Especial Performance e Saúde Redação 13 de março de 2013 (0) (134)

Nutrição em ultra por trilhas

Fernanda Maciel é, disparado, a mais importante atleta brasileira de Ultra Trail Run. Há quatro anos morando e competindo na Europa, esta mineira de Belo Horizonte é uma das top 5 do mundo na modalidade e em outubro tornou-se a primeira mulher a correr o Caminho de Santiago. Um trajeto de cerca de 900 km feito em 10 dias. Isso mesmo, 10 ultramaratonas de 90 km, em média, por dia. O objetivo: arrecadar fundos para instituições que trabalham no combate ao câncer infantil.

Em janeiro, Fernanda, que também é nutricionista, esteve no Brasil e aproveitou a oportunidade para passar seus conhecimentos e experiências em uma clínica de Trail Run, juntamente com o atleta e treinador Iazaldir Feitoza, na Floresta da Tijuca, no Rio.

"É sempre bom compartilhar isso com os atletas e ajudar a divulgar esta modalidade. Resolvi estudar nutrição exatamente porque eu não conseguia me satisfazer com as informações que recebia. Os nutricionistas não entendiam as minhas necessidades como corredora de ultras por trilhas. Tinha muita dificuldade com isso", conta Fernanda, que tem formação em Nutrição, Farmacologia e Suplementação no Esporte.

Segundo a atleta, o planejamento nutricional tem interferência direta na performance de um participante de trail run, em razão da especificidade de treinos e provas. O impacto que sofre o corpo – e claro, o estômago – durante as atividades exige uma dieta extremamente específica, principalmente para aqueles que buscam o alto rendimento.

"Tudo deve ser muito bem planejado. O corpo chacoalha o tempo inteiro e é preciso pensar em alimentos e suplementos que atendam às necessidades nutricionais do atleta durante aquela atividade, mas que também tenham rápida digestão. É comum ver corredores sofrendo com problemas de estômago durante as ultras, que são longas, duras e quase sempre disputadas em locais muito frios. O ar frio também prejudica o estômago", diz Fernanda, que nos últimos anos venceu provas importantes, como a Transgrancanaria (Ilhas Canárias/Espanha); STY Mont Fuji (Japão); TDS Du Mont Blanc (França/Itália); e as Ultra Trail Runs de Andorra e Lavaredo (Itália). 

 

PLANEJAMENTO NO DIA. Fernanda Maciel ressalta que o planejamento nutricional é tão importante quanto o treinamento em si. "Na verdade, o que comemos e bebemos na prova é simplesmente fundamental", apressa-se em dizer a atleta, confessando que durante anos julgou que para vencer bastava o treinamento propriamente dito. E se ainda lhe restava alguma dúvida de que a parte nutricional tinha um peso menor em todo este processo, ela se foi durante o Caminho de Santiago.

"Minha alimentação durante o percurso foi minuciosamente planejada. Não poderia contar com o que tivesse à disposição no caminho", resume a atleta, que atualmente é responsável por testar os protótipos de material esportivo da The North Face, uma das principais marcas de produtos trail run do mundo. 

Fernanda Maciel ressalta que a prescrição de nutrição e suplementação segue a individualidade de cada atleta, mas que tudo parte de uma base comum a todos. Sempre se levando em conta a intensidade e o volume de treinos.

"Para aqueles que treinam sem forçar, em média pouco mais de uma hora por dia, basta uma alimentação saudável e equilibrada. Mas se os treinos forem mais fortes, com tiros, por exemplo, isso já muda. No caso daqueles que treinam mais de 2 horas por dia, exige-se uma dieta rica em carboidratos e proteínas. Para aqueles que transpiram muito, atenção aos sais e à hidratação. BCAA, para recuperar a massa muscular; glutamina, para aumentar a imunidade; e um multivitamínico também é bem-vindo", explica Fernanda, lembrando que vale ficar atento aos níveis de ferro no organismo.

 

ANTES DA COMPETIÇÃO. Já o que será ingerido imediatamente antes da prova deve ser testado durante alguns treinos. Isso não é novidade. Porém, Fernanda Maciel dá algumas dicas que valem tanto para o corredor de asfalto quanto para o de montanhas. Nas duas horas que antecedem a largada evite alimentos com fibras, como pão integral e verduras.

"Eles estimulam a produção de bolo fecal e ninguém quer ser surpreendido por uma vontade de ir ao banheiro durante a prova. Produtos lácteos, gorduras e açúcar também não são aconselháveis, porque demandam longa digestão. Duas dicas importantes: ingestão de arroz branco, que é 100% natural e tem carboidrato; e de quinoa, que contém sais, proteínas e vitaminas. Tudo isso com rápida absorção, o que é muito bom para os atletas", diz Fernanda.

Durante provas longas (de mais de 5 horas), o organismo precisa de algum alimento sólido. Segundo Fernanda, isso é importante para evitar o acúmulo de suco gástrico, que provoca acidez e mal-estar no atleta. "Já vi gente passando muito mal por conta disso, de optar por não comer nada numa prova longa. Outra boa opção é a ingestão de água com cápsulas de sal, já que depois de um determinado momento, já não se suporta mais o isotônico", completa a atleta-nutricionista.

 

PÓS-PROVA. Fernanda Maciel alerta para o pós-prova, para o qual muitos atletas dão pouca ou quase nenhuma importância. "São duas horas que fazem toda a diferença. Nesse período o atleta começa a recuperar o seu corpo. Se deixar para depois, a recuperação é excessivamente demorada. Além de sais, proteínas e produtos nutricionais, sugere-se a ingestão de colágeno, que recupera e fortalece os tendões, extremamente exigidos nas provas de trail run. Um pós-prova bem orientado favorece a recuperação de células e músculos", completa Fernanda, lembrando que a nutrição é algo bem pessoal e que cada atleta pode reagir de uma maneira específica a um programa de nutrição. Por isso é sempre necessário o acompanhamento por um profissional especializado e com experiência na modalidade praticada pelo atleta.

 

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