Perfil Fernanda Paradizo 26 de fevereiro de 2020 (0) (351)

Entrevista: uma conversa com Paulo Roberto de Almeida Paula

Texto e foto: Fernanda Paradizo | feparadizo@gmail.com

O brasileiro Paulo Roberto de Almeida Paula correu no domingo passado, dia 23 de fevereiro, a Maratona de Sevilha, na Espanha, e conseguiu índice olímpico e recorde pessoal na distância, com a marca de 2:10:08. O resultado coloca o atleta na liderança do ranking brasileiro de maratona e com “um pé” nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Até agora apenas Paulo Roberto e Daniel Chaves (2:11:10 em Londres 2019) possuem a marca exigida, mas os atletas têm até dia 2 de maio para tentar o índice, que é de 2:11:30 e que confirmará participação de até 3 atletas por país.

Aos 40 anos, Paulo, que vive em Portugal e corre atualmente pela equipe Run Tejo, está prestes a confirmar sua 3ª participação olímpica. Mesmo na liderança do ranking, o maratonista, que tem como treinador o irmão gêmeo, Luis Fernando de Almeida Paula, já está com olhos voltados para melhorar ainda mais sua marca.

“Temos as Maratonas de Hamburgo e Viena (ambas dia 19 de abril) como opções e não tenho preferência por nenhuma. Qualquer uma delas será boa, pois meu treino é para maratona e não para um local específico”, contou o atleta, convocado para representar o Brasil no Campeonato Mundial de Meia-Maratona, em Gdynia, na Polônia, no dia 29 de março, e que servirá de prepara como preparação para os 42 km em abril. “Vou competir focado na maratona. Será mais uma prova para testar a velocidade e obter ritmo.”

Hoje, o atleta e seu irmão, que treinaram por 23 anos com Marcos Antônio de Oliveira, o Marcão, anunciaram parceria com o antigo treinador, que passa a ser o consultor técnico nessa nova fase em busca de melhorar ainda mais o índice e carimbar de vez o passaporte para Tóquio 2020. “Foi ele que nos deu todo o ensinamento quando começamos a correr e agora retornamos a parceria que deu sempre muito certo. Temos uma gratidão e respeito enorme por esse cara. Devemos a ele nossa chegada até aqui e sabemos que juntos vamos ainda muito longe.”

Com o resultado obtido em Sevilha, de 2:10:08, Paulo Roberto passa a ser o 2º melhor atleta das Américas em maratona na categoria 40-44 anos, atrás somente do mexicano Andres Espinosa Perez (2:08:44 em Berlim 2003), e o 5º no mundo.

ENTREVISTA

Por que escolheu Sevilha para a primeira tentativa do índice?

PAULO: Como optei por fazer duas maratonas para a tentativa do índice, Sevilha era a melhor do calendário. Se não obtivesse o índice, daria tempo de fazer outra antes do encerramento do prazo.

Como foram os treinos e desde quando você estava focado para esta prova?

PAULO: Meu treinamento começou após o Mundial de Doha e foi focado na qualidade da obtenção de força, pois percebi que em maratonas anteriores a partir do km 35 tinha dificuldade em manter o ritmo. Então dessa vez optei por fazer um trabalho com maior volume de quilometragem semanal aliado a fortalecimento na bicicleta ergométrica.

Suas passagens na prova foram bem regulares e conseguiu até aumentar um pouco o ritmo na segunda metade. Na sua live, você creditou o grande trabalho dos coelhos para levar o grupo de atletas a esse resultado. Como foi a interação entre estes atletas ao longo da prova?

PAULO: Minha característica é essa mesmo. Nos meus treinamentos já faço isso, mantenho sempre o ritmo, sem muita oscilação, pois assim consigo administrar melhor meu tempo. Na prova, como estávamos em um grupo grande, o pace ditava o ritmo e só tínhamos que segui-lo. E, a cada quilômetro após a saída do pace, nós nos alternamos entre o grupo, cada um puxando um pouco para não deixar cair o ritmo.

Quando teve a certeza de que o resultado viria?

PAULO: Desde que iniciei a prova já estava ciente do meu potencial. Fui preparado para fazer o tempo mínimo exigido para a Olimpíada. Então, mantive o controle de ritmo e assim fiz a prova tranquilo de que seguindo isso não teria como dar errado.

Conseguir recorde pessoal depois de 10 anos e ainda com 40 anos é com certeza especial. Seu melhor resultado em maratonas até então foi obtido 2012, em Pádua, na Itália, quando fez 2:10:23. Você esperava isso?

PAULO: Não esperava quebrar meu recorde pessoal. Não corri pensando nisso, mas muitos fatores positivos contribuíram para a obtenção desse tempo. Estou em uma fase em que não me preocupo muito com cobranças e as coisas acabam por acontecer naturalmente.

Quem acompanha sua trajetória percebe que você consegue os resultados na hora certa e por isso está prestes a carimbar sua 3ª participação nos Jogos Olímpicos. Ao que você credita isso?

PAULO: Acho que não “consigo” os resultados na hora certa. Trabalho por anos para “mostrar” o resultado no momento em que é necessário. Um trabalho para uma Olimpíada começa assim que termina a última. Foram 4 anos me dedicando a isso. É à dedicação e à disciplina que devo meu resultado.

Esse tempo de 2:10:08 é um resultado que muito provavelmente o coloca nos Jogos. Por que fazer uma segunda maratona? Nos Jogos de Londres você também repetiu uma maratona na sequência na tentativa de melhorar o resultado.

PAULO: Nunca fico na zona de conforto, fiz esse tempo, mas outros também podem fazer. Nada é certo até que se encerre o prazo. Não sou de me confortar e estacionar antes da hora. Prefiro me manter na disputa até o final. Fiz isso em Londres e vou repetir agora, pois não posso desmerecer e desacreditar no trabalho dos outros maratonistas. Ninguém é melhor do que ninguém, todos são capazes.

HISTÓRICO DE MARATONAS

Amsterdã, Holanda (2011) – 2:13:12
Barcelona, Espanha (2012) – 2:11:53
Pádova, Itália (2012) – 2:10:23
Londres, Inglaterra (Jogos Olímpicos 2012) – 2:12:53
Pádova, Itália (2013 – 2:13:00
Moscovo, Rússia (2013) – 2:11:43
Fukuoka, Japão (2015) – 2:11:02
Viena, Áustria (2016) – 2:13:58
Rio de Janeiro, Brasil (Jogos Olímpicos 2016) – 2:13:56
Viena, Áustria (2017) – 2:14:13
Fukuoka, Japão (2017) – 2:13:37
Viena, Áustria (2018) – 2:13:30
Hamburgo, Alemanha (2019) – 2:14:37
Doha, Catar (2019) – 2:15:04
Sevilha, Espanha (2020) – 2:10:08 (recorde pessoal)

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