"Desde muito cedo, incentivadas pelo pai, as gêmeas Daniela e Gabriela Arantes, 29 anos, de São Paulo, se envolveram com esporte. Começaram com futebol. "Onde morávamos só havia meninos e era com eles que jogávamos", conta Daniela. Elas foram praticamente as primeiras meninas a ingressar em uma escolinha de futebol e, boas de bola, chegaram ao nível profissional na modalidade. Paralelamente, jogavam tênis. "Futebol era o esporte que levávamos a sério, o tênis era como uma brincadeira", diz Gabriela.
Na hora de decidir por uma profissão, a escolha foi natural: fizeram faculdade de educação física – e hoje comandam a assessoria Tiro Certo Personal Trainer. Foi ali, no ambiente universitário, que tiveram contato com a corrida. "Começamos a fazer provas e não paramos mais."
Pouco antes de o pai falecer, em 2001, ouviram dele um pedido que consolidou de vez a paixão pela atividade física: "Ele nos disse: ‘quero que vocês façam esporte todos os dias da vida'", lembra Daniela.
Mas, alguns meses depois, um diagnóstico de diabetes tipo 1 (veja box) recebido por Gabriela abalou o mundo das meninas. "Eu nunca tinha tido contato com a doença. Não sabia nada sobre o assunto. No primeiro momento a gente se assusta. Tive que aprender do zero a lidar com a situação", conta Gabi.
Superligada à irmã, Daniela chegou a se sentir culpada. "Eu me questionava: por que com ela e não comigo?" Dani, na verdade, tinha os genes que também indicavam a probabilidade de diabetes, mas seu diagnóstico só seria consolidado 10 anos depois, em outubro de 2011.
ESPECIALISTAS NO TEMA. Com ajustes na alimentação e usando a medicação correta, Gabi pode levar uma vida normal. Dani, claro, ajudou muito em todo o processo: "Eu só não tomava as injeções de insulina. De resto, fazia tudo igual a minha irmã. Tanto que, quando fui diagnosticada, já sabia tudo."
Para entender mais sobre a doença, melhorar a qualidade de vida e até ajudar outras pessoas, as duas se tornaram especialistas em exercícios físicos formulados para portadores de diabetes. "Muitos médicos desencorajam seus pacientes a praticar atividades de alta intensidade. Mas nada é proibido. A gente só precisa entender o corpo e aprender a fazer os ajustes", diz Gabi.
Quando corre uma maratona, por exemplo, ela mede a glicemia de 5 em 5 km. "É importante porque os sintomas de hipoglicemia (cansaço, tontura) podem ser confundidos com a exaustão do exercício." E usa bomba de insulina – um dispositivo preso à cintura e ligado ao corpo por um cateter, que libera minidoses do medicamento -, previamente programada de acordo com sua necessidade. Balinhas e géis também estão sempre à mão, para o caso de uma reposição rápida de açúcar.
Tão logo teve o diabetes confirmado, Dani também passou a usar a bomba de insulina. "Para quem tem um estilo de vida mais ativo é melhor do que a injeção."
DECISÃO NO SPRINT. Esportistas saudáveis e de bem com a vida, elas acabaram inclusive sendo escolhidas para representar o Brasil na Maratona Medtronic Twin Cities, em Minneapolis, Estados Unidos, em outubro. A iniciativa faz parte do programa Global Heroes da Medtronic, que há sete anos recruta corredores usuários de tecnologias médicas de todo o mundo para participar do desafio.
A expectativa é grande. Gabi vai encarar os 42 km, enquanto Dani, devido a uma lesão, optou pela distância de 10 milhas (16 km). "Mas vou tentar esperar minha irmã nos cinco quilômetros finais para completarmos juntas", planeja Dani.
As gêmeas têm os paces praticamente iguais e gostam de correr lado a lado. Mas nos metros finais de uma prova a coisa muda um pouco de figura… "Quando a gente vê a linha de chegada, é cada uma por si. No sprint ganha quem for mais rápida. Tem até uma bolsa de aposta entre nossos maridos para acertar a vencedora", brinca Dani.
"BRIGA" NO KM 30. Apesar dessa "rivalidade", elas nunca discutem. A exceção aconteceu na única vez que não terminaram uma prova juntas. Foi durante a primeira maratona, em Amsterdã, em 2010. "Estava tudo bem até o km 30. Mas eu sabia que a Dani queria fazer a prova abaixo de quatro horas. Então mandei que ela acelerasse porque eu não ia conseguir manter o ritmo", conta Gabi. "Eu sempre tive medo da Gabi passar mal em provas. Não queria ir sem ela, mesmo tendo de abrir mão de meu objetivo."
As duas chegaram a parar para "brigar". "As pessoas passavam e não entendiam o porquê daqueles berros", conta Gabriela rindo. Resignada, Dani acabou acelerando e completou em 3h55, enquanto Gabi fechou com 4h05. "Foram 10 minutos de angústia esperando minha irmã", diz Daniela.
De tão idênticas, elas garantem que também sentem as mesmas dores. E igualmente costumam confundir quem está por perto. Dizem que é comum ouvir piadas do tipo: "acho que corri tanto que estou vendo dobrado".
Daniela e Gabriela são, sem dúvida, um incentivo e tanto para que todos busquem qualidade de vida, com paixão pelo esporte e respeito à saúde. "Com pequenos cuidados, levamos uma vida normal."
DOIS TIPOS DE DIABETES
TIPO 1: É caracterizado pela destruição das células beta produtoras de insulina. Isso acontece por "engano", porque o organismo as identifica como corpos estranhos. A sua ação é uma resposta autoimune. Surge quando o organismo deixa de produzir insulina (ou produz apenas uma quantidade muito pequena) – o que leva à necessidade de aplicação diária da substância para se manter saudável. Sem insulina, a glicose não consegue chegar até às células, que precisam dela para queimar e transformá-la em energia. As altas taxas de glicose acumulada no sangue, com o passar
do tempo, podem afetar olhos, rins, nervos ou coração.
Há casos em que a pessoa já nasce com genes que predispõem à doença. Pode ainda ser algo próprio do organismo ou até uma causa externa, como uma perda emocional ou forte estresse. É mais frequente em pessoas com menos de 35 anos, mas pode surgir em qualquer idade.
Principais sintomas: vontade de urinar diversas vezes ao dia; fome e sede frequentes; perda de peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor.
TIPO 2: Possui um fator hereditário maior que no tipo 1. Além disso, há grande relação com a obesidade e o sedentarismo. A incidência é maior após os 40 anos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Por muitas razões suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sanguínea. O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Em alguns casos, necessita ainda de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina.
Principais Sintomas: infecções frequentes; alteração visual (visão embaçada); dificuldade na cicatrização de feridas; formigamento nos pés.
Os benefícios da bomba de insulina
A bomba de insulina pode substituir as injeções através de seringa, permitindo ao diabético uma rotina de vida mais flexível, livre do esquema rígido de refeições e exercícios com hora marcada. Com esse dispositivo ligado ao corpo 24 horas por dia, a pessoa pode comer quando tem vontade, apenas ajustando a taxa de infusão de insulina à necessidade específica daquele momento, a fim de manter o nível ideal de glicose.