Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (224)

Corra mais livre

Seu intestino não é um reloginho? Tem épocas que você fica dias e dias sem ir ao banheiro? A sua pele está feia com acnes ou seu abdome está inchado? Calma, isso não é uma propaganda de iogurte ou de remédios para livrar o seu intestino da prisão, problema que atinge cerca de 20% dos brasileiros. São, de fato, sintomas de quem sofre com a popularmente conhecida prisão de ventre. Tá certo que ir ao banheiro não é exatamente um assunto dos mais agradáveis. Mas não ir, sem dúvida, é uma verdadeira roubada. E a solução para isso pode ser mais simples do que tomar remédios ou um potinho de iogurte por dia. Basta incluir a corrida pelo menos três vezes por semana entre as atividades do dia-a-dia.

Isso porque segundo estudo publicado no American Journal of Medicine o exercício alivia os sintomas daquelas pessoas que não vão ao banheiro, sofrem com gases, além de diminuir os riscos do câncer do colo intestinal e da formação de pólipos (uma espécie de tumor) no intestino. Por isso, para prevenir, ou mesmo melhorar, e evitar os desconfortáveis sintomas do intestino preso -como dores abdominais, cólicas e sangramento durante a evacuação-, a corrida, aliada a uma boa alimentação, é um santo remédio.

A mudança de hábitos é o primeiro passo para colocar seu intestino em ordem. Mas, por mais simples e saudável que essa solução pareça, ela é dificilmente a decisão tomada pelas pessoas quem têm dificuldade de ir ao banheiro. E são os números que comprovam. Entre 90% e 95% dos casos de intestino preso estão relacionados ao sedentarismo, dieta com pouca fibra e baixa ingestão de líquidos. Só entre 5% e 10% dos problemas estão associados a doenças do intestino ou sistêmicas, como o diabetes, dizem os especialistas. Muitas pessoas acham normal ir ao banheiro apenas uma vez por semana, mas isso está errado. Alguém que não evacue a cada 48 horas tem o intestino preso e deve corrigir seus hábitos.

Mais corrida, menos prisão. O uso da atividade física aeróbica para combater os problemas intestinais despertou interesse do governo canadense que desenvolveu um programa que recomenda a prática de atividades físicas para melhorar sintomas do intestino preso, gases e de prisão de ventre. Assim, realizando atividades como a corrida com regularidade, as pessoas evitam o uso de medicamentos e conseguem adaptar o intestino às necessidades fisiológicas.

Tudo seria fácil se ainda não houvesse um agravante: a vergonha em se falar no assunto. Principalmente entre as mulheres, que, segundo médicos, são as que mais se queixam em não conseguir usar o troninho com regularidade. "Morro de vergonha do meu namorado e até das amigas. Quando viajo chego a ficar três ou quatro dias sem ir ao banheiro", diz Mara Clara que corre há quatro anos, mas prefere nem dar o sobrenome. Ela afirma que, em viagens com o namorado, "fazer o número dois" é praticamente impossível. "Quando corri a Meia-Maratona de Paris, em 2006, tive tanta dor de barriga durante a prova que parei em um banheiro químico no meio da prova e foi muito pior do que fazer no hotel. Há três dias estávamos na cidade, no mesmo quarto, e eu não conseguia ir ao banheiro. Durante a prova a vontade veio".

Isso acontece, segundo o estudo da publicação norte-americana, porque os movimentos que a atividade física promovem no corpo humano estimulam o intestino e parecem ser o elemento chave para a melhoria da atividade intestinal. Ainda há situações bioquímicas originadas pelas positivas adaptações que o corpo ativo tem em relação ao sedentário, o que explica os motivos pelos quais a atividade física ajuda no funcionamento intestinal.

Para Daniel Magnoni, nutrólogo do HCOR (Hospital do Coração), com a corrida o atleta aumenta o metabolismo do corpo e a movimentação de fezes no intestino, já que existe uma melhora total no funcionamento dos sistemas e órgãos. "O organismo torna-se mais eficiente e com a corrida o intestino funciona melhor".

Por que com elas? Que as mulheres são as mais afetadas pelos problemas com intestino preso, a maioria dos médicos concordam. E, apesar de ainda não existir nenhum estudo que comprove tal afirmação, estima-se que no Brasil elas sejam afetadas na ordem de 1,5 a 2 vezes mais do que os homens.

Segundo o médico Renato Romani, professor do Cemafe (Centro de Estudos da Medicina da Atividade  Física e do Esporte) da Unifesp, há uma forte relação entre o intestino preso e as mulheres, porém não há claramente uma causa para isso. "Há sempre uma correlação com hábitos alimentares ruins, falta de horário intestinal (tempo para ir ao banheiro), pouca hidratação e falta de exercícios". Além do fato da mulher ter mais vergonha para admitir uma necessidade fisiológica do que o homem.

Sim, pode-se culpá-las pelo excesso de discrição. A mulher não gosta de banheiro coletivo, de escritório, muito menos daquelas casinhas verdes que ficam na largada e na chegada das provas. E se a vontade vem o que elas costumam fazer? Segurá-la. O perigo é que, se isso acontece regularmente, o intestino se adapta à teimosia feminina e passa a esperar um acúmulo cada vez maior de bolo fecal para só então disparar o sinal de que chegou a hora.

Para isso, a solução -que vale para homens e mulheres- é escutar os apelos  do intestino. Educá-lo a se manifestar todo dia no mesmo horário, ensinam os médicos, é uma boa alternativa. Um pouco depois do café e antes daquela corrida matinal você pode "programar o serviço", no conforto da sua casa. Basta separar cerca de 10 minutos, sempre naquele horário desejado, e sentar no vaso esperando que o intestino funcione. Nesse momento é possível se distrair com uma revista, um livro, enfim, para dar tempo ao seu corpo. Se nos primeiros dias não funcionar, não desanime: reeducar seu organismo demora, mas é bem melhor do que sair, no meio da corrida, atrás de uma moita amiga.

A alimentação ajuda. De fato, o consumo de alimentos eficientes e fontes de fibra, como os tais iogurtes, podem ajudar na melhora do intestino preso. De acordo com a nutricionista Cibele Crispim, da RG Nutri, na maioria dos casos o principal fator por um intestino preso é o erro alimentar. "As fibras alimentares são esponjas que absorvem água e formam o bolo alimentar (fezes). Encontramos essas fibras em saladas, frutas, verduras, cereais como granola e aveia".

A nutricionista também ressalta que, quem não ingere uma quantidade adequada de água por dia (cerca de oito copos), o bolo alimentar já chega ao intestino grosso com uma consistência ressecada. E é exatamente no intestino grosso que se dá a maior absorção de água pelo tubo digestivo, ou seja, as fezes vão ficar ainda mais secas, diz.

E se correr ajuda a soltar o intestino e o consumo de alimentos ricos em fibras também, Cibele alerta para um erro comum entre os atletas: alimentação exagerada antes de treinos e competições. "Não se deve fazer isso porque o intestino pode funcionar durante a realização da prática esportiva". A alimentação atua de forma muito efetiva no funcionamento do intestino. "Alimentos podem retardar ou acelerar o esvaziamento do trato digestivo", explica Magnoni.

Mas as fibras podem e devem fazer parte da alimentação no dia-dia. Duas frutas funcionam como laxante natural: o mamão papaia e ameixa. "E é sempre bom ingerir muita água, senão a esponja fica seca e prejudica no funcionamento da digestão". Além disso, outros alimentos podem ajudar a melhorar o funcionamento do intestino. Veja como adequar seu cardápio para o bom funcionamento do organismo:

Atividades físicas: pelo menos três vezes por semana, no mínimo 40 minutos

Fibras solúveis: aumentam o bolo fecal. Estão presentes em farelo de aveia, leguminosas frescas e secas como feijão, grão-de-bico, fava, lentilha e soja, frutas com casca ou com bagaço (laranja, mamão, pêra, uva, figo, ameixa fresca, mexerica, abacaxi, banana-prata etc) e frutas secas.

Fibras insolúveis: Além de aumentarem o bolo fecal, evitam a reabsorção da água pelo intestino. Estão presentes em cascas e cereais integrais, farelo de trigo, alface, acelga, agrião, aipo, escarola, espinafre, nabo, repolho, rabanete, cenoura, mostarda, brócolis e pimentão, por exemplo.

Laxantes naturais: ameixa, mamão e tamarindo são os principais alimentos com substância laxativa que não é prejudicial ao intestino. Por isso podem ser consumidos regularmente.

Sementes oleaginosas: promovem a lubrificação intestinal. Nozes, avelã, amêndoas, castanhas, amendoim e pistache são as principais.

Colaborou Felipe Aragonez Benevides.
Nanna Pretto é editora da agência GAPconteúdo.

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