POR FERNANDA PARADIZO
Com apenas 22 anos, a baiana Núbia de Oliveira, natural de Campo Formoso e residente no distrito de Flamengo, em Jaguarari (cidades baianas), tem conquistado resultados expressivos no atletismo. Apesar da pouca idade, ela disputa este ano sua terceira São Silvestre, trazendo a experiência de duas participações anteriores e um histórico de vitórias na temporada que a colocam entre as principais promessas brasileiras.
Núbia conheceu o atletismo nos Jogos Escolares de 2016. Seu professor de Educação Física a inscreveu em quatro provas – salto em distância, 100 m, 1.500 m e 3 km – e, surpreendentemente, ela venceu todas elas, sem nunca ter treinado antes.
Na época com apenas 14 anos, chamou a atenção do treinador, Antônio Ferreira, conhecido como professor Ferreirinha, uma referência na região, que comanda a Escolinha de Atletismo Flamengo. “Eu trabalhava em uma escola que, em tese, era adversária de Núbia. Tive a oportunidade de alavancar minha carreira com o atletismo nos Jogos Escolares. Implantei um miniprojeto e começamos a ganhar tudo. Dominávamos as competições, até que Núbia quebrou essa hegemonia. Eu vencia porque as meninas treinavam com dedicação. Para alguém ganhar delas, tinha que ser muito boa. E Núbia ganhou”, lembra Ferreirinha, que prontamente a convidou para representar sua equipe no Campeonato Baiano.
Núbia começou então a desenvolver o gosto pela corrida e passou a treinar todos os dias sozinha. “Ela treinava sozinha, sem orientação, porque eu não queria mandar planilha, que é uma grande responsabilidade. Isso acabou sendo bom para a formação dela. Rodava pouco, mas fazia seus treinos sozinha e ia muito bem.”
Naquele mesmo ano, viajou para a disputa do Campeonato Baiano com a equipe de Ferreirinha, onde viveu sua primeira experiência numa pista de atletismo. “Corri os 1.000 m e fiquei em 3º lugar. Foi uma prova diferente, nunca tinha corrido em pista. Fiquei insatisfeita com meu resultado, pois sempre fui bem competitiva e queria o 1º lugar”, lembra Núbia, que depois disso deu um tempo com os treinos e acabou perdendo o contato com o treinador.
Seu retorno à corrida aconteceu apenas em 2019. “Voltei a correr porque gostava muito. Entrei em contato com o professor Ferreirinha para pedir que me treinasse. Ele me convidou para passar uns dias na escolinha dele em Jaguarari”, lembra ela.
Esse convite marcou o início de sua trajetória como atleta profissional. Sob a orientação presencial do treinador, Núbia desenvolveu-se não apenas nas pistas, mas também em provas de rua e de cross-country, mostrando grande versatilidade.
Em 2020, ela viveu um marco em sua carreira ao conquistar a Copa Brasil de Cross-Country na categoria sub-20, disputada em Vitória, que a levou a representar o Brasil no Campeonato Pan-Americano da modalidade, no Canadá. “Foi minha primeira convocação para a seleção brasileira, e fiquei em 9º lugar na prova de 6 km”, relembra com orgulho. A partir de então, foi só acumulando conquistas.
Na São Silvestre, a atleta estreou em 2022, ficando em 10º lugar geral, sendo a quinta melhor brasileira. Em 2023, melhorou sua colocação, terminando em 9º lugar e como a terceira atleta do Brasil.
O ano de 2024 foi marcante para Núbia. Em fevereiro, foi bronze nos 10 km do Campeonato Sul-Americano de Cross-Country, em San Salvador. Venceu em maio a Golden Run, onde estabeleceu o recorde pessoal nos 21 km com 1:15:17.
No Troféu Brasil de Atletismo, disputado em junho, dominou os 10.000 m, conquistando o ouro num sprint final espetacular, uma de suas características, fechando a prova com 34:10 e recorde pessoal na distância.
Em setembro, foi pela segunda vez consecutiva ouro nos 10.000 m do Campeonato Sul-Americano sub-23, disputado em Bucaramanga, na Colômbia, além de prata nos 5.000 m. Garantiu ainda no mesmo mês o tricampeonato da Meia Maratona de Salvador e fechou a temporada de sucesso nas meias com vitória na fortíssima Venus Women’s Half Marathon, no início de dezembro, com o tempo de 1:15:21, consolidando-se assim como uma das melhores atletas atuais do país na distância. “Foi um ano incrível, pois consegui evoluir bastante, melhorei minhas marcas pessoais e alcancei os maiores objetivos que tinha traçado para este ano,” celebra.
Sobre sua preparação para a São Silvestre, a atleta destaca a experiência adquirida nas edições anteriores como trunfo para conseguir um bom resultado e quem sabe buscar um lugar no pódio.
“Fiz uma preparação baseada no percurso da São Silvestre, com muitas rodagens em subidas e descidas, estradas de chão, trabalho de força, tiros em rampas. Nestes dois anos que participei da prova, adquiri mais experiência e pude conhecer melhor o percurso. Acredito que me ajudará a fazer uma boa estratégia, e conseguir um resultado melhor”, conta a atleta, que segue uma rotina intensa, com treinos em dois períodos, sete vezes na semana.
“Pela manhã, treino às 5h e, à tarde, a partir das 16h30. O clima da região, sendo de caatinga, é muito quente na maior parte do ano, por isso treinamos bem cedo.”
Quando está em preparação específica para uma prova, Núbia conta que os treinos são feitos em três lugares: no povoado de Rego, onde morava, localizado em Campo Formoso, na Serra dos Morgados, onde faz treinos de altitude, e na escolinha de atletismo de seu clube, que fica em Flamengo, no município de Jaguarari. “Os percursos são sempre em estrada de chão ou na pista de atletismo, que é de pó de brita”, acrescenta a atleta.
Para o professor Ferreirinha, Núbia está pronta para surpreender no dia 31 de dezembro: “Seu crescimento é impressionante e sua capacidade de evoluir em situações de pressão a colocam em um patamar diferenciado”.
Amanhã, domingo (30/12) e véspera do grande dia, acontece a coletiva de imprensa da 99º Corrida Internacional de São Silvestre e Núbia é das atletas brasileiras convidadas para compor a mesa de entrevistas, junto com Kleidiane Barbosa Jardim e Mirela Saturnino.
