Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (118)

Maratona de Paris: um city tour sensacional

Melhor do que qualquer city tour em ônibus fechado, com pouco tempo e invariavelmente muito trânsito, correr a Maratona de Paris é uma boa chance para conhecer alguns dos principais pontos turísticos da charmosa capital francesa. O percurso é todo pelo lado direito do rio Sena, chegando às extremidades da cidade, os bosques de Vincennes e Bolonha, e passando por bairros residenciais, distantes da agitação da Champs-Elysées, ponto de partida para os 42.195m de prova, a partir das 8h45 do dia 15 de abril.

O limite de 35 mil inscritos para a 31ª edição foi atingido com mais de cinco meses de antecedência. Quem garantiu lugar e já conhece Paris terá possivelmente a chance de rever seus locais prediletos, talvez a torre Eiffel, a praça da Concórdia ou da Bastilha, o Museu do Louvre. Quem for visitar a capital pela primeira vez terá certamente o privilégio de conhecê-la de uma maneira especial: correndo, praticando seu esporte predileto. Mantendo-se um ritmo confortável durante a prova, será possível identificar alguns pontos que chamem mais a atenção, para visitá-los depois da maratona.

Sem esgotar de forma alguma as opções, esta matéria pode servir como um guia para ajudar o corredor, se o cansaço for muito grande para prestar atenção ao que está ao redor, ou se a concentração impedir um olhar fortuito para os monumentos. Porque, afinal, o esportista certamente terá uma meta a buscar nos 42 km.

Mas é certo que a concentração terá de ser reforçada em vários momentos para não ser perdida. Particularmente no inicio da prova, aos pés do Arco do Triunfo. Os inúmeros detalhes do monumento de 50 metros de altura e 45 de largura, encomendado por Napoleão em 1806, irão atrair a atenção do corredor ainda no aquecimento.

O começo, na Champs-Elysées

Os primeiros quilômetros são na famosa avenida Champs-Elysées, ponto de encontro dos franceses para celebrações, e concentração de lojas de grife de diversos setores, da moda à industria automobilística. E também antigo endereço de personalidades famosas, como Santos Dumont, que morou no número 150.

Nos jardins da avenida estão o Grande e Pequeno Palácio. Da perspectiva do corredor, eles devem estar um pouco encobertos pelas árvores, à direita. De qualquer forma, podem fazer parte de uma programação turística pós-prova. Construídos a partir de 1897, para a Exposição Universal de 1900, eles abrigam diversas exposições de arte. As entradas principais ficam na avenida Winston Churchill.

A maratona, contudo, segue pela Champs-Elysées em direção à praça da Concórdia, local em que Luis XVI e Robespierre foram mortos na guilhotina, em 1793 e 1794, respectivamente. Se o obelisco pode ser visto ao longo de alguns metros, enquanto o corredor se aproxima da praça, uma visão mais atenta das fontes, das estátuas e dos prédios do imenso cruzamento só será possível com uma caminhada mais lenta, depois da corrida.

O passeio pode continuar logo à frente, no jardim das Tuileries, ou "fabricas de telhas", primeiro jardim público de Paris, aberto em 1664 pelo rei Luis XIV. Uma entrada fica logo no inicio da rua de Rivoli, seguindo o trajeto da maratona. Nesta mesma rua, o verde e as esculturas do jardim das Tuileries de um lado, e algumas das principais joalherias da capital do outro, o que torna comum a presença de vários vigilantes ao longo das calçadas estreitas.

Será pouco provável que o esportista observe, durante a prova, uma coluna esverdeada à esquerda, pouco antes da chegada ao Louvre, na rua de Castiglione. O monumento de 44 metros de altura, uma homenagem aos soldados da batalha de Austerlitz, é inspirado na coluna Trajano, de Roma. No topo, uma estátua de Napoleão, cópia da original, que foi retirada do local com a mudança de regime político em 1815. A coluna fica no centro da praça Vendôme, rodeada de prédios de arquitetura clássica do final do reinado de Luis XIV.

Museu do Louvre

Mais fácil para o corredor visualizar durante a prova é a Praça das Pirâmides, com a estátua dourada de Joana D'Arc ao centro e a bonita arquitetura do Hotel Regina. Do lado direito, começa o extenso Museu do Louvre, um dos maiores do mundo, que o esportista terá a chance de apreciar por vários quarteirões.

Foi apenas em 1981 que o presidente François Mitterand decidiu que o palácio do Louvre seria inteiramente destinado às artes, tirando de lá o Ministério das Finanças. No entanto, o local foi destinado à cultura já no fim do século 16, graças a Henri IV, que liberou alguns espaços a artistas que trabalhavam para a coroa.

Pouco antes do fim desta imensa construção, à esquerda, está a praça do Palácio Real, atualmente sede do Conselho de Estado. Apesar da "desleal" concorrência do Louvre, este é também um ponto turístico interessante que não se resum e ao prédio que poderá ser visto durante a corrida. Um passeio pelos jardins do Palácio Real, ao Teatro da Comédia Francesa ou ao Louvre dos Antiquários (para compra de objetos raros e preciosos) pode fazer parte de um "pacote", caso os planos do esportista para depois da corrida incluam uma  visita ao museu – para ver de perto a Monalisa e também a pirâmide de vidro, que fica fora do percurso da maratona.

Mais para o fim da longa rua Rivoli, o corredor passará pelo Hotel de Ville. O edificio é uma reconstrução realizada entre 1874 e 1882. O prédio original, cuja construção teve inicio em 1533, foi destruído pelo fogo em 1871, durante a Comuna de Paris, considerada a primeira revolução operária da história. O local é sede da prefeitura e abre regularmente ao público exposições temporárias gratuitas, bastante concorridas.

Na rua Saint-Antoine, a atração é o Hotel de Sully, construído no inicio do século 17, e hoje sede do Centro de Monumentos Nacionais. No final do século 8, a construção foi vendida e descaracterizada, mas, com base em arquivos foi possível fazer sua reconstituição. A entrada é livre para o pátio e o local recebe exposições temporárias. Pelo jardim, é possível chegar à Praça dos Vosges.

Uma outra entrada para a Praça dos Vosges encontra-se logo depois do Hotel de Sully, na rua Birague, à esquerda da rua Saint-Antoine (o participante da maratona só verá a fachada vermelha, se olhar para a esquerda). Voltar ao local será, para o esportista, uma chance de caminhar pelo jardim ao centro do conjunto arquitetônico construído entre 1605 e 1612, a pedido de Henri IV. O primeiro nome do local foi Praça Real; a mudança veio em 1800, em agradecimento ao distrito homônimo, o primeiro a quitar seus impostos. O escritor Victor Hugo morou no número 6, entre os anos 1832 e 1848. A residência hoje abriga um museu sobre a vida e a obra do autor de "Os Miseráveis".

Ópera da Bastilha

O ponto turístico seguinte, no percurso da maratona de Paris, é um marco histórico famoso. Em 14 de julho de 1789, a queda da Bastilha deu inicio à Revolução Francesa. Hoje, já não restam muitos resquícios da antiga fortaleza, que serviu de prisão de luxo para figuras como os escritores Voltaire e Marquês de Sade. A coluna ao centro da praça é uma homenagem às vitimas da revolução de 1830.

O moderno prédio da Ópera da Bastilha foi inaugurado no bicentenário da tomada da Bastilha, em 1989, para ser uma alternativa popular à tradicional Ópera Garnier. Uma das maiores atrações da "nova" Ópera é uma sala de espetáculos com capacidade para 2.700 pessoas. O participante da prova terá a chance de ver o edifício mais de perto no percurso de volta.

Antes, ele seguirá em direção à Praça da Nação, com a estátua do Triunfo da República, voltada para a Praça da Bastilha, criando um eixo republicano propício para manifestações populares. A praça também recebeu a guilhotina, assim como a Praça da Concórdia. Mas, se nesta foram realizadas pouco mais de mil execuções em um ano e um mês, na praça da Nação o número chegou a 1.300 em 43 dias. A maioria dos corpos foi incinerada no cemitério de Picpus, que fica ao lado da praça.

No bosque de Vincennes

Na seqüência, o esportista terá quase 4 km de um ambiente mais tranqüilo, menos turístico e mais residencial, principalmente ao longo do boulevard Soult, com suas pequenas praças e parques infantis. A continuação do percurso será ainda mais bucólica, com a chegada ao bosque de Vincennes. Mas antes de explorar parte de seu interior, o participante da maratona poderá ver a estátua dourada da "França Civilizadora", remanescente da exposição colonial internacional de 1931, assim como o Palácio da Porta Dourada – Museu Nacional de Artes Africanas e da Oceania.

O atleta passa então a rodear o bosque pela avenida Daumesnil, podendo observar as grandes casas vizinhas à enorme área verde que abriga o zôo de Paris, inaugurado em 1934. Uma visão de cima pode ser conseguida com a subida à grande rocha artificial de 68 metros de altura que fica dentro do zoológico.

Aos poucos, o percurso vai voltando aos lugares normalmente mais movimentados, a partir do encontro da avenida de Gravelle com a avenida da Porta de Charenton. A rua de Lyon, para onde seguirão os participantes da prova, leva de volta à praça da Bastilha, mas desta vez, o percurso avança em direção ao rio Sena, pelo boulevard Henri IV, onde estão o antigo convento dos Celestinos, que hoje abriga a Guarda Republicana, e a biblioteca do Arsenal, dedicada ao urbanismo e à arquitetura da capital, com um grande acervo, que a transforma na segunda mais importante de Paris, depois da Biblioteca Nacional. Na entrada, uma estátua do poeta Arthur Rimbaud.

Ao lado do rio Sena

Completada mais da metade dos 42 km da maratona, os participantes chegarão finalmente ao Sena. Os primeiros metros são um pouco acima do rio, local onde se instalam os bouquinistes, vendedores de livros antigos, e também de ilustrações e lembranças. Mas, logo depois, os corredores terão a oportunidade de acompanhar o rio mais de perto, com as várias subidas e descidas suaves, à sua margem direita, pela via Georges Pompidou. Chance também de ver o outro lado do Louvre, do jardim das Tuileries, do Grande e do Pequeno Palácio, e passar ao lado das históricas pontes sobre o Sena.

Na Albert 1º, os corredores poderão ver a embaixada do Brasil, facilmente identificada pela bandeira. Na praça da Alma, inicio da avenida de Nova York, uma reprodução da chama da estátua da Liberdade fica sobre o túnel em que Diana morreu, em 1997, identificado pelas inscrições dos fãs órfãos da princesa.

No final da avenida de NY, os corredores estarão entre dois dos principais pontos turísticos parisienses: à direita, os jardins do Trocadéro, com seu conjunto de museus, e, à esquerda, no final da ponte de Iéna, o símbolo da cidade, a Torre Eiffel, inaugurada em 1889. A corrida segue pela avenida presidente Kennedy, com o prédio em vidro e alumínio da Rádio França.

No bosque de Bolonha

O caminho agora leva aos quase 900 hectares do Bosque de Bolonha (equivalentes a 900 campos de futebol!), mas antes de circundar os lagos do bosque, os participantes passarão por um ponto de interesse esportivo para os brasileiros, o complexo de Roland Garros, onde o tenista Gustavo Kuerten se consagrou entre o final dos anos 90 e o começo de 2000, com a conquista de três titulos do tradicional torneio.

O bosque fica em uma área nobre de Paris, com várias ruas fechadas ao público. Mesmo durante a semana, o local é bastante freqüentado por famílias com crianças e esportistas que, além de correr, podem alugar bicicletas ou caiaques. À noite o local tem reputação de ser ponto de profissionais do sexo, incluindo muitos travestis brasileiros.

Reta final da maratona de Paris, a avenida Foch também faz parte da parte burguesa de Paris. Apesar de ser curta, com cerca de 2 km, ela reúne alguns dos imóveis mais caros da cidade. Seus 120 metros de largura são recortados por jardins, de ambos os lados.

Do inicio da avenida Foch já será possível avistar o Arco do Triunfo e a linha de chegada da maratona, para completar em grande estilo os 42 km da charmosa prova, que apresenta boa parte da margem direita da capital aos corredores. Os que quiserem conhecer o lado mais boêmio da capital terão de atravessar o Sena e explorar a margem esquerda…

Veja mais:
O percurso da prova parisiense

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