Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (117)

A corrida unindo casais

A corrida facilita o encontro de duas pessoas com interesses em comum – a começar pelo esporte – e a convivência diária nos treinos permite que se conheça bem o (a) pretendente, antes de dar o primeiro passo rumo ao namoro.  "O bom de treinar junto é que não tem joguinho, aquela coisa de demorar pra ligar, porque você já vai encontrar a pessoa no outro dia mesmo, de qualquer jeito", diz o analista de marketing Charles Schweitzer, 27 anos, que conquistou a arquiteta Sandra Lopez, 36, entrando em seu grupo para uma corrida de revezamento.

A primeira vez foi em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, quando ele foi escalado para a equipe que tinha Sandra como capitã. Assim que a viu, Charles ficou interessado e deu um jeito de viajar no mesmo carro que ela e de dividir o mesmo quarto. Mas o namoro começou só na segunda tentativa, em uma prova de revezamento em Bertioga, no litoral paulista. "Eu tinha casa lá, então ficou mais fácil", conta Charles. "Queria encontrar alguém que tivesse o mesmo pique que eu."

Sandra lembra que o namoro começou há mais de um ano e meio, quando ela resolveu trocar o ambiente fechado da academia pelos treinos de corrida, ao ar livre. "Na academia eu ia, fazia minha aula e ia embora. Até na área de musculação, a mais social, cada um vai num horário, é difícil se encontrar. Eu queria conhecer gente nova, então fui pra corrida. Apesar de o meu irmão (Diego Lopez, da Trilopez) ser personal trainer, eu nunca tinha tido interesse em correr. Mas adorei, e vi que tem uma parte social legal. Não fui pra procurar ninguém, mas estava em uma fase livre e achei que poderia acontecer", conta. "Na equipe você acorda junto na madrugada de sábado para treinar, discute resultados, participa de palestras e eventos fora do dia de treinos. Na academia, não se encontra muito", completa Charles.

Treinador e cupido

Atividades em grupo, corridas de revezamento, viagens. Nesta etapa inicial do relacionamento, os esportistas contam com a ajuda fundamental das equipes. Muitas oferecem até desconto para casais. E os técnicos, responsáveis por orientar, montar planilhas, supervisionar rendimento nos treinos e provas, acabam assumindo outra função: a de cupido.

"A gente sabe quem é solteiro e quem é casado, quem está interessando em quem, porque os alunos acabam comentando. Se a gente percebe que tem meio caminho andado, dá uma força na formação das equipes ou se tem uma viagem, acerta o grupo no que dá pra ajudar", afirma Ronaldo Martinelli, da 5ways. "Ou ajuda a separar, se sabe que um não está afim, porque a gente também não quer deixar ninguém desconfortável", completa.

Seu trabalho como cupido foi tão longe que ele acabou sendo padrinho de casamento de dois de seus clientes. A dentista Lícia Oliveira e o engenheiro Fabiano Marques tiveram várias chances de se encontrar. Freqüentavam a mesma academia, passavam férias na mesma cidade, tinham amigos em comum. Mas foi na assessoria esportiva que se conheceram, há três anos. Casaram-se há um ano e agora treinam diariamente juntos, de 2 a 3 horas, se preparando para uma prova de Ironman.

"Eu imaginava que conheceria alguém que fosse esportista porque um relacionamento anterior meu terminou porque ele não era esportista, e quando você gosta e se compromete com a atividade, a outra pessoa também tem que fazer", afirma Lícia. Fabiano concorda. "A gente fica mais tempo unido treinando do que em casa. Fica muito mais fácil quando você está com alguém que faz esporte, porque não tem cobrança, ficar aquela coisa de ‘você prefere o esporte a mim'", avalia.

A corrida como desculpa

As assessorias não são as únicas responsáveis pela união de casais no esporte. Em muitos casos, os próprios esportistas, ao descobrirem o amor comum pela vida saudável, usam o treino como desculpa para marcar um encontro.

"Nós nos conhecemos através de uma amiga. Eu sabia que ele corria, então disse que minha treinadora estava montando uma equipe para a Volta à Ilha, em Florianópolis, e o convidei pra treinar com a gente", conta a analista financeira Elisângela Santos Vieira, 32 anos, casada desde o ano passado com advogado Fábio Renato Vieira, 32.

"Participamos de várias provas juntos e começamos a namorar. Em 2005, fui com ele para Paris, porque ele ia correr pela primeira vez a maratona. Lá, ele me pediu em casamento", lembra.

"Quando voltei, todo mundo queria saber se ela tinha aceitado. Desta vez, tive de mostrar as alianças de noivado antes da medalha que eu tinha ganho na maratona", brinca Fábio, contando que a viagem também inspirou Elisângela no esporte. "A gente se encontrou em todos os pontos indicados pela organização. Ela pegava o metrô e ia até um determinado local, que a gente já tinha combinado antes, pra se ver. Com isso, se empolgou, e quis participar da prova."

Este ano, o casal voltou à romântica capital francesa, desta vez para que Elisângela também fizesse sua estréia na distância. A história do casal está tão ligada à corrida, que até os bonequinhos que foram colocados como enfeite sobre o bolo de casamento mostrava uma noiva e um noivo de tênis, cruzando uma linha de chegada.

"É muito bom compartilhar sua atividade de lazer com a pessoa que você gosta. Além disso, um dá um gás ao outro quando bate o desânimo. Ainda mais a gente que trabalha até tarde e ainda treinou à noite para a maratona", afirma Fábio.

Interesses comuns

A ausência de cobranças é apontada como um dos principais benefícios para o casal esportista. "É importante ter alguém para entender essa história de viajar para correr. Entender que, se tem um treino maior no sábado de manhã, não pode sair na sexta à noite. Ou, se tem corrida no domingo, não dá pra sair no sábado à noite", explica o tradutor e DJ Reginaldo Mello, 41 anos, que há seis meses namora a gerente de marketing Karina Rocha, 32. Os dois se conheceram correndo e ela até mudou de equipe para poder treinar junto com o namorado.

Mello acredita que as assessorias são um bom lugar para se encontrar a "alma gêmea", por reunirem pessoas com o mesmo objetivo. "É melhor até do que academia, onde 90% das pessoas estão preocupadas com a estética. Nos treinos, não são aquelas garotas siliconadas ou os marombeiros. A prioridade de quem procura um técnico de corrida ainda é a parte cardiovascular, a saúde", acredita.

Encontrar um grupo que já passou por uma "triagem" e, assim, reúne pessoas com o mesmo objetivo, também foi o que mais agradou Cristina Massis. "É um grupo eclético, com um nível muito legal. Você cria um ótimo círculo de amizades", diz a gerente de restaurante de 37 anos, que conheceu o noivo Celso Lemes, 33, dono de uma administradora de imóveis, durante os treinos.

"Nós nos conhecemos literalmente correndo", lembra. "Acho importante ter alguém que goste do que você gosta, porque isso aproxima o casal e um motiva o outro. Eu, por exemplo, detesto acordar cedo, mas aí, ele me incentiva a levantar no sábado de manhã para ir aos treinos", afirma. O casamento de Cristina e Celso está marcado para o final deste ano e o treinador Aulus Sellmer, da 4any1, já foi convidado para testemunhar a união.

Correr: lazer do casal

Sem compromisso com tempos, o corretor de seguros Domingos Fernandes Neto, 57 anos, e a tradutora Maria Christina Fernandes, 56, aproveitam os treinos para se divertir. "Eu corro porque gosto e ela também. Então a gente treina junto, um incentiva o outro a sair para dar um trotinho. Não é como eu já vi acontecer muitas vezes, o marido estar se matando de correr lá na frente e a mulher lá atrás, na boa, ou vice-versa", avalia Domingos.

Para sair da monotonia, o casal experimenta percursos diferentes, em provas realizadas em São Roque ou no Aricanduva, fugindo do "circuito do bochicho", como define Domingos, e também nos treinos, como conta Christina. "Outro dia saímos correndo de nossa casa e fomos até o centro da cidade para ver um show."

O casal, que está junto há 14 anos (o casamento foi há 8 anos), considera a corrida como um momento a mais de convivência. "Para nós, correr é um lazer fundamental. Se ele jogasse futebol e eu, tênis, nós ficaríamos muito tempo longe no fim de semana. Com a corrida, temos um tempo nosso", conclui Christina.

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