POR DENISE AMARAL | @deniseamaral
A corrida nos leva a diversos lugares. Dizemos isso, né? Sempre temos aqueles lugares que gostaríamos de visitar, mas nunca organizamos a tal viagem. Até que uma maratona te dá aquele “empurrão que faltava”.
E, com 176 maratonas completadas, sempre alguém perguntava: “já correu na Grécia, no trajeto original da maratona?”
Então, finalmente me inscrevi motivada pelo aniversário de 40 anos da prova e pela homenagem que fariam ao Vanderlei Cordeiro de Lima, bicampeão dos Jogos Pan-Americanos, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e o único latino-americano a receber a Medalha Pierre de Coubertin, a maior condecoração de cunho humanitário-esportivo concedida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) após aquele incidente em que ele foi agarrado por um maluco no percurso da maratona das Olimpíadas de 2004 em Atenas.
Havia escutado que a prova “não era lá essas coisas”, tendo o charme somente devido à lenda do soldado Pheidippides, que saiu da cidade de Maratona e correu cerca de 40 km para relatar aos atenienses a vitória sobre Esparta, mais de 2.500 anos atrás.
E, o que eu observei nesta 40ª edição foi um espetáculo de organização.
A VIAGEM. A viagem para a Grécia tem os mesmos custos de outros destinos tradicionais da Europa e, ocorrendo em novembro, fora da alta temporada, encontram-se ofertas de voos e hospedagem, temperatura muitíssimo agradável, de 18 a 22 graus, e menos turistas.
No meu imaginário, as pessoas falavam alto, o trânsito era caótico e cheio de “lambretas” e as ruas abarrotadas. Talvez essa seja uma realidade nas famosas ilhas, mas fiquei agradavelmente surpreendida com ruas largas, atendimento gentil e tranquilo nos restaurantes e ao pedir informações nas ruas.
Ainda no aeroporto, um grupo recepcionava os maratonistas, tirava fotos e já indicava as melhores opções de transporte, como um ônibus direto do aeroporto ao centro por 5 euros, e outras informações sobre a prova.
A cidade tem muitas opções de hotéis e escolhi a hospedagem próximo ao Museu da Acrópole e da Praça Sintagma, pois de lá partem os ônibus da organização para levar os corredores para a largada na cidade Maratona.
A EXPO. A entrega do kit, no pavilhão construído para as provas de Taekwondo das Olimpíadas, tinha muitos stands de artigos esportivos e até a venda de medalhas comemorativas fabricadas pelo sul-africano Paul Selby, que já completou 710 maratonas e 22 Comrades!
A venda da medalha com 1 letra da palavra “MARATHON”, destacada na fita da medalha, num total de oito medalhas diferentes, uma por ano, aguardarão os corredores até 2027, para o 130º aniversário da primeira maratona moderna, quando, em 1896, o grego Spiridon Louis ganhou a medalha de ouro e se tornou uma lenda da atletismo grego e internacional, correndo da cidade de Maratona até o Estádio Panatenaico, em Atenas, no renascimento dos Jogos Olímpicos.
O kit para estrangeiros, por 120 euros, dava direito a uma bonita mochila e camiseta da Adidas, toalhinha, ticket para metrô/ônibus por 4 dias e ingresso para o Museu da Acrópole, que tem acervo, filmes e montagens que indicam como eram esses belos monumentos e a compreender melhor a história dessa civilização.
AS PROVAS. No sábado, às 17 horas, tivemos provas de 5 e 10 km, com mais de 25.000 corredores, com largadas em ondas (por que não fazem isso na São Silvestre?) e já foi possível observar a incrível organização que teríamos no dia da maratona.
Ônibus da organização levavam os maratonistas confortavelmente em ônibus de turismo até a cidade Maratona, a partir de 4 pontos da cidade para facilitar o acesso.
Ao desembarcar dos ônibus, você já encontrava os ônibus para entregar a sacola do guarda-volumes e você recebia uma capa plástica para se aquecer, confirmando o cuidado com os corredores e a incrível organização que teríamos em seguida.
Muitos staffs, extremamente gentis, vestindo uma linda jaqueta azul (por que não venderam um similar na Expo?), muitos banheiros químicos e a entrada para as 10 ondas extremamente organizada e sinalizada.
A largada acontece dentro do Estádio Municipal, onde encontramos a pira olímpica acesa, bandeiras de diversos países e a bandeira olímpica e um pedestal em pedra indicando o número 40 para representar o local da batalha vencida pelos gregos sobre os persas.
Ao largar, passamos pela área rural da cidade e muitos corredores pegavam galhos de oliveira, considerada uma árvore sagrada na Grécia e usada na coroa de folhas das Olimpíadas, e prendiam em seus bonés.
Água em garrafa de 500 ml, isotônico, gel, Coca-Cola, barra de proteína, bananas, esponjas e blue line durante todo o percurso.
A cada km podíamos ver as marcações em madeira, instaladas para a Maratona em 2004, além de sinalização com banners, no alto, facilitando a visualização.
O percurso é difícil, com um sobe e desce constante, com mais sobe do que desce, a partir do km 8 ao km 31 e uma suave descida até a chegada.
O tempo-limite é de 8 horas após a última onda e muitos corredores andavam despreocupados na ladeiras, talvez uma técnica daqueles que já conheciam o percurso.
Na chegada, o emocionante no Estádio Palateinaco, construído para os Jogos das Panateneias em homenagem à deusa grega Atena, em 329 a.C., ampliado em 140 d.C. e renovado para os Jogos Olímpicos de 1896 e 2004, com a pista tem forma de U e arquibancadas para 80 000 espectadores sentados.
Uma bonita medalha, uma ótima dispersão completaram a excelência da organização.
Vale muito colocar essa maratona na sua lista e conhecer a Grécia!
Após a maratona, as amigas no Brasil logo perguntaram se os corredores eram “deuses gregos”. Embora não tenha perdido a oportunidade de procurá-los no percurso, meu melhor Deus Grego, o Luiz Antonio, estava no Rio de Janeiro por me conceder um “vale run” para viajar com a amiga Elaine Jorge.
Denise Amaral tem 175 maratonas completadas ao redor do mundo, sendo 29 vezes só em Nova York. Primeira mulher no mundo a conquistar pela terceira vez a Six Star Medal Finisher @deniseamaral