Especial Performance e Saúde Redação 15 de junho de 2018 (0) (221)

Corredoras “barrigudas”

Bem-estar e controle de peso são apenas alguns dos benefícios que a corrida pode trazer para as grávidas, além da diminuição dos níveis de glicose, o que evita a diabetes gestacional. De acordo com estudos realizados pelo American College of Obstetricians and Gynaecologists, o exercício tem riscos mínimos e pode ser muito benéfico para a maioria das mulheres. Portanto, assim que o exame der positivo, a futura mamãe deve avisar ao seu médico que corre regularmente e fazer algumas adaptações para os meses seguintes.
Ainda que a gravidez esteja associada a mudanças no corpo e no organismo da mulher, o exercício praticamente não apresenta riscos e tende a trazer benefícios para a maioria das atletas. É um momento que exige atenção e cuidado, mas isso não significa que a gestante precise abandonar a corrida. Na verdade, esse tipo de atividade física traz até muitos benefícios para a mãe e para o bebê que está chegando.
"A corrida gera liberação de endorfina, o que traz prazer e tranquilidade à grávida, deixando-a mais leve, menos preocupada ou ansiosa. O bebê, por sua vez, também se beneficia disso, pois acaba desenvolvendo mais tolerância ao estresse, tem melhor evolução neurológica e menos gordura", diaSérgio Kobayashi, obstetra e membro da Associação dos Médicos da Escola Paulista de Medicina.
O primeiro trimestre da gestação é geralmente considerado de risco. O corpo da mulher está se adaptando às novas demandas energéticas, e ainda é uma fase em que ocorre uma espécie de seleção natural, que interrompe diversas gestações em detrimento do sucesso de outras. O fato de ocorrerem abortos naturais nesse período é o que justifica a cautela e o medo de muitos médicos. Logo, é comum que muitos optem pela suspensão da atividade física para proteger a mulher e minimizar o risco na gestação.
"Imagino que se trata da referência que esses profissionais têm com relação à prática desportiva, na maioria das vezes nula", disse a educadora física Mariana Brito, do Projeto Mulher. Ela explica que é essencial ter acompanhamento e autorização médica para a prática esportiva no período de gestação, mas que ainda é muito comum as mulheres interromperem os exercícios assim que descobrem que estão grávidas. "O mais curioso é que muitas vezes é uma prescrição médica, independentemente da existência de qualquer risco à gestação. Se o seu médico proibir por proibir, ou seja, por princípio, mude de médico porque praticar atividade física é muito saudável e, a menos que sua gestação seja de risco, nada justifica suspendê-la."
Geralmente, são facilmente detectáveis no pré-natal quaisquer patologias que possam pôr em risco a gravidez, como placenta prévia, sangramento, aumento da pressão arterial. Mas as corredoras grávidas devem já esperar por algumas mudanças, se optarem por manter uma rotina de treinos no período de gestação. "A performance diminui drasticamente. Ou seja, há mais cansaço, comparado com a fase anterior à gravidez. Mas dores nas pernas não são comuns por causa da corrida, e sim como alteração comum às grávidas", comenta Roberto Ranzini, ortopedista e médico do esporte filiado à Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.
Ranzini chama atenção para o fato de as mulheres serem mais suscetíveis a lesões nos membros inferiores; quem já tem problemas, como a condromalácea, deve redobrar os cuidados por causa do aumento de peso, atingindo principalmente a coluna e os joelhos. "Outra lesão relativamente comum nas grávidas que treinam corrida é a pubalgia. Mas o alerta máximo que se faz é para qualquer dor, desconforto, falta de ar, tonturas. Atletas costumam ter maior resistência à dor; nesta fase, no menor sinal de alteração, deve-se parar e procurar orientação com o médico.

O QUE FAZER. O primeiro passo é consultar uma junta médica. Uma vez liberada pelo ginecologista e pelo cardiologista, é preciso seguir alguns cuidados, como deixar de lado a performance, nada fazendo de longos, tiros e fartleks. O ideal é correr distâncias curtas, de no máximo 10km, em ritmo leve. Corredoras com lesões preexistentes devem ter cuidado redobrado e manter a consulta ao ortopedista e as visitas ao fisioterapeuta em dia.
O primeiro trimestre muitas vezes é a fase mais delicada, uma vez que a taxahormonal fica elevada e o organismo está absolutamente adaptado àquele esforço físico. Mulheres atletas podem e conseguem treinar sem nenhum risco durante os nove meses de gestação. Já as que realizam exercícios esporádicos devem manter atividades de baixo impacto e intensidade leve. Mas as que estão habituadas aos treinos com regularidade elevada podem seguir normalmente, desde que o obstetra descarte condições de risco.
Próximo do sexto mês, a indicação é reduzir ainda mais o ritmo e, a partir da 34ª semana, a corrida pode ser trocada por outra atividade, de menor impacto, como a hidroginástica. Sobre o momento de parar, varia de mulher para mulher. Háas que correm até poucos dias antes do parto e outras que param mais cedo, mas, em média, o sétimo mês é um momento em que muitas escolhem se afastar da corrida. "É preciso ficar atenta aos sinais que o corpo dá. Deve-se parar quando aparece o desconforto", orienta Mariana Brito.

ATÉ O 8º MÊS. Foi assim com a dentista Karina Brandt, 40, mãe pela segunda vez aos 35 anos, que correu até o oitavo mês da gestação. Ela se afastou das corridas por conta de uma dor no nervo ciático, muito comum em mulheres grávidas devido à alteração do centro de gravidade e do peso extra na região pélvica. Durante a gestação, Karina não participou de nenhuma prova, e os treinos leves não ultrapassaram os 10km. Retomou as sessões de qualidade após três meses do parto.
A primeira prova oficial depois da chegada do Daniel demorou seis meses para acontecer. "Meu bebê nasceu com quase 5kg, era uma barriga enorme. Mas jamais senti desconforto e segui treinando durante a gestação. Considero, entre os benefícios, o psicológico como o mais forte nesse período. Correr é um momento de terapia para mim. Mas se minha médica, em qualquer momento, dissesse ‘pare, você está colocando em risco o bebê', eu pararia na hora", afirma Karina.

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