Tô Correndo Tomaz Lourenço 4 de outubro de 2022 (0) (507)

A pouca utilidade das pesquisas eleitorais e das previsões de tempo na TV

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POR TOMAZ LOURENÇO

Este é um site de corridas de rua e maratonas, então parece meio fora de lugar o artigo com o título acima. É verdade, mas vou explicar por que resolvi postar as considerações de um jornalista e maratonista de 75 anos, com boa bagagem nas duas áreas. Sobre o recente fiasco das pesquisas eleitorais, chama a atenção a nenhuma autocrítica dos institutos envolvidos nos erros crassos e, pior ainda, a não divulgação do vexame por parte dos jornais, notadamente a Folha de S.Paulo em relação ao Datafolha. Poderia se iniciar uma nova fase das prévias, em que se indicaria que os dados podem variar 10 pontos para cima ou para baixo e que o índice de confiança é de 50%…

Nos últimos anos, os jornalistas de maior visibilidade são os da TV, mas que na verdade são predominantemente leitores de notícias (teleprompter) ou colunistas, com seus “achismos” e informações confidenciadas por suas fontes. Os repórteres ficam em segundo plano e mais ainda os redatores (daquelas notícias). O resultado é uma repetição absurda das mesmas matérias nos diversos canais e horários.

Pelo texto, fica claro que se trata do desabafo de um jornalista, com exatos 50 anos de profissão iniciada na chamada grande imprensa, sendo a última metade editando uma revista própria de enorme sucesso, que foi a Contra-Relógio, e que levou à consagrada expressão “As corridas brasileiras se dividem entre antes (péssimas) e depois (ótimas) da CR!”

Para nós, corredores, que costumamos treinar para evitar surpresas desagradáveis nas provas e para conseguir boas marcas, as pesquisas eleitorais acabam funcionando da mesma forma que informações falsas/exageradas sobre eventos que temos em vista e que acabam nos frustrando.

Previsão de tempo
Outra coisa sem sentido que somos obrigados a ver na TV diariamente é a previsão do tempo. Todos nós praticamente temos celular e basta dar um clique para saber como deverá (não como será…) ficar o clima na região em que se mora. O que interessa a um paulistano se vai chover no Acre ou no interior do Rio Grande do Sul?

Se não bastasse essa realidade óbvia, por vezes a previsão nem acerta as próximas 24 horas, o que é um absurdo. Ou uma coisa cotidiana, que sempre interessa aos corredores, que é a temperatura no momento em que se sai para treinar. Eu já estabeleci a “adaptação”, para definir a roupa que vou utilizar; vejo no celular quanto está indicando no meu bairro e aumento em 4 ou 5 graus, para constatar ter acertado, ao ver o primeiro relógio de rua.

Há vários anos, as TVs e também as rádios davam sempre em seus jornais como tinha variado a Bolsa de Valores, e eu nunca entendi o porquê dessa informação, considerando que somente 0,001% da população teria interesse nesse dado. Depois vi que se tratava de mais uma faceta do chamado jornalismo “preguiço”, em que se repete uma postura sem uma avaliação crítica sobre sua total desimportância.

Mesmo sendo uma coisa sem sentido, só recentemente se deixou de noticiar o movimento diário da Bolsa. Espero que a previsão do tempo siga o mesmo caminho e que os jornais da TV passem a fazer algumas reportagens, de vez em quando, pelo menos.

Lembro de um tio português, com o humor típico dessa nacionalidade, que me chamava atenção na época em que estava decidindo o que eu ia ser na vida: “Estude garoto, se não, você vai acabar virando jornalista!” Eu virei, mas consegui manter meu senso crítico para as bobagens e idiotices, que nos circundam.

Vamos em frente, porque ainda tenho muitos quilômetros de treinos para a Maratona de Nova York e para a de Curitiba. Até!


Tomaz Lourenço é jornalista, 77 anos; lançou a revista Contra-Relógio em outubro de 1993, sendo seu editor até a última edição em abril de 2021. Correu mais de 60 maratonas no Brasil e exterior, além de 2 Comrades; seu recorde nos 42 km foi ao estrear na distância, em Blumenau 1992, com 3h04. Contato: tomazloureno1947@gmail.com

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