Márcia Narloch. Este é o cartão de visitas do Projeto Bem Viver Caminhadas e Corridas, da Associação de Professores Públicos Ativos e Inativos (APPAI) do Estado do Rio de Janeiro. Maratonista olímpica, medalha de ouro no Pan de Santo Domingo e tricampeã da Maratona de São Paulo, entre outras centenas de pódios, Márcia Narloch não é uma mera madrinha do projeto – que leva cerca de 2 mil corredores amadores a cada prova de rua no Rio de Janeiro. Ela põe a mão na massa e junto com o seu treinador, Jorge Augustinis, o Filé, coordena também a equipe de elite da entidade, que tem entre outros atletas os irmãos Cosme e Damião de Souza.
O projeto Bem Viver – ou equipe de corridas da APPAI – surgiu há cerca de um ano e meio e hoje é de longe a maior equipe nas provas que participa. Com 220 mil professores associados, a APPAI tem cerca de mil inscritos no Bem Viver. "Como as inscrições nas provas são por nossa conta e o projeto é extensivo aos familiares, chegamos a levar cerca de duas mil pessoas aos eventos, para caminhar ou correr. Sempre temos nestas provas alguém de alto rendimento, para competir e interagir com os nossos associados", conta Júlio Cesar da Costa, diretor da APPAI.
Atualmente o projeto tem seis núcleos espalhados pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em cada um deles, profissionais de Educação Física – alguns são treinadores em suas próprias assessorias – orientam os atletas e dependendo da necessidade e da meta de cada um prescrevem uma planilha individualizada. "É como estar numa assessoria esportiva. Tudo muito profissional para dar mais qualidade ao treino destas pessoas. Nas provas a estrutura é de alto nível. Tudo custeado pela associação, já que os professores já pagam sua mensalidade", explica Júlio Cesar, lembrando que novos polos serão abertos ainda este ano.
O diretor da APPAI corre desde 1979, época em que conheceu Márcia Narloch, com quem já deu boas corridas. Daí para o convite para que ela e o treinador Filé fizessem parte do projeto foi um pulo. No início, a ideia era oferecer as atividades do Bem Viver apenas para os funcionários da APPAI, mas o sucesso do projeto logo fez com que ele fosse oferecido aos associados.
"Na verdade, ao aceitar este desafio eu já pensava nisso. Minha vida inteira foi como atleta profissional e eu tinha a intenção de fazer um trabalho onde houvesse promoção da saúde através das corridas, busca de novos valores e equipe de alto rendimento, até para estimular os amadores. Acertamos em cheio", conta Márcia Narloch, lembrando que, ao estender as atividades aos familiares, a APPAI abre a possibilidade de descobrir novos talentos. "Não tenho como fugir disso; da busca por novos talentos do atletismo e do alto rendimento. Como o projeto existe há um ano e meio apenas, é cedo para indicar algum jovem que possa ganhar destaque, mas em breve esperamos começar a identificar crianças e adolescentes com o perfil de um atleta de elite", revela Márcia, garantindo que só aceitou a proposta porque conhece a visão ampla de Júlio Cesar em relação ao esporte, em especial às corridas de rua.
SAÚDE E PERFORMANCE. Em um ano e meio de trabalho já é possível identificar entre os associados vários casos de mudança de atitude e de hábitos, que agora proporcionam uma vida mais saudável. Agora, a expectativa é ver – embora não seja este o foco nesta vertente do projeto – alguns professores associados baixando tempo e mostrando evolução nas provas.
"Temos muitos professores que tomaram um gosto tão grande pelas corridas, que hoje buscam performance e cumprem a planilha com disciplina para baixar seus tempos. É muito bom ver isso", conta Márcia, que serve de inspiração para os treinadores e para os associados.
"Para os treinadores é uma oportunidade única estar ao lado da Márcia Narloch. Por mais que ela não esteja nos treinos todos os dias – até porque são vários polos – ela é uma referência para os treinadores e um exemplo e uma motivação para os associados", explica Júlio Cesar.
Aliás, a própria Márcia vai colecionando algumas histórias, que vão surgindo do contato com os corredores amadores. "Outro dia uma associada chegou até mim e disse que era louca para me conhecer. Que sempre foi adepta das corridas, mas achava que nós, da elite, éramos intocáveis. Ela disse que nos via chegando naquele funil e depois nós só aparecíamos para a premiação. Para ela, o fato de sermos da elite nos afastava da massa corredora. Expliquei que seguíamos a orientação dos organizadores e que, na verdade, os corredores de elite costumam ser pessoas muito simples", conta Márcia.
Aliás, na equipe da APPAI isso fica muito claro, já que nas provas não há distinção ou separação dos amadores em relação ao grupo de elite, hoje com oito corredores. Todos dividem o mesmo espaço antes e depois das provas, proporcionando troca de experiências e motivação mútua.
ELITE E AMADORES. "Os amadores ficam felizes em estar lado a lado com os atletas da elite. Fazem perguntas e tiram fotos. Mesmo nas provas chamadas promocionais, em que não há premiação em dinheiro, selecionamos corredores da elite para participar. Faz parte da nossa estratégia para atrair cada vez mais associados para o Bem Viver. Os atletas também se beneficiam disso porque acabam tendo uma grande torcida na prova. Muitos deles não estavam habituados a isso", completa Márcia.
Elite da APPAI desde 2010, Paulo Machado, conhecido na equipe como Pastor, é um bom exemplo dessa motivação. Desiludido com o esporte, o corredor quase voltou para sua cidade natal – Palmeira dos Índios (AL). Acabou conhecendo a APPAI por meio de Cosme Ancelmo de Souza, também da equipe. "Agradeço por ter conhecido esta multidão de verde. Eles nos transmitem muita energia nas provas. Eles gritam o nosso nome e isso faz diferença no fim da prova. É difícil dizer o que sinto quando estou no pódio e vejo todo aquele povo gritando o meu nome", conta Pastor.
COSME E DAMIÃO: EXEMPLOS!
A promoção da saúde e o incentivo por uma melhor qualidade de vida são as marcas do Bem Viver, mas, assim como em sua vitoriosa carreira como corredora, Márcia Narloch quer ir além. E está conseguindo. Os planos de ter uma equipe de alto rendimento sempre caminharam junto com os de oferecer aos associados da APPAI a oportunidade de treinar e correr.
Hoje a equipe tem oito atletas treinados pelo não menos vitorioso Jorge de Augustinis Oliveira, ou simplesmente Filé. O treinador é profundo conhecedor do atletismo de fundo e acompanhou Márcia Narloch nos melhores anos
de sua carreira.
"Estamos oferecendo a estes atletas o que há de melhor em treinamento e suporte para um bom rendimento nas corridas de rua. Nosso objetivo é preparar atletas para lutar por vagas nas Olimpíadas de 2016", conta Filé, que ministra os treinamentos no Centro de Desportos da Aeronáutica, que fica no complexo da Universidade de Força Aérea, na Zona Oeste do Rio. O complexo tem uma das mais modernas pistas de atletismo do Brasil.
Segundo Filé, este detalhe pode fazer a diferença na melhora dos tempos destes atletas. Alguns deles, como Damião de Souza, ex-Pé de Vento (equipe do médico/treinador Henrique Viana), não tinham o costume de treinar em pista e assim não conseguiam total controle sobre sua corrida. "É essencial treinar em pista. Nem todos os técnicos pensam assim. Quem treina forte na pista tem um rendimento melhor no asfalto. Além disso, terá também maior possibilidade de êxito nas provas de pista", afirma Filé, que há cerca de um mês recebeu o reforço de Damião de Souza. Damião chegou à equipe seguindo as boas referências do irmão gêmeo, Cosme, que treina com Filé há três anos, desde o início de 2011, como Equipe APPAI.
"Dependíamos muito da premiação para nos mantermos. Agora, o projeto de elite da APPAI nos dá mais segurança e um apoio importante para seguirmos nossas carreiras com sucesso", disse Damião. Cosme faz coro com o irmão e espera que a proximidade dos dois também ajude a melhorar o rendimento. "É sempre bom tê-lo por perto. Trocamos informações e estamos sempre nos ajudando", conta o corredor.
Cosme e Damião dividem o apartamento com a policial militar Gisele Barros de Jesus, também da elite da APPAI. "Nas provas também represento a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e conto sempre com a boa vontade da minha comandante para manter a rotina de treinos", conta Gisele, quarta colocada na Maratona do Rio, com 2h47.
Márcia comenta que não imaginava que seus planos de trabalho com o alto rendimento se completariam com as outras vertentes do projeto Bem Viver. "A função da APPAI é oferecer benefícios a seus associados e familiares. Com a equipe de elite, procuramos dar uma contribuição para o esporte, de olho nas próximas Olimpíadas. Com os associados trazendo seus familiares, é certo que teremos jovens de talento. Os atletas de elite também podem estimular estes jovens a buscar o atletismo; servem de referência", completa Márcia.
Júlio Cesar da Costa, diretor da APPAI, acrescenta um dado importante. "Estamos falando de cerca de 220 mil associados que podem trazer seus familiares. Então, quantas crianças e jovens terão a oportunidade de mostrar o seu valor e se tornarem atletas de alto rendimento? Estamos preparados para isso", afirma Júlio Cesar. É esperar para ver.