Especial admin 9 de outubro de 2012 (0) (136)

Baleias do asfalto

Nascida timidamente em Belo Horizonte, em 2002, a equipe Baleias tem hoje simpatizantes em vários estados: Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Pernambuco, Santa Catarina, Bahia, Distrito Federal, Maranhão e Sergipe. Nas mais diversas provas Brasil afora e até algumas pelo mundo, é possível encontrar ao menos um Baleia – embora eles prefiram andar em bandos. Como identificá-los? Fácil: vestem a indefectível camiseta laranja – ou "manto coral", como gostam de chamar – e estão sempre proseando e fazendo novos amigos, antes, durante e depois das corridas.

A equipe Baleias não é uma assessoria esportiva, não tem técnico, nem local comum para treinar. "Somos um grupo de amigos, corredores independentes. Fazemos nossos próprios treinos e planejamentos e tentamos programar encontros em algumas provas", explica o advogado mineiro Miguel Delgado, criador e "CEO" do grupo.  

Miguel começou a se enturmar com o esporte em 1999 – primeiro como caminhante, para perder peso, já que estava com 110 kg. Com o incentivo de um primo, médico e esportista, passou a correr. "No final daquele ano, com 16 kg a menos, fiz a inscrição para a 1ª Volta da Pampulha. Eu não entendia nada de corrida e achei que era obrigado a correr com a camisa da prova, que ficou bem ridícula no meu corpo de gordo."

 

GORDINHO CORREDOR. Ele prosseguiu com as corridas até se machucar e abandonar a prática diária. Mas em 2001, depois de um ano parado, resolveu voltar, repetindo a dose da Volta da Pampulha e emendando com a São Silvestre. 

Participando de corridas pequenas, Miguel diz que sempre mexiam com ele e seus quilinhos sobressalentes. "As pessoas gritavam ‘vai para casa, gordo' e me chamavam de leitão e baleia."

Nessa época ele corria com outro primo, magro e atlético. E, quando foram se inscrever para a 3ª Maratona BR de Revezamento no Rio de Janeiro, em 2002, tiveram que dar um nome para a equipe na hora da inscrição. "Perguntei se meu primo topava chamar a equipe de Baleias, que eu iria mandar fazer as camisetas. Tive essa ideia para acabar com a piada da turma que me amolava nas corridas e porque rir de si mesmo faz parte do melhor bom humor", explica.

Ele comprou seis camisetas de corrida e estampou o nome Baleias. "Eu fiquei, então, com quatro camisas extras e chamava alguns amigos para correr. Emprestava e recolhia a peça ao final".

 

CORRENTE DE AMIGOS. Em 2003, Miguel resolveu convidar o colega de faculdade Wuneni Arantes, que estava bem gordo, para correr. "A parceria com o Wu foi um sucesso e dura até hoje. Passamos a correr todas as provas e fazer planos e mais planos."

A segunda fornada de camisetas saiu com 35 peças, para 12 corredores já incorporados ao grupo. "Além de parentes, tínhamos conquistado alguns amigos nas corridas em BH, como o Olício Meireles, o primeiro Baleia não parente."

A ideia foi crescendo lentamente com a adesão de amigos da cidade. Só as mulheres resistiam. "A esposa de Wu não corria e dizia que só entraria para a equipe quando o nome fosse alterado. Hoje ela é conhecida como a primeira dama Baleias, enverga orgulhosamente o manto coral e vai fazer sua estreia nos 21 km em Assunção. Agora temos uma grande ala feminina. Muitas chegaram pela afinidade da luta pelo controle de peso. Certo é que a Equipe Baleias é um local onde as pessoas que buscam emagrecer se sentem bem e têm muito incentivo para a batalha. Não temos orgulho de ser gordos e tentaremos sempre reverter isso, mas entendemos as recaídas, os momentos de desânimo e acho que servimos para incentivar os amigos a estabelecer alguma meta", conta Miguel.

 

EXPANSÃO "MUNDIAL".  Foi depois da criação do blog da equipe, em 2009, que os Baleias expandiram fronteiras e passaram a ser conhecidos em todo o Brasil. "Como somos muito alegres e gostamos de desafios nas corridas, algumas pessoas passaram a se identificar conosco e se juntaram a nós."

Sempre bem-humorado, Miguel chama Belo Horizonte de Sede Mundial dos Baleias. "Tudo no nosso mundo é grandioso. Na Volta da Pampulha realizamos o Congresso Mundial Baleias. Em 2011 tivemos cerca de 70 Baleias corredores, mais a turma de apoio e as crianças. Já o Paraguai foi escolhido como sede do Congresso Internacional. Temos muito carinho com a Maratona de Assunção (26 de agosto) e somos muito bem tratados lá. Este ano levaremos 20 Baleias para lá."

Os Baleias não treinam juntos por questões geográficas. "Por isso, é da essência de nossa equipe correr todas as provas com nossa camisa porque é ali que nos aproximamos dos amigos. Vestir nossa camisa é indicar a todos que gostamos de uma prosa, de uma gentileza, de um sorriso".

Organização oficial – com sede fixa, divisão de departamentos e responsabilidades – não existe. Trata-se mesmo de um grupo de amigos, uma forma divertida de reunir corredores. "Eu sou o CEO, a Elis Carvalho, do Rio de Janeiro, é a vice-presidenta e quase todos os Baleias são diretores de algum setor. Se a pessoa quiser um cargo pomposo, a gente arruma", brinca Miguel. "E uma de nossas máximas é que cada uma paga o seu. Tento manter o dinheiro longe de nós porque é a primeira porta de desencontros."

ENTRE E FIQUE À VONTADE. Para se tornar um Baleias, é só chegar. "Os novos vão chegando por afinidade, por indicação de um amigo ou até por contato de e-mail. A primeira camisa é sempre um presente. Não se compra o manto coral para entrar na equipe", diz Miguel.

Mas a adesão ao grupo significa sempre correr as provas com a camiseta laranja. "Não dá para ser Baleias e também de outra equipe porque somos exagerados, gulosos. Queremos as pessoas que gostam e têm orgulho de ser Baleias mesmo na menor cidadezinha do mundo, sozinho em uma prova de 3 km, mas envergando o manto coral com muito carinho e satisfação."

Ser Baleias é um estado de espírito. "No mundo Baleias a pessoa pode correr do jeito que quiser e a distância que quiser. Celebramos e vibramos tanto com quem tem boa performance quanto com quem não é rápido. A vitória pode ser simplesmente estar ali e tentar. Costumo dizer que entre nós nem precisa correr. Cada um faz o que acha melhor para si. Os rótulos são para produtos."

Outra característica que o CEO faz questão de destacar é a certeza de que todos são amigos pelas corridas. "Não entramos em outras discussões porque a afinidade nas pistas não garante demais afinidades na vida. O que nos une é o esporte e o que nos desune é, potencialmente, todo o resto."

 

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