20 de setembro de 2024

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Especial admin 12 de outubro de 2014 (0) (103)

A dura rotina das mães corredoras

Pode-se dizer que manter a disciplina na rotina de treinos e ser uma boa corredora não é tarefa fácil. Junte-se a isso ser mãe de quatro filhos e cuidar de tudo – tudo mesmo – o que diz respeito à rotina domiciliar, e a tarefa torna-se quase que impossível. Mas não para Cláudia Dexheimer, de 43 anos, que concilia corrida, natação e ciclismo com a tarefa de cuidar da casa e dos filhos.
"Minha prioridade sempre foi a educação deles. Meu objetivo é fazer com que sejam fortes para encarar a vida. O tempo passa muito rápido e precisamos cuidar do nosso bem maior, que é a família. Lavo, cozinho, faço faxina, levo no colégio, estudo com eles e sempre que posso ponho o tênis e vou correr. Quase sempre isso acontece quando os mais novos estão no colégio", revela Cláudia, referindo-se aos gêmeos de 8 anos.
Cláudia começou a correr há 13 anos e desde então já fez todos os tipos de provas, inclusive maratona. Também completou um meio Ironman. Muitos não acreditam que uma mãe de quatro filhos possa ser desportista. Mas a verdade é que é preciso uma disposição fora do comum. Há quem se canse só em saber como é a rotina de Cláudia.
"Só fiquei sem correr na gravidez dos gêmeos, mas caminhava todos os dias. Às vezes saio de madrugada para pedalar, mas geralmente meu dia começa às 6h. Preparo as coisas na cozinha, depois acordo os gêmeos, estudo com eles, dou almoço e levo para o colégio. Quando chego em casa, espero os dois mais velhos almoçarem e arrumo a cozinha. Coloco a roupa na máquina, passo pano na casa todos os dias. À tarde ainda tem que sobrar tempo para a corrida. Quando não consigo, os mais velhos acabam cuidando dos mais novos para eu treinar em outro horário. O segredo é organização e administrar bem o tempo."
Nem sempre foi assim tão fácil, se é que se pode chamar esta rotina de fácil. A atleta hoje pesa 53 kg, mas chegou a 82kg na gravidez e no pós-parto dos gêmeos, quando teve que deixar as corridas de lado."Mas quando parei de amamentar, voltei com tudo e em dois meses já havia perdido 26 kg. Tenho muita força de vontade e apoio dos meus filhos. Quando eles me veem muito estressada, logo perguntam se já dei minha corridinha. O mais velho faz jiu-jítsu e me acompanha em alguns treinos", diz a atleta, que tem o apoio do marido.

NEGOCIAÇÃO. Formada em Educação Física, a empresária Rita Cunha reforça a tese de que é preciso valorizar a família e negociar com os filhos a melhor maneira de manter a planilha em dia. Isso sem contar com a organização do tempo e das obrigações em casa e no trabalho."A maior dificuldade é a falta de tempo. Trabalho nove horas por dia, tenho dois filhos e marido. Meu tempo é todo cronometrado. Deixo as crianças na escola e vou treinar. Corro pra casa e vou trabalhar. Chego em casa às 21h. Ou seja, se não me exercitar de manhã, já era", conta Rita, que começou a correr aos 30 anos e trabalhou com Educação Física nos sete anos em que morou nos Estados Unidos.
Mãe de gêmeos, Rita sabe que eles são a prioridade e isso interfere na qualidade e no volume de treinos."Se tenho médico, não posso sair para correr. Se preciso fazer as unhas, também não posso treinar. É sempre uma coisa ou outra porque, depois que chego no trabalho, é impossível sair no meio do dia. Nos fins de semana também não tenho tempo. As crianças querem atenção total. Os filhos entendem que o esporte é importante pra mim, até porque eles foram criados nesse ambiente, mas eles não gostam que os deixe em casa num sábado ou domingo para treinar. Já nos vemos tão pouco durante a semana, que realmente prefiro ficar com eles."
A empresária já tentou fazer da prática esportiva um programa de família. Ainda não conseguiu e não vê a hora de os filhos crescerem para compartilhar as passadas com ela."A corrida me faz feliz, me torna uma pessoa melhor e isso é bom para toda a família, principalmente na TPM. Sendo mãe ou não, sempre temos que ter criatividade para não esmorecer. Trotar por outros caminhos, focar uma prova, coisas assim. Meu marido não gosta de corrida, minha filha ainda não sei, mas meu filho ama sair trotando comigo pela orla de Niterói no fim de semana. O pessoal fica todo olhando. Acho isso um barato."

ROTINA AJUDA. A jornalista Elisa Torres, 41 anos, é novata no cenário do pedestrianismo. Começou a correr com a MD Runners em 2012 e confessa que conciliar treinos e filhos (são dois, um de 5 e uma de 7 anos) não é para qualquer mulher. "Ainda tem o marido e o trabalho todos os dias, mais um plantão de fim de semana uma vez por mês. No meu caso, a melhor opção é seguir a planilha do preparador físico, já que ele sabe a minha rotina e direciona as minhassessões levando isso em conta", diz Elisa, que ficou parada por sete meses por conta de uma cirurgia.
Como a corrida é uma conquista recente, Elisa ainda não faz os longões que exigem ficar algum tempo nas ruas; mesmo assim luta para mostrar aos filhos a importância do esporte."Pela minha planilha hoje, os percursos mais longos têm 8 km, que faço em no máximo uma hora. Estou procurando mostrar a importância desta atividade na minha vida, mas eles ainda demandam atenção e não entendem muito bem", explica a jornalista.
Quando se tem filhos pequenos, o segredo, segundo Elisa, é estabelecer uma rotina e ser fiel a ela, o que nem sempre é fácil. É nessas horas que um pouco de criatividade ajuda a não perder o ritmo."Nem eu sei como consigo cuidar dos filhos, trabalhar e correr. É preciso disciplina para cumprir a rotina. Treino ouvindo música e sempre mudo a playlist. Agora estou tomando gosto em sair da esteira, e mudar sempre o cenário é um estímulo a mais", diz a jornalista que já pensa em fazer provas de montanhacomo forma de inserir a família em sua rotina de corridas, algo que ainda não conseguiu.

MARIDO TREINADOR. Casada com o treinador e atleta Marcos Hallack, com quem trabalha numa assessoria esportiva de Juiz de Fora, Carolina tenta conciliar o dia a dia de exercícios e trabalho com os cuidados com o pequeno Davi, de 5 anos. Ao contrário do que se possa imaginar, ter um marido atleta e técnico nem sempre ajuda. "Com certeza minha maior dificuldade é deixar o Davi com alguém para eu me exercitar, já que a prioridade é sempre do Marcos, que é atleta profissional", conta ela, que corre desde 2006 e ano passado fez sua primeira maratona.
Carolina também participa de triatlo e ainda não se viu obrigada a deixar os treinamentos um pouco de lado por conta do filho, mas confessa que na fase preparatória para a maratona sentiu dificuldades para encaixar os longos em sua rotina. "As corridas de 20 a 32 km eram feitas aos sábados, e depois nãohavia força para mais nada. Só queria dormir, mas precisava cuidar das coisas do Davi. Por esse lado, ter um marido atleta e preparador físico ajuda muito. Ele foi muito companheiro para que eu atingisse meu objetivo."
Davi ainda é muito novo, mas já começa a entender o quanto o esporte é importante na rotina de toda a família. O que, segundo Carolina, não significa que ele dispensa os cuidados e sua atenção de mãe. "Cansada ou não, tenho que estar sempre disposta a brincar com ele e cumprir minhas obrigações. Não é fácil, mas amo ser mãe, amo treinar, amo cuidar da casa e do nosso trabalho. Então as coisas fluem bem."

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