por CLEBERSON YAMADA | @clebersonyamada

O atletismo é diverso e dinâmico. Apesar de aqui no site se falar mais sobre corrida de rua, sabemos que ela é apenas uma parte dentro do universo do atletismo, que tem na pista as provas de saltos, marcha, barreiras, obstáculos, velocidade, meio-fundo, fundo, arremessos e lançamentos, além da marcha de rua e do cross-country.

Temos aqui por fim esclarecer aos leitores o quanto todas estas vertentes estão interligadas e interdependentes. Ao meu ver, não resta dúvidas de que um bom corredor de rua se forja na pista. Quase todos os grandes maratonistas iniciaram em provas de pista e levaram anos para decidir avançar em direção à maratona. Lembrando que a maioria dos bons maratonistas fazem grandes marcas após os 30 anos de idade, inclusive e principalmente os amadores. Alguns nomes que podemos citar no Brasil são Marilson, Ronaldo, Vanderlei, Daniel, Paulo, Adriana e por aí vai. Se falarmos do mundo afora, podemos citar Haile, Bekele, Eliud, Sifan, entre tantos outros grandes destaques. Todos iniciaram as carreiras na pista. Foi assim com todos os últimos grandes campeões de maratona e, cada vez mais, esse diferencial será evidenciado. Aprender barreiras, saltos de todos os tipos e lançamentos também pode ajudar muito. E por que será?

Há quem diga que educativos de corrida não servem para nada. Vamos então a alguns argumentos que podem contrariar essa ideia. Educativos para crianças e adolescentes que ainda têm as conexões neuromusculares em formação certamente fazem um diferencial na economia de movimento e energia. Seria como aprender fundamentos de basquete, vôlei, futebol etc. 

Aprender corretamente previne lesões de esforço e repetição, além de proteger as articulações a longo prazo, fortalecer e aumentar a capacidade mental (importantíssima para a alta performance). A pista ensina diferentes experiências e noção de ritmo, de estratégia e de base de velocidade para provas mais longas.

Para adultos, a mudança causada pelos educativos é menor, pois se sabe que precisamos de “8 mil movimentos CORRETOS” para provocar uma mudança substancial. Se você inicia tarde e é viciado em movimentos errados, certamente será mais complicado, mas nem por isso deve se deixar de executar ao início dos treinamentos.  Pouca mudança positiva sempre será melhor que nenhuma mudança. Serve para ativação muscular dos grupos envolvidos e fortalecimento. Serve para variar intensidades e controle da FC numa sessão para treinadores experientes. E, aos que não ficaram satisfeitos, os educativos finalizam e complementam o aquecimento. 

Só vejo uma ressalva: Se você não sabe a teoria em torno dos educativos, não sabe a execução correta e não sabe por que utilizar, concordo que não serve para nada. Talvez até atrapalhe. 

A corrida tem uma técnica própria e temos estilos pessoais (e ninguém deve falar de mudar estilo pessoal), mas ainda assim trabalhados com técnica. Você poderá entender melhor se um dia se inscrever para a disputa de uma Copa Brasil Master (ou torneios FPA) e correr 800m, 1500m, 3000m com obstáculos ou 5000m. Experimente um dia, certamente será uma emoção diferente.

Caso pense em iniciar seus filhos neste esporte, busque por projetos de atletismo com treinadores de pista para iniciar com volume correto e com técnica de corrida para que possam passar por todas as etapas, sem atropelos e sem queimar fases. 

A rua é democrática, desafiante e emocionante. A pista é clássica, técnica e detalhista.

Em ambas a diversão é garantida, mas iniciar cedo com fundamentos corretos é primordial.  Certamente dará a base para um futuro longevo e com resultados mais duradouros.  E disso falaremos por aqui. Na próxima, vamos falar sobre o porquê dos 42.195m. Ah,  os britânicos!

Fotos: CANVA

Cleberson Lopes Yamada é treinador de atletas em Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais; especializado na Universidade de Leipzig, na Alemanha; comentarista de Atletismo da Bandsports.

Instagram: @clebersonyamada