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Especial Performance e Saúde Redação 15 de junho de 2018 (0) (146)

“A corrida incentiva ainda mais os cuidados com o diabetes”

Com histórico de diabetes na família – sua avó paterna era do tipo 2 (leia mais no box) -, Malu Serraglio tinha algum conhecimento sobre a doença. Mas foi sua mãe que a alertou sobre os sintomas que começaram a aparecer, como perda de peso e de resistência, e alto consumo de água, quando ela estava com 22 anos. Malu procurou um médico e realizou vários exames, que realmente apontaram glicemia (nível de açúcar no sangue) alterada. "O resultado revelou que eu estava no máximo do limite normal. Na consulta, o especialista disse que o tratamento consistia em 70% de educação – por isso pediu que eu lesse e me informasse bastante sobre diabetes – e 30% de medicamentos. Falou ainda que teria que mudar hábitos de vida, seguindo uma dieta adequada, praticando atividade física, tomando remédios via oral e, mais tarde, insulina", conta.

Ela ouviu atentamente toda a explicação e no final perguntou em quanto tempo estaria curada. "O médico começou a repetir as informações, como se eu não tivesse entendido. Disse, então, que diabetes não tem cura e que a partir dali eu teria de mudar minha rotina. Fiquei em choque e voltei para casa chorando." 

A primeira coisa que conseguiu modificar em seu cotidiano foi a alimentação – a última, a atividade física. "Até os 28 anos fui sedentária. Nessa época também foi diagnosticado um problema no meu joelho e o ortopedista recomendou esportes sem impacto. Comecei a nadar e andar de bicicleta", conta.

Consciente da importância do controle da doença, Malu aprendeu muito sobre ela e se engajou também como voluntária na Associação de Diabetes do ABC (ADIABC). Foi ali, há dois anos, que a corrida entrou em sua vida. O médico Márcio Krakauer a convidou para um evento ligado à atividade física. "Eu disse que não podia correr por conta do problema no joelho. Ele falou que era só para participar, para motivar outras pessoas. No final, eu completei três quilômetros, me sentindo muito bem. Fiquei feliz com esse desempenho", fala a publicitária. Daí por diante não parou mais. Procurou orientação para os treinos e junto com a Associação e o treinador Roberto Doro ajudou a montar um grupo que reúne corredores diabéticos, o Correndo em Dia.

A motivação é tanta que Malu já completou mais de 20 provas de 10 km, sendo seu recorde pessoal 50:51, na corrida da Volkswagen. Duas meia-maratonas também fazem parte de seu currículo esportivo. A primeira delas, em São Bernardo do Campo, em agosto de 2007, que concluiu com o tempo de 1h57, foi marcante. "O dr. João, que é um dos diretores da ADIABC, sempre presente e atuante na associação, e um grupo de amigos estavam na chegada para me receber", emociona-se. A outra aconteceu em abril na Meia da Corpore, em São Paulo. E graças a seu conhecimento sobre a doença e sobre as reações de seu organismo, conseguiu controlar um episódio de hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue) em pleno percurso, evitando maiores conseqüências. "Não tenho os sintomas físicos clássicos da hipoglicemia (dificuldade para raciocinar, sudorese exagerada, tremores, visão dupla). A única coisa que percebo é que meu ritmo cai. Com isso, pude reverter o quadro e completar bem a prova, em 2h06", conta Malu.

O alto-astral da publicitária, sua dedicação ao trabalho e à orientação na associação, assim como os bons resultados na corrida, são um incentivo e tanto para que todos busquem melhor qualidade de vida. "Os cuidados com o diabetes já estão incorporados à minha rotina. Levo uma vida bem normal e procuro passar essa experiência às pessoas", finaliza.

NO DIA-A-DIA E EM PROVAS. Malu Serraglio treina semanalmente, em academia, várias modalidades: corrida (duas vezes); natação (três vezes); musculação (três vezes). E tanto nos treinos como nas provas que participa está sempre acompanhada de seu kit básico que inclui duas canetas para aplicação de insulina (dois tipos: basal e ação rápida), agulhas descartáveis (para a caneta), glicosímetro (medidor instantâneo de glicose), calibrador, lancetador (para fazer o furinho no dedo e a partir dessa gotinha de sangue medir a glicose), repositor de energia (carboidrato em gel) e açúcar líquido (um sachê parecido com mel).

Como o diabetes exige controle fino da glicemia, antes mesmo de tomar o café da manhã, ela faz seu primeiro teste. Se o resultado estiver alterado (existe uma escala de níveis), já corrige com alimentação adequada e aplicação de insulina basal (sempre) e, se necessário, insulina rápida. Duas horas depois, realiza nova verificação para ver se a correção matinal fez efeito e manter-se bem até o almoço. "Diariamente são cinco testes de picada de dedo", conta.

Em ocasiões de provas, a rotina é semelhante. Um teste de glicemia é feito antes da largada e, se necessário, o carboidrato é reposto ali mesmo. E como conhece as reações de seu organismo, para manter-se em boas condições durante o percurso (visto o desgaste que é correr uma ou duas horas), sabe que também deve calcular o gasto de energia que terá em relação à distância. "A cada 4 km preciso consumir 10 g de carboidrato, obtidas com um sachê de carboidrato em gel, açúcar líquido ou até isotônico. Tenho que ficar atenta à hipoglicemia, que no meu caso se manifesta com queda de rendimento." Ao final, depois de pegar a medalha e comemorar o resultado, realiza um novo teste de glicemia, corrigindo, se necessário, os níveis glicêmicos.

ENTENDA O DIABETES

TIPO 1: é uma doença caracterizada pela destruição das células beta produtoras de insulina. Isso acontece por "engano", porque o organismo as identifica como corpos estranhos. A sua ação é uma resposta auto-imune. Surge quando o organismo deixa de produzir insulina (ou produz apenas uma quantidade muito pequena) – o que leva à necessidade de aplicação diária da substância para se manter saudável. Sem insulina, a glicose não consegue chegar até às células, que precisam dela para queimar e transformá-la em energia. As altas taxas de glicose acumulada no sangue, com o passar do tempo, podem afetar olhos, rins, nervos ou coração.

Não se sabe ao certo porque certas pessoas desenvolvem o tipo 1. Há casos em que se nasce com genes que predispõem à doença. Pode ainda ser algo próprio do organismo ou uma causa externa, como por exemplo uma perda emocional. Ou também alguma agressão por determinados tipos de vírus. É mais freqüente em pessoas com menos de 35 anos, mas pode surgir em qualquer idade.

Principais sintomas: vontade de urinar diversas vezes ao dia; fome e sede freqüentes; perda de peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor.

TIPO 2: possui um fator hereditário maior que no tipo 1. Além disso, há grande relação com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. A incidência é maior após os 40 anos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Por muitas razões suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sangüínea. O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Em alguns casos, necessita ainda de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina.

Principais Sintomas: infecções freqüentes; alteração visual (visão embaçada); dificuldade na cicatrização de feridas; formigamento nos pés.

(Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes)

BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA

Ela é essencial para todo mundo. "Mas para o portador de diabetes, os exercícios trazem benefícios adicionais, especialmente o aumento da ação da insulina, diminuindo a glicose no sangue", diz o médico Márcio Krakauer. Com base na experiência da equipe de corrida na ADIABC, o especialista destaca ainda a motivação e a interação que a atividade proporciona. "As pessoas mudam o jeito de encarar a doença e há uma melhora visível no controle do açúcar. No grupo, um ajuda o outro", conta. Para ele, o principal cuidado que o diabético deve ter na prática esportiva é com a hipoglicemia.

As vantagens que a corrida proporciona aos portadores de diabetes podem ser divididas em dois tipos:

Imediatas, ocorrem desde o primeiro dia:

– Aumento da ação da insulina

– Aumento da captação de glicose pelo músculo

– Captação da glicose no período pós-exercícios

– Diminuição da glicose sanguínea

Tardias, se manifestam no longo prazo:

– Melhora das funções cardio-respiratórias

– Aumento da força e da resistência

– Diminuição da gordura corporal e do peso

– Redução da ansiedade

SERVIÇO

Associação dos Diabéticos do ABC (ADIABC)

Site: www.adiabc.org.br

Tel.: (11) 4992-5303

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