Numa época em que as provas estão cada vez mais infestadas de aspirantes a fotógrafo, que querem fazer uso da própria câmera digital para registrar um momento especial de um amigo, um familiar ou até um corredor de elite em ação, resolvemos reunir aqui três profissionais especializados em corrida, que vão dar dicas de como se posicionar bem para registrar uma corrida e também de como tirar o maior proveito da sua câmera, seja ela uma simples máquina de bolso ou mesmo uma semiprofissional, daquelas com lentes intercambiáveis e tudo o que o mercado hoje disponibiliza de acessórios para o fotógrafo amador.
Muito provavelmente você pode estar se questionando sobre seu equipamento, que está muito aquém daquilo que seria necessário para captar imagens que realmente valessem a pena. Claro que ter na mão um produto de ponta pode fazer diferença, mas, numa era quase que totalmente digital, em que gastar rolos e rolos de filme em busca de uma boa foto é cada vez mais raro, bons equipamentos fotográficos, com uma grande variante de recursos, são lançados no mercado a todo momento e estão ficando bem mais acessíveis aos mais variados bolsos.
Você pode conseguir uma câmera digital de excelente qualidade por cerca de US$ 250 dólares (preço nos EUA). Se sua intenção é registrar alguns momentos especiais de corrida, viagens, reuniões com amigos e outras situações do dia-a-dia, esse investimento está de bom tamanho. No entanto, se seu interesse por fotografia vai um pouco além e você quer se aprimorar cada vez mais, aprendendo com acertos e erros, e quem sabe conseguir fazer da arte de fotografar um hobby dos mais interessantes e prazerosos, poderá ter que gastar um pouquinho mais, dispondo de valores entre US$ 700 a US$ 1.500 para adquirir algo na linha semiprofissional.
Mas, gastos e valores à parte, nossa intenção aqui não é de forma alguma fazer com que você entre na primeira loja de fotografia que encontrar e invista horrores num equipamento fotográfico. Pelo contrário, o que nós queremos é que você aprenda a tirar o maior proveito da câmera digital, fornecendo algumas noções básicas para não perder nenhum momento desse esporte mágico que é a corrida.
O EXPERIENTE TIÃO MOREIRA. Velho conhecido de todos os corredores, não há quem não saiba quem é Tião Moreira, que fotografa há 26 anos e pegou todo o crescimento da corrida de rua no Brasil. Mesmo em época de câmeras digitais, Tião demorou um pouco para entrar nesse meio de internet e fotografou por muitos anos com câmeras de filme. "Comecei a fotografar com uma Olympus Trip, que na época era a mais utilizada entre os fotógrafos. Tinha gente que fazia até casamento com essa câmera e dava para tirar fotos decentes", lembra Tião, que foi trocando e aperfeiçoando seu equipamento, mas só adquiriu sua primeira digital há 4 anos. "Um amigo ficava insistindo comigo, porque eu comecei a perder serviço também. Um dia ele me deu uma máquina na mão e disse: ‘leva pra sua casa e depois você me paga'", diz Tião, que, mesmo entrando no mundo das digitais, jamais perdeu sua característica de origem, que é o contato direto com o corredor. Além de se desdobrar para estar nos finais de semana em todos os eventos possíveis, todas as manhãs e finais de tarde dos dias de semana ele aparece no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, onde as pessoas o procuram para adquirir as fotos na sua forma mais tradicional, ou seja, em papel.
"Quando a pessoa pega a foto na mão, o impacto é outro. Ela até pode ter a facilidade de ter a foto na internet, mas muitas vezes fica muito perto de comprar e acontece alguma coisa que acaba deixando para depois." Para quem conhece tão bem e há tanto tempo todo esse mundo das corridas, até porque Tião também foi corredor, a dica inicial que ele dá aos amadores vai um pouco além dos equipamentos ou ajustes de câmera. "É preciso conhecer o percurso. Eu vejo muita gente perdida nas provas, e até fotógrafos, sem saber onde é largada ou a chegada. Isso é muito comum. Chegue um pouco mais cedo para tentar descobrir. Qualquer pessoa da organização tem essa informação", comenta Tião.
Outra dica que funciona bem para os fotógrafos amadores é marcar algum ponto do percurso com a pessoa que vai correr. "Se o marido, por exemplo, avisa para a esposa que vai chegar pelo lado direito, ela já pode se posicionar do lado correto. O ideal é até que perca algumas fotos antes com outro atleta, para acertar foco e posicionamento. Como as câmeras mais simples costumam ter um retardo (delay) da hora que você aciona o clique até o momento em que registra a foto, marque um ponto de foco, como uma árvore, por exemplo. Não tem erro. Pressione o botão até a metade para conseguir o foco e, quando o corredor passar por ali, é só clicar até o final ", ensina o profissional.
Por ter usado muito tempo câmeras de filme, Tião olha muito pouco para o LCD da câmera para conferir cada foto que clica. "Para quem faz inúmeras fotos num evento, isso tira a concentração do trabalho. Vejo vários fotógrafos fazendo isso direto. É preciso usar a digital a seu favor. Com ela, você pode bater várias fotos seguidas, errar e depois descartar o que não interessa. Com o filme, você era obrigado a acertar sempre. Por isso, não tenho muito esse hábito de olhar. Às vezes só checo a regulagem para ver se não está fora do que quero fazer."
VELOCIDADE CERTA. Já o fotógrafo André Chaco, do site WebRun, é um dos profissionais que já começou na era digital. Como dica padrão, Chaco alerta sobre a importância da alta velocidade na fotografia de esportes para que a ação seja congelada e a foto não saia borrada e sem nitidez. "Em corrida de rua, uso uma velocidade entre 320 e 400. Não acho legal muito mais que isso porque a pessoa fica muito congelada. Gosto de pegar um pouquinho do movimento dos pés ou da mão. Mas o tronco e a cabeça sempre ficarão bem nítidos na foto", diz o fotógrafo, alertando ainda que o modo "esporte" presente na maioria das câmeras que não são 100% automáticas cobre muito bem essa função, já atribuindo uma velocidade mais alta à câmera.
Para quem quiser ousar no momento do clique e experimentar coisas diferentes, Chaco dá a seguinte dica: "Acione o flash e baixe a velocidade para 60 ou 125. Quando a pessoa estiver passando, acompanhe-a com a câmera e dispare". Muito provavelmente você terá um dos efeitos mais legais em fotografia, chamado "panning", que é o objeto principal congelado, no caso, o corredor, e um fundo todo riscado.
PONTO DE VISTA. Para quem quer fazer boas imagens de corrida, tão importante quanto conhecer bem o percurso da prova e usar a velocidade para congelar a ação é saber explorar ângulos inusitados, que fogem do lugar-comum. Para o fotógrafo Ricardo Zinner, do Ativo.com, "raramente o chão diz alguma coisa". Por isso mesmo, ele quase não fotografa de pé e procura sempre um fundo mais limpo, como o céu, ou algo que forme grafismos interessantes.
Zinner começou a fotografar mountain bike em 1999 enquanto fazia curso de Fotografia no Senac. "Eu saía com vários rolos de filme, tinha que prever como estaria o tempo senão era um tal de "puxar o ISO" (ou ASA). Era preciso também trocar filme a cada 36 poses. Depois marcava as fotos selecionadas olhando com lupa na mesa de luz. Dava um trabalho! Hoje faço milhares de fotos sem me preocupar com isso", conta Zinner, que observa muito as condições climáticas para conseguir tirar o melhor proveito da situação. "Em dias nublados, evito mostrar o céu. Gosto bastante da chuva, que pode proporcionar situações interessantes. O sol de manhã cedo e do final de tarde são os ideais para a fotografia. Fica tudo fácil, mas infelizmente são raros os eventos que acontecem nesses períodos", diz Zinner.
Daí a importância de usar todos os recursos que a câmera oferece, como o flash, por exemplo, que, empregado de forma correta, pode ser um grande aliado para eliminar sombras indesejadas e até em situações de contra-luz. "Uso muito flash para ajustar a luz, congelar imagem, dar ênfase em algum ponto específico do enquadramento, eliminar sombras nos olhos e conseguir alguns efeitos", finaliza o fotógrafo, que compartilha da mesma opinião da maioria dos profissionais sobre aqueles que estão aprendendo a fotografar. Ou seja, o amador deve experimentar de tudo, até porque não tem por profissão a obrigação de acertar. Além do mais, como quase tudo na vida, é "errando" que se aprende.
NÃO ESQUEÇA…
…de deixar a bateria toda carregada para o dia seguinte.
…de levar baterias extras.
…de verificar se tem espaço no seu cartão de memória.
…de fazer backup do seu cartão de memória antes de fotografar qualquer evento. Se perder o cartão, é melhor que perca somente as fotos do dia. Por questão de organização, melhor do que ter um cartão de memória muito grande é ter vários cartões pequenos.
…de testar a câmera no dia anterior para relembrar os principais comandos e separar todo o equipamento que julgar necessário para o dia.
…de levar alguma capa ou guarda-chuva para proteger a câmera em caso de chuva.
…de usar sempre a alça cruzando o pescoço e não só no ombro.
FOTOGRAFIA DE "A" A "Z"
Abertura: É um sistema similar à pupila do olho humano, em forma de íris, que controla a quantidade de luz que chega ao sensor da câmera e também define a profundidade de campo. Quanto maior o número (como f/8 ou acima disso), menor a abertura de diafragma e maior a profundidade de campo. Os números menores (como f/2.8 e f/3.5) indicam aberturas maiores e menos profundidade de campo (fundos desfocados). A abertura e a velocidade do disparador controlam juntas a quantidade de luz que entra no sensor.
AE: É o modo de exposição automática em que a câmara estabelece tanto a velocidade do obturador quanto a abertura para obter a exposição ideal.
AF: É a sigla em inglês correspondente a "Auto Focus", que nada mais é do que o foco automático da câmera acionado por sensores infravermelhos.
Cartão de armazenamento: É a forma de guardar fotos utilizada pelas câmaras digitais. Pode variar de acordo com a marca da câmera. Mas em geral podem ser CompactFlash, Memory Stick e Smartmedia.
Objetiva: Uma objetiva normal (50 mm) é aquela que assume a mesma distância que você tem do objeto. As grande-angulares são as utilizadas para curta distância focal, quando você precisa abrir seu campo da cena (variam de 8 a 35 mm). Já uma teleobjetiva, ou meia-tele, tem o poder de trazer um objeto que esteja distante para perto de você. Quanto mais alto o número, maior alcance ela terá (como as 70-200 mm, as 300 mm etc.). As objetivas com função de macro permitem fotografar objetos muito próximos da câmera, como o detalhe de um chip de cronometragem ou mesmo uma medalha.
Sensibilidade (também conhecida como ISO ou ASA): As câmeras digitais têm um controle para o ISO ou podem também ajustar automaticamente, dependendo das condições de iluminação. Quanto menos luz no local, maior a necessidade de aumentar a ASA. Ajustes muito altos deterioram a qualidade da imagem, deixando-a mais granulada.
Velocidade do obturador: O tempo que o obturador permanece aberto enquanto uma foto é tirada. Quanto menor essa velocidade, maior será o tempo de exposição. A velocidade do obturador e a abertura do diafragma controlam a quantidade total de luz que chega ao sensor. Algumas câmeras digitais possuem um modo de prioridade do obturador que permite a configuração da velocidade de acordo com o seu gosto.
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