravidar, chegam a ficar seis meses sem treinar em ritmo forte", finaliza. 

Quando a ausência do ciclo é um problema. O ciclo menstrual está intimamente ligado a um órgão cerebral chamado hipotálamo. Ele estimula a hipófise, uma glândula que também fica no cérebro, produtora dos hormônios que resultam na ovulação. Quando a mulher se submete a um nível elevado de estresse e treinamentos muito intensos acaba descontrolando o fluxo menstrual, o que pode gerar a Tríade da Mulher Atleta.

Segundo a coordenadora do Projeto Mulher, essa é uma síndrome que acomete mulheres fisicamente ativas. É conseqüência de má alimentação, amenorréia (ausência de três ou mais ciclos) e osteoporose (massa óssea reduzida ou maiores taxas de perda óssea). "Esses componentes podem reduzir o desempenho físico e colocar em risco a vida da mulher. O tratamento requer uma equipe multidisciplinar de médicos, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras", esclarece Cris.

A pedagoga Etienne Martins corre há um ano e meio e, além da corrida, pratica musculação e complementação aeróbica, com caminhada e bicicleta. "Meu ciclo menstrual sempre foi irregular, por conta de ovários micropolicísticos, mas nunca tive ausência total da menstruação. Isso só foi ocorrer após a intensificação dos treinos e da perda de peso e gordura corporal", conta Etienne. Ela diz que o último fluxo veio em janeiro deste ano e que, no começo, achou ótimo não sentir os sintomas da TPM. "Só comecei a me preocupar quando surgiram algumas mudanças no meu corpo, no meu humor, na libido. Procurei meu ginecologista que diagnosticou a amenorréia, decorrente da baixa dosagem de estradiol". Seu organismo parou de produzir o hormônio, fundamental para a saúde feminina. "Há cerca de 20 dias comecei a reposição hormonal e ainda estou aguardando os resultados", afirma.

CORRA BEM TODOS OS DIAS

E já que nem os sintomas da TPM nem o desconforto da menstruação precisam tirar você das ruas, seguem algumas dicas para que esses dias sejam tão naturais quanto o resto do mês.

Roupa: Durante o ciclo, o melhor tipo de roupa pode ser uma calça mais larguinha. As bermudas e calças mais justas acabam marcando e podem ser mais um fator de preocupação.

Absorvente: Para correr em dias de grande fluxo menstrual é interessante usar absorventes internos. Se necessário, pode usar mini-absorventes externos, como precaução. Apenas o absorvente normal pode causar assaduras.

Hidratação: É super importante sempre, e durante a TPM é bom ir além dos dois litros de água por dia, pois ajuda a eliminar o inchaço que acontece pela retenção de líquidos nessa fase.

Treinos: Podem ser feitos normalmente e vão ajudar a melhorar sua disposição nesse período. Para quem sofre indisposição aguda, com cólicas, enxaquecas e outros desconfortos, a idéia é apenas mexer o corpo, sem pensar em performance e sim no seu bem-estar.

colaboraram Andréia Brasil e Nanna Pretto

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