Especial admin 5 de novembro de 2012 (0) (74)

Quebrando regras

No mundo da corrida, existem algumas máximas. Uma delas: correr maratonas na sequência só é possível caso você deixe de lado a preocupação com o resultado. Mesmo assim, para fazer isso precisa ser magrelo, descansar muito e a possibilidade de lesões é enorme. Porém, o médico ginecologista e obstetra Victor Hugo de Almeida, de Cuiabá, prova na prática que a teoria é bem diferente.

Fugindo desse estereótipo, ele já completou sete maratonas este ano (sendo apenas uma acima de 4 horas, no Deserto do Atacama), fez 3h28 em Paris e pretende terminar o ano com mais três no currículo (Buenos Aires, Nova York e Curitiba).

Quem olha para Victor não imagina os tempos que ele tem. Longe disso. Muitos chegam a duvidar: "Esse ‘gordinho' corre rápido?", pensam secretamente. Mas depois, esses mesmos, passam a ter certeza quando são ultrapassados pelo médico nas corridas… As melhores marcas? 42:37 nos 10 km, 1h34 na meia e 3h26 em maratona.

Ele recebe as planilhas por e-mail sempre para um período de quatro semanas, enviadas pelo técnico Fernando Góis, que recentemente trocou Cuiabá por Florianópolis. Mas Victor não quis saber de mexer em time que está ganhando. Manteve a parceria. "São sempre três treinos de corrida progressiva em ritmo e volume, rodando de 50 a 70 km semanais, fechando com um longo no final de semana. Faço meus treinos diariamente das 5h às 7h, na maioria das vezes em asfalto e, os de ritmo, na pista." Duas vezes por semana, realiza fortalecimento muscular. "E sigo também as orientações do grande cacique e editor Tomaz (Lourenço, da Contra-Relógio), com quem tive o prazer de correr na Maratona de Porto Alegre de 2009, pois as dicas de suas colunas são valiosas."

 

NO CALOR DE CUIABÁ. Um detalhe fundamental também deixa o treinamento ainda mais complicado. "As condições de treinos em Cuiabá. Que na verdade são de sofrimento. Começamos às 5h com pelo menos 24°C e terminamos às 7h com 34°C. Nesse período, a umidade do ar é quase zero", explica. No dia da entrevista para a Contra-Relógio, por exemplo, Victor tinha feito uma cesariana à 1h30 e foi para a cama às 2h30. "Às 5h o tênis já estava batendo na porta do quarto e corri 10 km em 46 minutos."

Segundo o corredor, a alimentação não inclui qualquer suplemento, sendo baseada em vegetais e frutas. O médico revela ainda um "segredo" pré-maratona. "Nos dois dias anteriores tomo dois isotônicos ao dia; 1/2 litro de suco de beterraba e batata-doce. Nas três horas antes da maratona como 200 gramas de arroz-doce ou batata-doce e tomo um isotônico, e meia hora antes como um pão francês."

Mas, então, qual a estratégia para não se machucar? "Para relaxar e prevenir lesões após a corrida, tomo um choque térmico de água fria/quente/fria, e duas horas após, já estou legal. Até porque no dia seguinte tenho a minha ultramaratona: plantão de 24 horas em maternidade pública com média de 30 partos/dia."

Victor gosta de desafios e a inspiração para as maratonas em sequência surgiu após a leitura do ultramaratonista americano Dean Karnazes. "Algum tempo depois de conhecer o Rafael Bonatto (ultra brasileiro), senti que seria possível colocar em prática o meu sonho: correr em agosto de 2023 a minha centésima maratona, quando completarei 60 anos", afirma o médico, hoje com 49 anos de idade.

 

TWO OCEANS E COMRADES. A corrida sempre fez parte da vida de Victor. Essa pode ser uma das explicações para não se machucar. "Comecei na década de 1970, quando tive um professor de atletismo, o Antonio Carlos Pandolfo. Desde então, nunca mais parei, mas em alguns poucos momentos, por excesso de trabalho, tive que deixar de lado a corrida e pagava caro com o ganho de peso, mas nunca fiquei sem pelo menos trotar e graças a Deus não tive qualquer lesão que me impedisse de exercitar", explica. "Participei de centenas de corridas de 10 km desde 1984, algumas dezenas de meias e finalmente me realizei nas maratonas. Em janeiro começo a me preparar para a Two Oceans-2013 e para a Comrades-2014 (ultras de 56 e 89 km, respectivamente, na África do Sul)."

Victor, inclusive, foi um dos primeiros inscritos para o Desafio Caixa-CR Sub 40 nos 10 km. "Porém, logo após surgiu o desafio da maratona sub 3h30 e migrei para esta, mas infelizmente foi postergada pela revista para o próximo ano. Nesse período, consegui um controle maior do peso chegando ao IMC de 25 (eliminei 4 quilos) à custa de orientação nutricional."

O médico dá a receita para quem está lendo esse texto e ficou com vontade de arriscar maratonas em sequência. "Para evoluir na corrida, é preciso muita disciplina, consistente fortalecimento muscular, alimentação simples e adequada e objetivos mentais de realização pessoal. Com a corrida fiz muitas amizades sólidas e ganhei verdadeiros irmãos."

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