Por Aulus Sellmer – aulus@4any1.com.br – AGOSTO 2011
Outro dia estava pensando que já fazem mais de 30 anos que corro todas as semanas. Às vezes, com mais afinco em função de provas que me proponho a correr e em determinadas fases somente por correr. Por essa razão resolvi pesquisar um pouco e tentar descobrir um fato. Será que a corrida vicia?
A corrida estimula em nosso corpo reações fisiológicas e hormonais que provocam uma sensação de dependência depois de certo tempo de prática. Isso não acontece da noite para o dia, portanto iniciantes devem ter paciência.
Os hormônios responsáveis por esse processo são os conhecidos endorfina e serotonina. Eles são produzidos pelo organismo e, na corrida, acontece maior produção, provocando aquela sensação de bem-estar e prazer pós-treino. A serotonina está intimamente ligada aos transtornos do humor. A maioria dos medicamentos antidepressivos estimula aumento da disponibilidade dessas substâncias, o que é exatamente o que o organismo faz durante a corrida. Já a endorfina é um neuro-hormônio com ação analgésica que, ao ser liberado pelo organismo, estimula a sensação de conforto e melhora o estado de humor.
Algumas pesquisas afirmam que os efeitos da endorfina são sentidos até uma ou duas horas após a sua liberação. Como resultado de todo esse processo, quanto maior a quantidade de esforço físico, maior a liberação de endorfina, chegando a um ponto em que é preciso mais exercício para atingir a mesma sensação de bem-estar.
Zona alfa. Outro fator que influencia a corrida é o próprio cérebro. Existe um momento em que você sente que seu corpo e mente são capazes de correr para sempre. Uma emoção privilegiada, e pernas e músculos parecem fluir sem qualquer esforço. Esse estado mental é proporcionado por ondas cerebrais que trabalham em uma freqüência mais baixa e proporcionam relaxamento profundo.
Assim, tudo acontece de uma forma mais agradável, conhecida pelos estudiosos como zona alfa – vale reforçar que isso não tem nada a ver com a liberação de endorfina. Nessa fase há um equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio. Se você for um corredor com certa experiência já deve ter passado por essa sensação de não se perceber que estamos correndo e o nosso pensamento vai longe.
Questão psicológica. Além dessas alterações físicas e fisiológicas, o vício na corrida acontece também por questões de ordem psicológica. A sensação de missão cumprida ao terminar um treino, completar um percurso ou cruzar a linha de chegada de uma prova trazem uma enorme satisfação que estimula a correr mais e mais. Há de se levar em conta, ainda, que a corrida é uma das atividades mais eficientes para emagrecer – e, por isso, muitos praticantes tornam-se dependentes na tentativa de manter o peso. Nesse caso, o exercício funciona como uma forma de compensar os exageros à mesa. E tudo isso é potencializado se o corredor teve o seu corpo transformado pela corrida.
Mas cuidado. Fique atento a dois sinais em que se tornar muito dependente da corrida pode prejudicar a saúde. Em primeiro lugar, observe se a corrida é tão ou mais importante quanto família, trabalho, amigos e vida social. Também procure perceber se a dependência faz com que tenha sintomas de abstinência quando não consegue treinar, como irritabilidade, ansiedade e depressão. Nesses casos procure orientação do seu treinador, de um amigo, de alguém experiente, de uma pessoa com bom senso…
Assim vamos em frente, enfrentando a nossa vida de uma forma prazerosa, fazendo amigos e conhecendo novos lugares através da corrida, como um vício que hoje para mim está controlado através de provas de 10 km e meias maratonas. Quem sabe em breve penso novamente em correr uma maratona. Bom vício a todos!