ACERTE O PASSO – Márcio Dederich – Fevereiro 2008
Nas corridas não existem verdades eternas. No máximo umas têm prazo de validade maior e duram mais que outras. Estar ou não em dia com as novidades pode significar tanto o prazer de um novo recorde pessoal como a frustração de abandonar a prova.
No caso da hidratação, bastou que fossem divulgados os efeitos do excesso de líquidos sobre o organismo do corredor para que a recomendação de beber água abundantemente caísse por terra. Fato semelhante aconteceu com o álcool, que em determinadas condições deixou de ser tabu para quem corre. Depois de tanto tempo na base da pirâmide alimentar e no alto do pódio, até mesmo os velhos carboidratos passaram a ser classificados em bons e maus…
Nesse vaivém de novidades, os atletas menos informados perdem terreno e vão ficando para trás. Novato ou veterano, treinando ou competindo, estar em dia com as verdades do momento passou a fazer parte da base de todo corredor moderno. Sob a forma de dicas e macetes, a seguir apresentamos as verdades “da hora” nas corridas. Para quem precisa, é só acertar o passo.
Avaliação médica inicial
Nada de queimar a largada. Para evitar o surgimento de problemas – ou o agravamento dos já existentes -, antes de calçar o tênis e sair acelerando por aí, todo corredor deve passar por uma avaliação médica inicial mínima. Nessa avaliação, além da consulta propriamente dita, é importante que seja feito o teste ergométrico, também chamado teste de esforço. À primeira vista as perguntas feitas pelo médico durante a consulta podem parecer sem sentido. Não se iluda, elas não o são. Por meio das respostas obtidas o médico forma o histórico do paciente e adquire condições para melhor orientá-lo. Um joelho que volta e meia incomoda, a intolerância a esse ou aquele alimento, as dores aqui e ali, a cirurgia feita no passado, o fato de acordar várias vezes à noite… Aquilo que o futuro corredor só pensa em ver pelas costas pode muito bem servir para orientar seu próprio treinamento. Em determinados casos, a partir das informações colhidas na consulta é possível que o corredor seja encaminhado para exames complementares, ou mesmo orientado a procurar algum outro especialista, entre os quais cardiologistas, ortopedistas, nutricionistas ou endocrinologistas.
Dica maior
De travesseiro a uniforme novo, de xampu a barras energéticas, nunca experimente nada às vésperas da corrida. Toda e qualquer experiência, seja de que natureza for, deve ser feita fora dessas ocasiões. Evite também fazê-las em um dia de treino importante. Em se tratando de alimentação, como o organismo necessita de um tempo hábil para responder, a prudência recomenda que também não se façam experiências nos dias que antecedem a prova.
Amacie antes, use depois
Tênis novos, camiseta moderninha, uma barra energética importada que você nunca ouviu falar, um short maneiro, um óculos que é o bicho… É de lei: corredor quando aniversaria ganha um monte de acessórios. Comemore, fique feliz, agradeça. Mas se a próxima corrida importante for amanhã, esqueça tudo na gaveta! Nos treinos, quando alguma coisa incomoda, você pode cortar caminho e voltar para casa mais cedo. Fazer isso numa corrida séria pode significar ficar se lamentando o resto da vida. Estréie seus mimos nos treinos menos importantes. Amaciados eles rodam melhor.
Tênis desamarrado
Parar, agachar, levantar, embalar de novo… Quem já passou por isso sabe: não tem nada pior que ser obrigado a parar no meio de uma corrida para amarrar o tênis. E se for nos trinta e tantos de uma maratona aí então nem se fala. Para evitar que isso lhe aconteça, ao invés de apenas um, dê dois laços nos cadarços. E lembre-se: eles costumam desamarrar mais facilmente quando ficam molhados. Como chuva, suor, garoa e neblina molham do mesmo jeito, é melhor prevenir do que desistir: dois laços sempre! Mesmo que por alguns metros, correr com o cadarço desamarrado nem pensar! Também existe um pequeno plástico que segura o laço firmemente e é encontrado no pessoal que faz a feirinha nas corridas.
Vaselina
Nos dias muito frios, espalhar a vaselina no corpo fica complicado. Nessas ocasiões, substitua a vaselina sólida pela líquida. Por espalhar-se melhor a lubrificação será mais eficiente. Outro detalhe: além de aplicar na área que você precisa, aplique também acima dela. Fazendo assim ela vai “escorrer” durante a corrida e continuará lubrificando por mais tempo a região que você quer. Importantíssimo: nada de vaselina industrial. Use apenas a de grau farmacêutico. Além do cheirinho agradável, o óleo de amêndoa também lubrifica bem. Para proteger os mamilos masculinos só vaselina costuma funcionar. Mas se você já experimentou e não resolveu, então coloque um esparadrapo ou corra com uma camiseta regata bem fininha por baixo.
Barba
Pódio ou não, na hora da foto de chegada todo mundo quer estar bem bonitinho. Se você é daqueles que gosta de correr sempre barbeado, para evitar que a ardência causada pelo suor que penetra nos pequenos cortes deixados pela lâmina de barbear atrapalhe a sua concentração na corrida, faça a barba à noite, antes de dormir. Outra alternativa é usar barbeador elétrico.
Para evitar bolhas
Mesmo que não o façam parar, bolhas são um inferno. Complicam a vida de qualquer corredor. Provocadas pelo calor gerado do atrito, a melhor forma de evitá-las é lubrificando as partes que se tocam. É aí que a vaselina entra em cena. No caso dos pés, experimente passar Vickvaporub. Além de lubrificar, a cânfora e o mentol dão uma agradável sensação de frescor. Mas atenção: passe pouca quantidade e espalhe muito bem. Seja que lubrificante for, se lubrificar demais a meia acaba deslizando e sendo engolida pelo tênis.
Tênis maior
Corredores de longa distância costumam usar tênis sempre um ou até dois pontos acima. Existe lógica nisso. É que durante a corrida os pés se dilatam pelo aumento do fluxo sanguíneo. No entanto, como muito folgados os tênis também causam problemas, o ideal é comprá-los sempre à tarde, quando seus pés já estarão naturalmente inchados. Assim fica mais fácil calcular a folga sem exagero. Não se esqueça de experimentá-los com as meias que costuma correr.
Truque mental
Vai sair para o primeiro longuinho e a distância lhe assusta? Relaxe. Experimente dividi-lo mentalmente em duas ou três etapas. Assim as coisas ficarão mais fáceis para você. Ao invés de pensar nos dezoito quilômetros, procure vê-los, por exemplo, como sendo três etapas de seis. Concentre-se nelas, uma de cada vez. Funciona de verdade.
Há outros truques parecidos. Esse por exemplo: na segunda metade de uma prova, quando quiser fazer o chamado split negativo (correr mais rápido na segunda parte) ou simplesmente acelerar, mire um corredor que esteja indo mais rápido na sua frente. Depois, lenta, firme e consistentemente tente ultrapassá-lo. Quando conseguir, escolha outro e repita a dose. Tudo com moderação, claro!
Este também é bom: quando você estiver correndo atrás de um outro corredor, procure fixar seu olhar sempre nos ombros e nunca nos pés dele. Dessa forma, como o ponto de referência não fica constantemente se movendo, será mais fácil você manter seu ritmo sem se deixar confundir ou influenciar pela passada ou a cadência dele. E ainda com vantagem de correr no vácuo deixado pelo outro corredor…
Cor do uniforme
Não se trata de sensação térmica: é calor mesmo, calor de verdade! Por não refletirem os raios solares – e sim os absorverem – as cores escuras esquentam mais que todas as outras. A cor preta é a campeã do efeito estufa. Como de quente já basta a prova, pense nisso quando você for vestir ou comprar seu próximo uniforme de corrida. Por cobrir o tórax, a diferença é mais sentida na camiseta que em outras peças do vestuário.
Fácil de ver
Trabalho, escola, família… Você tentou conciliar os horários, mas não teve jeito: só consegue mesmo treinar antes de amanhecer ou então à noite. Nos dois casos está escuro. Nessa situação, indo ou não para a estrada, não descuide da sua segurança: além de correr no acostamento e de frente para o trânsito, use sempre uniformes de cores claras, vivas e refletivas. Em dias muito nublados use a mesma técnica. O importante não é apenas ver, mas também ser visto. Uma boa opção é usar coletes refletivos, encontrados em lojas de esporte.
Unhas dos pés
Nas corridas, principalmente quando há descidas fortes, se as unhas dos pés não estiverem bem aparadinhas é problema na certa. Pressionadas contra a parte interna do bico do tênis, além do desconforto que provocam, elas podem lhe tirar facilmente da prova. Procure manter as unhas dos pés cortadas sempre bem rente, principalmente as do dedão. E como há o risco de você se ferir ao cortá-las, evite fazer isso na semana da prova.
Pista inclinada
Para facilitar o escoamento da água das chuvas, estradas, ruas e avenidas costumam ter suas pistas inclinadas do centro para os lados. Embora variem muito de ângulo, junto às laterais essas inclinações são mais acentuadas. Como os pés são obrigados a ficar desnivelados – um mais alto que o outro -, correr nessa situação por muito tempo pode comprometer não apenas o desempenho, mas principalmente suas articulações. Outro aspecto é que as laterais acumulam mais detritos. Nos dias de chuva são um perigo.
Tangência
Na aferição da distância de uma prova leva-se em consideração a forma mais eficiente de fazer as curvas. Ao se afastar dessa linha imaginária você estará aumentando sua corrida. Otimize seu percurso cortando as curvas legalmente: comece-as bem aberto, tangencie-as no ponto mais interior possível e saia abrindo novamente. O ideal é conhecer o trajeto antes. Se já houver um grupo tangenciando, não entre no bolo nem force passagem: fique atrás ou vá por fora. Muitos acidentes acontecem nessa situação. Lembre-se: sair do trajeto oficial cortando percurso não vale.