20 de setembro de 2024

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Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (76)

Uma para-atleta movida a superdesafios

Os médicos diziam que ela nunca mais voltaria a correr. Mas contrariando as expectativas dos profissionais, Amy não só voltou a correr como também passou a nadar e pedalar e começou a se destacar em provas de corrida e de triatlo. Hoje, aos 35 anos de idade e mãe solteira de dois filhos (Madilynn, de 3 anos, e Carson, de 4), Amy acumula uma série de recordes mundiais na categoria amputados, inclusive o de maratona, conquistado em 2006, quando correu Chicago para incríveis 3h04.

Seu primeiro contato com o esporte aconteceu ainda na infância, quando seu pai a levou para participar da sua primeira prova, aos 8 anos de idade. "Fui uma das últimas a chegar, mas segui adiante porque sabia que da próxima vez poderia fazer melhor. Foi ali que nasceu meu amor pela corrida", lembra Amy, que anos mais tarde começou a se destacar no esporte, nas provas de pista e de cross-country do colégio e depois também da faculdade.

A estréia nos 42 km aconteceu aos 19 anos, quando, depois de uma aposta, completou sua primeira maratona para 3h24, treinando de 3 a 4 vezes na semana cerca de 7 quilômetros por dia. Pouco antes do acidente, em 1993, ela bateu seu recorde pessoal na distância na Maratona de Boston, com 3h16.

O trágico acidente ocorreu em 1994 e, ainda que os médicos fossem unânimes em dizer que jamais voltaria a correr, um ano depois ela conseguiu finalizar a Maratona de Columbus, em Ohio, para 4h03, num desafio extremamente dolorido. "Meu pé estava atrofiado e tinha reduzido muito de tamanho. Comprei um tênis pequeno e, mesmo sendo muito desconfortável, consegui completar a prova."

Depois de várias tentativas de recuperar o pé com inúmeras cirurgias, em 1997 Amy teve sua perna amputada, o que na verdade foi para ela um alívio. "Eu sei que os médicos fizeram tudo o que podiam, mas para mim era muito dolorido", diz ela, que demorou ainda um pouco mais para conseguir uma prótese que a levasse de volta às corridas. "Eu até tentava correr uma vez na semana, mas como não era algo apropriado, acabei com uma infecção que resultou na perda de mais algumas polegadas do que sobrou da minha perna, o que no final das contas acabou também sendo favorável para suportar um pouco mais a sobrecarga da corrida."

Os títulos na nova categoria começaram a aparecer em 2005, quando foi campeã de uma meia-maratona em San Diego com o tempo de 1h57, grávida de cinco meses e ainda com uma prótese não apropriada. Foi nesse mesmo ano que aconteceu também sua estréia no triatlo, em Nova York, onde foi a 3ª colocada na sua categoria. "Competi com uma bicicleta emprestada", lembra ela, que resolveu apostar na nova modalidade para manter aceso um antigo sonho de um dia participar de uma Olimpíada. "Como atleta amputada, o triatlo seria minha única chance de um dia disputar uma Para-Olimpíada. Os eventos de corrida na minha categoria são provas em pista de 100 e 200 metros. Eu sou uma corredora de média para longa distância. Ainda que o triatlo seja um esporte de exibição nos Jogos, posso pelo menos continuar sonhando."

Apesar dos vários pódios que acumulava, não era difícil apostar que o talento natural para o esporte, aliado ao alto grau de determinação para a auto-superação, podia facilmente levá-la a alçar vôos ainda maiores. Foi aí que Amy entrou em contato com a A Step Ahead e, em 2006, começou um trabalho focado na sua deficiência, tendo a seu redor uma equipe de protéticos, fisioterapeutas e técnicos especializados em amputados. Três meses depois de ganhar uma prótese de corrida feita sob medida para sua perna, ela quebrou o recorde mundial de maratona em 27 minutos, finalizando a Maratona de Cleveland para 3h26. Mais cinco meses se passaram até que Amy quebrasse seu recorde pessoal e sua própria marca mundial (3h04 na Maratona de Chicago 2006), resultado que deu a ela o recorde norte-americano também na categoria masculina de amputados. No mesmo ano, Amy ainda bateu o recorde mundial de triatlo na distância olímpica, com 2h25, em Nova York 2006, e hoje acumula três títulos mundiais na modalidade.

No Ironman de Floripa. Seu mais recente resultado expressivo foi obtido em terras brasileiras, no mês de maio, em Florianópolis, lugar que a atleta escolheu para estrear na distância do Ironman (3.800 metros de natação, 180 km de ciclismo e mais 42,2 km de corrida). E, como não poderia deixar de ser, ela voltou para casa com mais um recorde mundial na bagagem, registrando a marca de 12h11 na distância total.

Para Amy, uma mulher movida a superdesafios, hoje não há nada no mundo que ela não possa fazer comparado à época antes do acidente. "Eu não me sinto diferente de qualquer um", diz a para-atleta, que sempre tirou forças da sua própria corrida para ultrapassar qualquer obstáculo que estivesse à sua frente.

Além do sonho de um dia poder participar de uma Para-Olimpíada, Amy não se intimida ao traçar objetivos um tanto quanto audaciosos: terminar uma maratona em menos de 3 horas, tornar-se a primeira mulher amputada a correr 100 milhas numa ultramaratona e conseguir se qualificar para o Mundial de Ironman, no Havaí, como atleta normal na sua faixa etária. Para ela, que se considera uma pessoa de sorte por ter tido uma segunda chance na vida ao sobreviver de um acidente, conseguir atingir essas metas é uma forma de atenuar a linha que separa uma pessoa normal de um deficiente. "É isso na verdade que nos limita", diz Amy. "Os recordes mundiais não acontecem se não tivermos a coragem de nos posicionar na linha de largada. Não podemos mudar o passado, mas podemos mudar o futuro. E para melhor. Mesmo depois de tudo, estou tendo a chance de ser a atleta que sempre quis ser."

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