Especial admin 10 de março de 2015 (0) (608)

Que tal fazer o treino de Rocky Balboa?

Agasalho de moleton cinza, uma fitinha estilo Rambo amarrada na cabeça e nos pés um "minimalista" par de All Star cano longo: Rocky Balboa está pronto para treinar. As famosas cenas de corrida do lutador de boxe imortalizado pelo ator Sylvester Stallone nos cinemas habitam o imaginário coletivo de corredores de rua do mundo inteiro. Especialmente a que está na segunda sequência da franquia, lançada no ano de 1979, com o pugilista seguido por dezenas de crianças no sprint final, escadaria acima, no Museu de Arte da Filadélfia, onde se passa a história. O mais curioso foi ter demorado 34 anos para que alguém, finalmente, fizesse uma análise e, melhor ainda, um mapa do percurso desse famoso treino matinal.
Nascido e criado na Filadélfia, cinéfilo, fã de Rocky Balboa e corredor amador, o jornalista Dan McQuade, com a ajuda de um time de amigos, supostamente pôs fim ao mistério com um artigo publicado no The Philly Post, em 18 de setembro último. Depois de algumas análises minuciosas, cena a cena, o grupo conseguiu uma projeção detalhada do percurso do treinamento de Rocky no filme. E, adivinhem só: o pugilista é, na verdade, um corredor nato. Mais do que isso, Rocky é um ultramaratonista.
Todo mundo sabe que correr é base de treinamento para a maioria dos esportes. Basta puxar um pouquinho pela memória e lembrar de Ayrton Senna fazendo jogging com o preparador físico Nuno Cobra, sem camisa, com a cinta do monitor cardíaco à mostra. Ou dos jogadores de futebol dando voltas em torno do campo num trotezinho preguiçoso, para ilustrar as matérias dos programas esportivos da hora do almoço.
Os mais bem informados sabem que o piloto inglês de F1 Jenson Button é um maratonista sub 3h, e que boxeadores profissionais do mundo real sempre foram adeptos da corrida para aumentar a resistência – o peso-pesado Muhammad Ali corria cerca de três milhas (4,5 km) a cada treino; Floyd Mayweather, campeão em quatro categorias, corria uma média de oito milhas por dia; e Kelly Pavlik, campeão dos médios, uma vez ganhou um prêmio numa corrida de 10 km na semana de uma luta. Mas 50 quilômetros? Isso, na opinião de Dan McQuade, chega a ser ridículo.
"O que sempre me divertiu sobre essa cena é como a rota seguida por Rocky faz absolutamente pouco sentido: South Philly, North Philly, o mercado italiano e, de repente, North Philly novamente, e assim por diante. Obviamente, a montagem não é para ser levada a sério como um treino real, mas é apenas um amarrado de cenas, perfeito para o som instigante de 'Gonna Fly Now' jogar Rocky no topo da escadaria do Museu de Arte", disse McQuade em seu artigo.
Também corredora, a editora-chefe do Phillly Post, Annie Monjar, recomendou ao jornalista que calculasse o trajeto para ver o quão longe Rocky tinha ido, com a ajuda de uma ferramenta de medição de distâncias confiável. No fim do seu texto, Dan McQuade, visivelmente surpreso com o resultado, brinca e chega a advertir os leitores que não tentem seguir os passos de Balboa. "Mais de 30 milhas e meia. Rocky fez um 50 km. Não é à toa que ele venceu a revanche contra Apollo! Não recomendo a ninguém que tente isso. Mas, se fizer, certifique-se de ter crianças com você e, principalmente, de que terá fôlego suficiente para comemorar no final."
O colega americano apenas não contava com duas coisas: a repercussão tamanha do seu artigo, e que uma coordenadora de mídia social de 25 anos, que mora na cidade, fosse aceitar o "desafio". Ultramaratonista, Rebecca Schaefer abriu um grupo no Facebook chamado "Rocky 50k Fatass Race" para iniciar a organização da corrida e, em menos de uma semana, quase 900 pessoas solicitavam informações, muitas delas, dispostas a participar dessa aventura, que já tem hora e data – dia 7 de dezembro, às 7 da manhã – e um percurso adaptado pela própria Rebecca. O número de adesões cresce a cada dia. A CR fez contato com a corredora para saber como será realizada a primeira corrida, embora não oficial, no trajeto dos treinos de Rocky Balboa. Veja a seguir.

 

50 km sem "frescuras"

Nascida e criada nos subúrbios da capital federal, Washington, a coordenadora de mídias sociais Rebecca Schaefer foi morar na Filadélfia, há sete anos, para cursar faculdade, e de lá não saiu mais. Corredora experiente, com centenas de provas no currículo, incluindo uma ultra de 100 milhas realizada em Nova York, no ano passado, Rebecca já chegou a organizar pequenas provas na cidade, todas no mesmo estilo "faça você mesmo", que pretende usar para a Rocky 50k.
"Rocky não precisou do estímulo de uma medalha ou de abastecimento especial para correr essa distância, por isso não teremos qualquer mimo para completar o percurso", brinca a corredora, que respondeu à CR por e-mail. O único material fornecido aos participantes será um mapa com o percurso, previamente percorrido e delimitado pela própria Rebecca. Como a proposta do evento é ser não oficial, não haverá postos de hidratação ou qualquer outro suporte oferecido, mas no mapa Rebecca anotará onde é possível adquirir água, refrescos e frutas ao longo do caminho.
No Facebook, o que se vê é um grupo bem animado, mesclado de curiosos e corredores que aceitaram o desafio de acompanhar Rebecca pelas ruas da Filadélfia. Um grupo do Brooklyn, N.Y., já começou a se organizar para estar presente no dia. Um homem chamado Tom Bera também está no fórum, embora não vá correr: era ele uma das crianças que cercaram Rocky Balboa no alto da escadaria do Museu e Artes. E para quem desconfia que 50 km é muito, uma assessoria esportiva local, chamada West Philly Runners, está formando grupos de cinco ou seis corredores para formar equipes e conseguir, assim, cobrir todo o percurso. E, sim, já convidaram Sylvester Stallone, via Twitter.
"Quer vir? Ponha seu melhor agasalho cinza e calce um All Star. Estaremos contando com isso", convidou. Esta repórter, infelizmente, estará em casa no dia 7 de dezembro, provavelmente sob um forte calor de pré-verão carioca, torcendo para que algum participante ou morador da cidade americana tenha o bom senso de filmar vários trechos dessa aventura – a chegada nas escadarias do museu, principalmente – para que tenhamos a sorte de ver tudo isso virar realidade, via YouTube. Agora, a entrevista.

CR: Você acha realmente possível organizar uma corrida no percurso feito por Rocky Balboa?
RS:
Quando li o artigo, não pude acreditar que aquilo já não fosse uma corrida. Como não poderia acontecer? Quanto mais eu falava para os meus amigos de corrida, mais eu percebia que havia um monte de apoio para isso. Criei o grupo no Facebook e da noite para o dia já havia 200 pessoas interessadas. Tem crescido mais do que eu mesmo acreditava (N.A. até o fechamento desta matéria eram 980 pessoas no grupo e 253 presenças confirmadas).

CR: Qual é a sua experiência com corridas?
RS:
Corro desde os 11 anos e estou habituada a participar de maratonas e ultras. Já cheguei a completar uma corrida de 100 milhas, em Nova York, no verão passado.

CR: Como você escolheu a data?
RS:
Queria fazer no início do inverno e achei que três semanas depois da Maratona da Filadélfia seria uma boa época, principalmente se levarmos em consideração que a maratona é um bom preparo para quem pretende fazer 50 quilômetros.

CR: Como a corrida funcionará?
RS:
Bem, eu fui logo para a rua e corri metade do curso traçado por McQuade, como é apresentado na história. No espírito do filme, decidi que farei disso uma corrida "fatass".

CR: Uma o quê?
RS:
Por favor, não traduza literalmente no seu país. É assim que chamamos na comunidade de ultramaratonas. Já aprendi que nem todos conhecem o termo, é muito específico para os ultras. Mas não queremos insultar ninguém, apenas refere-se a uma corrida sem taxa de inscrição, sem número de peito, sem medalhas; você simplesmente aparece e corre. As pessoas que fazem algo assim não se preocupam com a obtenção de uma medalha, e acho que se encaixa perfeitamente no espírito do filme.

CR: Você disse que já cobriu o percurso traçado na matéria de McQuade. Pretende mesmo cumpri-lo à risca?
RS: Nós vamos começar perto da casa de Rocky. Na esquina, porque não quero incomodar os vizinhos. Dali, vamos até Passyunk Avenue, em seguida, pegamos a Columbus Boulevard até Lehigh Avenue, passaremos próximo à linha férrea de Richmond/Kensington/Porto para, em seguida, descer a Broad Street em direção ao mercado italiano e voltar para a Lehigh Avenue. Rumamos para o norte pela Kelly Drive antes de terminar, é claro, na escadaria do Museu de Artes. Isso é o que todo mundo associa com a corrida Rocky, mas a melhor parte deste evento é que os corredores vão conhecer muitas partes da cidade, e não apenas pontos turísticos.

CR: A parte sobre os trilhos do trem foi suspensa por questão de segurança, então?
RS:
Estou me certificando que, por onde passaremos, é possível e seguro correr. Portanto, apenas a parte da corrida pelos trilhos do trem será removida. Correremos em paralelo, mas, infelizmente, não correremos nos trilhos. Farei o menor número de mudanças possível para manter uma rota legal e que possa ser coberta com poucas desistências.

CR: Os participantes devem esperar contar com algum suporte durante a corrida, como hidratação, policiamento, ambulâncias?
RS:
A proposta é ser uma corrida não oficial, é mais um grande treino; então, nós não contaremos com postos de hidratação ou qualquer outro suporte da cidade.

CR: Você espera que a corrida se transforme em um evento fixo no calendário dos corredores?
RS: Se as pessoas gostarem realmente, ficarei muito feliz de continuar organizando novos encontros pelos próximos anos!

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