20 de setembro de 2024

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Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (373)

A evolução dos chips

No final da década de 1970, em uma prova tradicional como a São Silvestre, por exemplo, não existia cronometragem para todos. Aliás, para quase ninguém – apenas os 10 ou 15 primeiros colocados tinham seus tempos registrados pela organização. No início dos anos 1980, quando uma grande corrida reunia no máximo 1000 ou 1200 pessoas, surgiu o sistema de senhas. Funcionava assim: o atleta recebia um número de peito, feito de pano, e três papeizinhos plastificados. Um era deixado na largada, outra no meio do caminho e o último, na chegada. "Essas senhas eram colocadas em uma espécie de ‘espeto'. No final, tínhamos a ordem das senhas, o tempo cronometrado naquele ponto, digitávamos tudo no computador – lembrando que nessa época era uma máquina lenta, completamente diferente do que se tem atualmente – e cruzando as informações obtínhamos os resultados, depois de mais de 10 horas de apuração. Mas é claro que havia muito erro. De qualquer forma, foi uma evolução: do nada, passamos a contar com esse tipo de cronometragem estimada", conta Manoel Garcia Arroyo, o Vasco, diretor da Events, empresa que organiza grandes provas no Brasil, fundador da Corpore e um dos pioneiros em estrutura de corridas no Brasil.

O passo seguinte, já em 1986, para dar mais segurança ao sistema, foi criado um dígito para essas senhas. E em 1989 vieram as senhas em códigos de barra. Se isso representou um avanço, por outro lado trouxe um novo problema: a plastificação dificultava a leitura do código, o que só foi resolvido mais adiante com a confecção em papéis impermeáveis.

ENFIM, O CHIP. O mesmo fornecedor dos códigos de barras ofereceu aos organizadores de corrida a importação do chip (que nada mais é do que um circuito eletrônico colocado dentro de uma cápsula de vidro em formato de "grão de arroz", acondicionada em uma capa plástica). A tecnologia foi usada pela primeira vez em 1994, em uma prova de Campinas. "Não sabíamos como funcionava. O esquema de leitura tem que ser perpendicular ao solo. Nós fizemos paralelo. Funcionou parcialmente. Mais uma vez, no entanto, foi uma evolução e ficamos muito felizes", conta Vasco.

Algum tempo depois, Sérgio Muller, já com a ChipTiming, trouxe outra inovação: os tapetes de leitura. E nesse quesito também houve um bom progresso. "Hoje normalmente colocamos três fileiras de tapetes como medida de segurança, o que possibilita a leitura de 100% dos chips.

E o desenvolvimento da cronometragem seguiu adiante. A maioria dos equipamentos de agora utiliza tecnologia RFID (identificação por rádio freqüência, em inglês), que são dispositivos passivos (não possuem energia própria, ou seja, bateria) e requerem energia do próprio sistema.São várias as tecnologias usadas – vindas da Itália, África do Sul, Estados Unidos, Holanda -, mas a diferença entre os sistemas é basicamente o "núcleo" tecnológico do qual foi gerado. "Eles diferenciam-se pela freqüência que trabalham, pelo sistema de modulação para envio dos dados, entre outros detalhes. Porém o resultado final é o mesmo", fala Muller.

Para Vasco, não importa a forma que o chip tenha, mas a eficiência do sistema, que envolve aferição na largada, no meio e na chegada da prova e também back-up, entre outros detalhes.

Recentemente algumas provas estão usando a tecnologia americana da Ipico Sports, com dupla freqüência, embutida em um pequeno cartão de plástico, que representa maior rapidez na leitura. Sem dúvida, é mais um passo adiante. "Mas ainda está em fase de adaptação", avalia Vasco.   

Para Muller, no entanto, com essa tecnologia o índice de atletas que não têm seu tempo marcado na chegada é desprezível. E quando o tempo líquido é igual ao bruto (o que ocorreu com diversos corredores que utilizaram o chip Ipico na São Silvestre 2007), as razões apontadas são várias: "Atletas que não largaram adequadamente; posição de colocação do chip ou falha no sistema", enumera Muller.

O FUTURO DO TEMPO. Muito se tem falado de chips próprios e descartáveis. Seria esse o caminho na linha do tempo? Luis Aurélio Sampaio, sócio-diretor da ChampionChip no Brasil, empresa líder mundial em cronometragem, aposta que a tendência é, sim, o atleta brasileiro ter seu próprio chip, como já acontece em alguns lugares na Europa. Tanto que há planos de comercializar o "chip amarelo pessoal", que o corredor compraria (por um valor estimado de R$ 100) e poderia usar em qualquer prova cronometrada pela ChampionChip no mundo todo. "Há ainda a possibilidade de trazermos o chip de uma única utilização (descartável), que pode ser personalizado de acordo com os patrocinadores, e o corredor guardaria com uma medalha", revela Sampaio.

Experiente na organização das mais variadas provas, a Corpore também pensa em criar seu próprio chip, utilizando a tecnologia Ipico. "A cronometragem corresponde a um custo importante da inscrição da corrida. Ousaria dizer que é o equivalente ao preço da camiseta. Com um sistema próprio de cronometragem também ganharíamos mais autonomia. Mas temos que aprender e dominar o assunto, por isso o projeto de lançar um chip para ser utilizado nas provas Corpore talvez só se concretize em 2009", revela Edgard José dos Santos, diretor administrativo da entidade.

Renato Doldán, da Running Time, representante no Mercosul da empresa Winning Time, é outro que acredita que a tecnologia de cronometragem interfere no preço da inscrição para o atleta, pois possui elevado custo tecnológico e de pessoal. Em sua visão, a tendência é mesmo o atleta brasileiro adquirir seu próprio chip. "A mudança, no entanto, será gradual", acredita.

Para Vasco, o chip próprio não representa muita vantagem ao corredor, porque cada tecnologia exigiria um. Ou seja, se a prova fosse cronometrada pela empresa X, o atleta teria que ter o chip correspondente a ela; se fosse pela Y, seria necessário outro e assim por diante. "Chip não é único, como CPF. A pessoa tem que se cadastrar, fornecer seus dados e números para a organização, que assim validaria o chip", explica o diretor da Events.

Também existe uma corrente em favor dos descaráveis, que seriam mais baratos para o organizador – embora isso não se reflita necessariamente no custo da inscrição para o corredor. Quem aposta nesse segmento é Carlos Alberto Amato Balian, diretor da Tempo Certo. "Em um futuro próximo os chips devem vir junto com o número de peito e serão descartáveis", acredita ele que, aliás, tem familiaridade com os números de peito, já que confecciona o material para grandes provas, há muitos anos.

"O negócio não é ser barato, mas sim eficiente. O surgimento de novos sistemas de cronometragem traz vantagens para o organizador e, indiretamente para o corredor, pelo fato da concorrência estimular melhores preços e serviços", analisa Vasco. Para ele, a revolução dos chips seria a criação de um circuito de uso pessoal e identificação única (aí, sim, como um CPF), que permitiria que a pessoa pudesse ser localizada em qualquer ponto no qual estivesse, tal qual um GPS. "Viveríamos um grande Big Brother", brinca. Isso significa que você poderia ser localizado não somente em uma corrida, mas em qualquer parte do planeta. Quem estaria disposto a essa "coleira eletrônica"?

LEIA MAIS:

O funcionamento do chip

A eficiência da cronometragem em Chicago

A falha da cronometragem em Honululu

SERVIÇO

ChipTiming: www.chiptiming.com.br

ChampionChip: www.championchipbrasil.com.br

Runner Brasil: www.runnerbrasil.com.br/cronometragem.asp?ID=1

Winning Time: www.winningtime.it

Ipico Sports: www.ipicosports.com

Events: www.espacoevents.com.br

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