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Maratona de Berlim: recorde mundial fica adiado

Domingo, 24 de setembro, 16 a 20 graus, muito vento, um milhão de espectadores (segundo estimativa da organização), percurso animado por 60 bandas de música e alguns atletas da elite internacional na largada. A 33ª Maratona de Berlim, palco de cinco recordes mundiais, um deles do brasileiro Ronaldo da Costa (2:06:05, em 1998),  encerrou a temporada, deste ano, das provas milionárias na Europa.

A expectativa para a quebra do recorde do queniano Paul Tergat era grande. "Infelizmente, por 1 minuto!" expressou Mark Mild, diretor da prova, que acompanhou todo o percurso de bicicleta e não conseguiu esconder sua frustração quando percebeu que a expectativa de um novo recorde mundial estaria adiada. Boa parte desta frustração atribuída, sem dúvida, às altas cifras que envolvem essa maratona.

Mesmo sem recordes, a festa no pódio foi dos etíopes, que levaram os dois primeiros lugares e carimbaram as primeiras vitórias da Etiópia em Berlim. Haile Gebrselassie (33 anos), o mais rápido do mundo este ano, fechou o percurso com grande vantagem em 2:05:56, seguido do também etíope Gudisa Shentema (2:10:43) e pelo japonês Kurao Umeki (2:13:43). Gete Wami (31), mesmo terminando a prova com problemas no estômago, venceu com o tempo de 2:21:34 e bateu o recorde etíope (2:21:52 de Berhane Adere), seguido pela queniana Salina Kosgei (2:23:22) e a polonesa Monica Drybulska com 2:30:22. O recorde feminino da prova continua sendo da japonesa Noguchi Mizuki (2:19:12, de 2005), que não competiu por um acidente doméstico que a impediu de treinar para a prova.

No entanto, triste mesmo ficou o queniano Sammy Korir, ao abandonar a prova no km 26, por problemas na perna. Korir tem o segundo melhor tempo da história, quando foi "coelho" de Tergat e chegou apenas 1 segundo atrás dele em 2003. Voltou a Berlim, este ano, como principal concorrente de Gebserlassie, alimentando o duelo Etiópia x Quênia, tema de todas as conversas entre jornalistas, treinadores e atletas nos dias que antecederam a competição.

No total de 57.192 inscritos, aconteceram em paralelo as corridas de patins (com cerca de 8 mil inscritos), a prova de cadeirantes, a infantil e a maratona que contou com 39.636 atletas vindos de 105 países, sendo que 30.097 concluíram.

Brasileiros em Berlim. Entre os brasileiros, 14 mulheres e 72 homens. Paulo Alves (29 anos), sua irmã Marlene Fortunato (36) e a bicampeã pan-americana Márcia Narloch (36), os três compuseram a equipe da elite brasileira presente na capital alemã, que vieram em busca de índices para o Pan-Americano de 2007 no Rio. Alves concluiu com o tempo de 2:43:22, Fortunato (36) não terminou e Narloch fechou em 5˚ lugar com o tempo de 2:35:28.

SIMPLISMENTE HAILE!

"Bom dia Berlim!", diz Haile Gebrselassie, saudando os jornalistas e fotógrafos e, sob os flashes intermináveis, o favorito vai direto ao assunto: "Maratona em Berlim é um sonho meu; foi aqui que escolhi para buscar o meu melhor tempo, além disso, não posso pensar em correr sem torcedor e aqui o público é grande e participativo, essa é minha motivação". Ele estava finalmente ali 5 meses após sua grande frustração em Londres (90 lugar), mas confiante de que concentrado faria, desta vez, melhor. Foi assim nosso primeiro contato com o atleta, juntamente com outros mais de 200 jornalistas de todo o mundo que o esperavam na sala de imprensa da rede local de comunicação.

A partir de então, foram três dias de pura perseguição ao favorito da prova, disfarçada às vezes de etíope (risos), às vezes de assistente da equipe de Haile, conseguimos entrar onde não éramos chamados e o resultado foi ângulos exclusivos que permitem agora o nosso leitor conhecer de perto uma pessoa genial.

Ainda o acompanhamos em sua visita a feira de esportes, programação paralela (que este ano contou com mais de 100 mil visitantes) onde Haile cumprimentou fãs de diversas nacionalidades e autografou a "parede da fama", um painel com mais de 2 metros de altura, montado pelo seu patrocinador (Adidas), em que os atletas podiam registrar o motivo que os levavam a correr. Continuou seu tour pela feira, dando uma parada no estande de seu país, com a exposição de seus projetos sociais voltado para crianças pobres em fase escolar.

Nossas conversas aconteceram em momentos diversos: após as coletivas de imprensa, durante seu treino, em um café-da-manhã no hotel antes da maratona e no dia seguinte à prova. Afinal de contas, iniciamos nossos contatos para esta entrevista em meados de julho e, entre "sins" e "nãos" nos foram prometidos apenas 30 minutos para uma conversa exclusiva com o rei das pistas e não podíamos perder qualquer tempo extra. Felizmente, o próprio Haile em algum momento disse ao seu empresário: "Deixe ela perguntar, eu tenho mais tempo". E assim, posou para fotos, conheceu a Contra Relógio, contou o percurso de sua carreira e intimidades!

Mais do que um atleta, o ariano nascido em 18 de abril de 1973, em Arssi (Etiópia), guarda uma disfarçada timidez por trás de suas respostas bem-humoradas. Sorriso largo e fácil, ele fala de seus negócios e satisfação pessoal com o mesmo entusiasmo com que pratica o esporte. Vive atualmente com sua esposa Alem e seus quatro filhos (3 meninas e 1 menino) na capital Addis Adeba, onde treina e só sai de lá para competir. Com 1,64m e 55 kg, o franzino atleta coleciona títulos importantes (duas medalhas olímpicas e quatro vezes campeão mundial dos 10.000m) e tem sido aclamado como o de rei dos 5.000m (12:39.36) e 10.000m (26:22.75). Começou a correr maratonas em 2002 (fez uma na Etiópia no início da carreira, mas que nem considera) e em Berlim conclui a 40 prova na distância, conseguindo seu melhor tempo. 

A conversa de Haile com a Contra Relógio

CR: Você coleciona mais de 20 recordes mundiais e atualmente lhe descrevem como o rei das distâncias. Como este esporte começou em sua vida?

Haile: Meu sonho começou nas Olimpíadas de 1980 em Moscou, quando vi o legendário medalhista olímpico etíope dos 5.000m e 10.000m Miruts Yifter ganhar. Naquele momento eu só pensava em correr para ser igual a ele; ninguém fez aquilo antes, ele era incrível; eu tinha na época 7 anos, apenas uma criança. Em 1988, meu irmão mais velho começou a correr e me pediu para acompanhá-lo no treinamento e então, dois meses depois eu já tive a chance de competir na escola foram 500 m sem treinamento intenso e ainda assim eu bati todos e que eram mais velhos que eu. E as pessoas diziam, aborrecidas com a situação: "vocês viram o pequeno garoto ganhar dos mais velhos" e esse garoto era eu! Depois eu deixei o grupo e comecei a treinar com meu irmão que se preparava para maratonas e outras distâncias. Comecei a treinar seriamente e tive a chance de fazer parte de um clube; em 1990 me mudei para Addis Abeba e em 1991 tive a chance de viajar pela primeira vez para o exterior, fui para a Bélgica participar do Mundial de Cross Country. Agora já corro há 16 anos internacionalmente e 18 nacionalmente.

Você tem 33 anos e, embora se possa correr até os 100 anos, existe um limite de idade para fazer parte do grupo de elite, pelas próprias condições de treinamento, esforço etc. O que você fará depois desse período?

Continuarei gerenciando os meus negócios, o que faço em paralelo atualmente. A maioria dos atletas quando se aposenta se torna treinador, empresário de outros atletas e continua trabalhando em torno do esporte. Para mim eu acho isso muito difícil. Sempre quando volto pra casa depois das provas tenho outras atividades; quero um dia poder me dedicar só a elas.

Quais ?

Eu tenho dois tipos de negócios, um que me dá prazer e outro que me dá lucro. Há sete anos tenho duas escolas, 400 empregados e tem crescido a cada ano; já temos cerca 1.000 alunos. Meu outro negócio é construir prédios para aluguel e venda, e esse sim me dá lucro, já que na escola os alunos pagam muito pouco e além disso ofereço 10% de vagas gratuitas.

Você também apóia projetos sociais para crianças…

Sim, essa é a minha satisfação. E satisfação é muito mais do que lucro. Para estas escolas invisto muito dinheiro para pagar professoras, trabalhadores etc.

Haile fora das pistas

Pode-se perceber que ele corre "por algo mais", levando-o a ser um "corredor" também fora das pistas. È um homem respeitado e admirado principalmente pela sua modéstia e disposição de ajudar as pessoas. Nesta prova, por exemplo, ele correu pela primeira vez junto com a etíope Alem Ashebir, uma garota órfã que cresceu em Addis Abeba e foi cuidada por uma instituição. Um dia esta instituição escreveu: "Jovem maratonista procura patrocinador" e uma família alemã ligada a organização de maratonas a ajudou. Haile entrou na história de Ashebir, quando a garota se contundiu seriamente e ele ofereceu o seu médico, pagando os custos e disponibilizando para reabilitação, o seu centro esportivo. Ela atualmente treina freqüentemente com Haile.

Encontro com Mandela

CR: Recentemente você recebeu do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o livro autobiográfico "Long walk to freedom" (longo caminho para a liberdade). Conte-nos como foi isso…

Foi uma grande surpresa, eu não esperava que Mandela me conhecesse; o inverso seria o normal. O melhor presente pra mim, na verdade foi ser reconhecido por um homem como ele, isso sim me deixou impressionado e até hoje digo para mim mesmo: Eu sou conhecido pelo Senhor Mandela!

Você já teve tempo de ler?

Sim e esse foi o melhor livro que já li. Sobre a vida dele eu ja sabia bastante antes de ler o livro, mas algo mais fiquei sabendo depois.

O que é liberdade pra você?

Não apenas o ser humano, mas também os animais querem ser livres! Não importa o que voce come, o que você tem, liberdade é liberdade! Mandela é o grande exemplo de vida para todos nós. A propósito, não apenas liberdade… Imagine que depois de 27 anos de prisão ele se tornou presidente da África do Sul e ainda assim não quis se vingar de ninguém. Mandela nos ensinou muito, com a sua humildade.

Treinamento

CR: Como é o seu treinamento diário?

Haile: Treino pelas manhãs, às vezes nas estradas, às vezes nas florestas ou em terrenos acidentados. São em média três horas por dia e cerca de 200 km por semana.

Como é sua alimentação para dar suporte aos treinos?

Não faço nenhuma alimentação especial (no café da manhã do hotel, Haile comeu geléia, pão, suco, café, ovos, como normalmente faz)

Treinador

Amigos há muito tempo Yilma Berta (54) treina Haile desde que era um alteta junior. Também atleta, fazia pequenas distâncias e hoje comanda um grupo de aproximadamente 15 corredores entre homens e mulheres, inclusive Gete Wami. "Haile é uma pessoa muito fácil, está sempre bem humorado e contando piadas" descreve Berta. Quando o assunto é tecnologia no treinamento do top atleta, ele assegura que não tem segredos, é colocar o tênis e correr. Como assim não tem segredos? Insistimos, e ele completou: "Treinar atleta de elite não exige muita tecnologia, apenas disciplina no treino. E Haile é um rapaz rápido e disciplinado. Não há dificuldades. Ele não tem medo, isso torna tudo mais simples". Sobre a agenda de Haile diz que não há regras para selecionar provas e que decide sempre em conjunto com o empresário, mas assume que é complicado gerenciar tantos convites. Brasil? humm, muito difícil dizer, sem planos…

Londres x Berlim

Para Haile, a Maratona de Londres este ano foi a pior corrida de sua vida.

CR: O que aconteceu em Londres?

Haile: Em Londres a pista estava molhada e escorregadia e foi difícil terminar. A chuva atrapalhou muito. Aos 25 km a minha perna estava cansada; embora a preparação para Londres tenha sido intensa, lá estava chovendo e não corro bem em pistas assim. Quando está quente para mim é muito bom e que me desculpem os outros corredores que não estão acostumados (risos).

Você declarou em abril à imprensa que trataria Berlim mais do que um campeonato (Mundial). O que você quis dizer com isso?

Maratona é um esporte duro, as distâncias são muito longas e precisamos tomar cuidado quando nos preparamos para ela. Maratona exige uma concetração muito grande. Nunca sabemos o que vai acontecer depois ou no meio do caminho. Treinar para 5.000 e 10.000 não é a mesma coisa, é mais fácil. Eu me preparo para Berlim desde que terminei Londres (5 meses).

Em Londres o mundo esperava sua vitória e você ficou em 90 lugar (2:09:05).  Como manteve a sua autoconfiança depois de Londres?

Prefiro não falar de autoconfiança, mas de treinamento. E desta vez meu treinamento foi maravilhoso, vamos ver juntos no domingo.

O que você mudou no seu treino?

Posso dizer que nada, apenas desta vez para Berlim estive mais concentrado e intensifiquei o trabalho de resistência.

30 minutos antes da competição o que você faz?

Eu aqueço e penso sobre a corrida (risos) e sobre o que tenho que fazer.

Rivalidade Etiópia x Quênia

Antes da prova Sammy Korir provocou: "Haile não é nenhum especialista, por isso eu acredito que eu vou vencer". Mas falar desta rivalidade para o atleta é muito simples: "Eu sei o quanto forte é o queniano e eles também sabem da minha força; nós viemos da mesma região, e além do mais o fato de já ter corrido 20 maratonas não é essencialmente nenhuma vantagem", respondeu Haile. "No esporte eu quero sempre ganhar deles, mas fora das competições não existem rivalidades. No caso de Korir quase não tenho contato, mas ele e Tergat, por exemplo, são amigos".

Vida pessoal

CR: Como você gerencia sua vida profissional com o seu trabalho.Você tem 4 filhos, sua esposa… como as competições mudaram a sua vida?

Haile: Eu não viajo caso não seja para correr, eu não tenho problemas neste gerenciamento

Como você se descreve como corredor?

Haile é… como posso dizer… um atleta ativo, que compete. Existe uma grande diferença entre o antes e o agora (referindo-se a participação em maratonas). Antes eu apenas pensava em atletismo, agora penso em familia, negócios, esporte.

Qual o seu apelido? Como os seus amigos lhe chamam?

Você que saber até meu apelido? (risos) "Neftegio" (em português se falaria "neftainhá" que significa lutador ou algo como batalhador). Você pode me chamar assim, Neftegio.

Onde passou suas últimas férias?

Eu nunca tirei férias desde que comecei a treinar para maratonas.

Não? Por que?

Eu nunca pensei sobre isso, como disse, só viajo para correr, quero estar sempre com minha família, minhas crianças, talvez no futuro…

Futuro… quais são seus planos?

Cuidar dos meus negócios e da minha família

Alguns jornalistas o alfinetaram, perguntando se não teria sido um erro ter começado muito rápido. Ele apenas disse que pôde correr mais no início e o fez, não achou ruim, ele queria estar abaixo de seu melhor tempo (2:06:35 em Londres 2002) e 2:05:56 já foi melhor. Para o público isso pode não ter sido especial, mas ele como atleta não tinha do que reclamar; o resto ele se entenderia com seu empresário, que certamente iria "dar um puxão de orelha".

Sem coelhos, queda no ritmo – Haile (e Korir) tiveram ajuda de coelhos (pacers), como acontece em todas as maratonas importantes. Contratados para correr em determinado ritmo até determinado ponto, os quenianos Jason Mbote e James Kwambai fizeram o que tinham que fazer e levaram o etíope a excelentes passagens. Mbote saiu no km 25 e Kwambai no 28, deixando Haile sozinho, mas com boa vantagem sobre as marcas de Tergat. No km 35 ele tinha 22 segundos de folga em relação à passagem do recorde mundial, mas aí começou a cair de ritmo e no km 40 estava 22 segundos atrás e então… O mesmo já tinha acontecido em Amsterdã 2005, quando ele também correu sozinho o terço final e perdeu preciosos segundos (fechou em 2:06:20). Agora Haile tem que torcer para que em Londres tenha companhia (e estímulo) até os metros finais. (Tomaz Lourenço)

Próximas maratonas – Fukuoka e Londres

Na coletiva depois da prova, Haile anunciou sua participação na Maratona de Londres em abril de 2007 e quando foi perguntado se era possível quebrar o recorde mundial lá caso o percurso esteja seco, ele respondeu que achava mais difícil (que Berlim) e que não falaria em recorde, mas em correr bem o percurso.

Até lá terá muito tempo e, como uma espécie de treino correrá, ainda este ano (3/12), a Maratona de Fukuoka, no Japão. "Eu quero apenas correr para ganhar em Fukuoka; não vou buscar nenhum recorde pessoal ou mundial".

Depois da prova

CR: Você disse que conversou com Paul Tergat 3 meses depois que ele ganhou a prova em 2003 e hoje, você vai ligar pra ele ? 

Haile: Não, ele é quem vai ligar pra mim e agradecer por eu não bater o recorde dele (risos).

Depois da maratona, a organização contactou Tergat e por telefone ele disse: "Bater o recorde mundial não é fácil, isso é sempre duro. Absolutamente eu parabenizo Haile pela grande corrida. Eu estou me preparando para Nova York, estou saudável, fazendo 120 km por semana e trabalhando minha velocidade". 

MÁRCIA NARLOCH

Depois do último treino antes da prova, conversamos com Marcinha. Jorge de Oliveira, mais conhecido como Filet, seu técnico há 17 anos, já estava preocupado, pois a atleta no dia anterior havia se perdido no parque ao lado do hotel durante o treino. Filet: "Você se perdeu de novo?" Assim ele cumprimentou a atleta. – "Não, cara!", respondeu ela com a sua marcante expressão facial. "Vamos conversar com a Contra-Relógio", disse ele.

CR: Quando lhe vemos correndo; você tem uma expressão muito forte, faz caretas, a impressão é que dói tudo e que está sendo muito difícil fazer aquilo. Pode-se dizer que é uma marca registrada?

Márcia Narloch: (risos) Eu sempre me exijo muito, principamente em provas longas. Meu ar é de sofrimento, mas estou na verdade concentrada. São muitos anos correndo e a exigência é grande (Filet confirma com a cabeça) Se não tiver uma boa concetração complica…

O que você sente antes da corrida?

Eu só quero acabar, minhas mãos ficam geladas, na hora do tiro tenho um frio na barriga.

O que mais lhe marcou em sua carreira até hoje?

Eu sempre gostei de correr e não faço por fazer. A minha primeira Olimpíada em Barcelona (2000) com ainda 20 anos, foi especial. Faltavam 4 horas para a largada e eu chorava muito, "o que estou fazendo aqui", pensava; eu era como uma criança procurando pai e mãe e não achava Filet, estava sozinha. Era um medo de quem estava morrendo afogada. Depois disso, muitas vitórias e muitas derrotas, quarto lugar em NY (1993), dentre outras, mas posso dizer que Barcelona ficou pra história!

Ídolo nas pistas…

Joaquim Cruz, pela personalidade forte e humildade. Foi um atleta guerreiro, de família humilde, que superou todas as dificuldades, duas Olimpíadas e duas medalhas… ele é meu ídolo.

O que aconteceu em sua carreira que você nunca podia ter imaginado?

No primeiro Mundial que participei, em Tóquio, eu tinha 21 anos. Parei na maratona, algo que eu dizia que nunca ia acontecer. Depois na Grécia, que também não completei, foi péssimo.

O que passa na sua cabeça na hora de desistir?

Me sinto jogando todo os meses de treinamento fora; por trás existem muitas pessoas trabalhando por mim; eu não penso na verdade em mim, mas no meu técnico, na equipe de apoio, nos amigos. Mas esporte é assim, depois passa…

Dois meses de treinamento, em média 180 km por semana é o seu preparo para uma maratona como esta. Até quando pretende correr?

Fico mais um ano nas pistas (até o Pan), depois vou fazer faculdade, provavelmente de educação fisica.

Será treinadora?

Hummm… Nao sei! (risos)

Filha de poloneses, você já morou na Alemanha, conhece muitos países. Qual o melhor lugar do mundo pra se viver?

Rio de Janeiro!