HORÁRIO DE TREINO: 4:15
ACORDANDO O GALO. O analista de sistemas Claudio Antonio Barbosa, de 44 anos, de Guaratinguetá (SP), começou a correr há três anos. E logo percebeu que seu corpo respondia melhor aos treinos pela manhã, antes de sair para o trabalho. "Em 2009 e 2010 trabalhava no Rio de Janeiro e tinha horário para entrar no escritório, mas não para sair. Depois de concluir minha primeira São Silvestre contratei uma assessoria esportiva e pela facilidade oferecida de ter onde tomar banho após a corrida, antes de ir para o trabalho, comecei a treinar às seis e meia. Em outubro de 2010 voltei para o interior de São Paulo, porém trabalhando em uma cidade vizinha à minha. Então passei a treinar um pouco mais cedo do que estava acostumado para poder voltar em casa, tomar banho e seguir para o escritório", conta.
Esse mais cedo significa começar a correr às 4h15 da manhã. "Por ser muito cedo ainda, tenho as ruas só para mim. Algumas vezes chego a correr pelo meio da pista de avenidas onde, no horário normal, seria impraticável pensar em atravessar fora da faixa de pedestre", revela. Ele garante que começar tão cedo não compromete seu desempenho nem o deixa com sono durante o dia. "Nós é que moldamos a rotina, de acordo com o que queremos fazer. Com esse horário de treino também tenho conseguido manter o índice de execução da minha planilha de treino semanal sempre muito próximo de 100% e isso me ajuda muito em meus objetivos".
A fama de madrugador de Claudio se espalhou entre os amigos. "Acho que a fama quem espalhou foi o galo que estapeio para acordar essa turma", diverte-se.
HORÁRIO DE TREINO: 12:00
CORRIDA MAIS CURTA. Durante o dia, o analista de sistemas Ubirajara Pacheco Maltez Junior, de 31 anos, de São Paulo, dá expediente em uma empresa; à noite, é professor. "Sendo assim, o único horário disponível é o do almoço."
Ele conta que já está acostumado a ser chamado de maluco devido à correria que implica se exercitar nesse período e ao calor que faz no horário. Mas prefere isso a simplesmente deixar de treinar. "Não atrapalha minha rotina, porém influencia a qualidade do treino. Por ter tempo restrito, muitas vezes eu não consigo realizar o treino completo. Também não consigo fazer os treinos de velocidade com o mesmo desempenho que fazia quando treinava à noite. Se pegar muito forte posso prejudicar a qualidade do meu trabalho no período da tarde e da noite, por estar mais cansado", analisa.
Apesar de manter sempre o olho no relógio, Ubirajara não deixa de almoçar. "Considero a alimentação parte importante para a qualidade dos treinos e melhoria de desempenho. Porém, tive que adaptar o tipo de alimentação antes e depois do treino, com o auxílio de uma nutricionista", revela.
COM MUITO PLANEJAMENTO. O funcionário público Luciano Pellissari, de 35 anos, de Itapoá (SC), começou a correr em 2009 para perder peso e melhorar a saúde. Pegou gosto e ganhou disciplina, a ponto de não deixar de treinar mesmo com mudança de rotina e horários apertados. "Minha vida mudou esse ano por causa da faculdade. Começo a trabalhar às 7h30. Tenho uma hora e meia de almoço e saio da prefeitura às cinco da tarde. Faço faculdade em Guaratuba, no Paraná, que fica 35 km distante de onde moro. Saio de casa às seis da tarde e só retorno às onze da noite. Encaixo meus treinos nesse intervalo do almoço".
Ele chegou a tentar treinar de manhã: acordava às quatro e saía para correr às cinco. Mas como ia dormir tarde, o corpo não aguentou e Luciano sofreu uma lesão na panturrilha. Seguindo orientação de suas treinadoras, passou a correr na hora do almoço. "Particularmente estou gostando do horário. Consigo dormir duas horas a mais que antes. Mas as coisas devem ser bem planejadas. Antes de sair de manhã, deixo tudo arrumado e já trabalho com o short por baixo da calça. Faço o treino, alongo, tomo um banho, almoço e volto a trabalhar".
Como Itapoá é um município pequeno, com apenas 14 mil habitantes, Luciano diz que só o fato de as pessoas o verem correndo já gera curiosidade. "Um dia desses, correndo na hora do almoço, cruzei com minha esposa, ela de carro indo trabalhar e eu voltando para casa para tomar banho. Acenei e mandei beijo. Depois ela me contou que começou a pensar quem era aquele maluco correndo naquele calor, acenando e fazendo bagunça para ela… Só percebeu que era eu quando chegou bem perto. Por aí já se pode ter ideia do que todos pensam, principalmente no inverno, quando corro com legging por causa do frio", conta rindo.
HORÁRIO DE TREINO: 12:45
ALMOÇO MAIS SAUDÁVEL. Com rotina estressante quase como a de um controlador de voo de aeroporto, considerada a profissão mais desgastante que existe, o publicitário Ricardo Chester, de 45 anos, de São Paulo, diz que, embora goste de treinar pela manhã, geralmente o horário que lhe resta é o do almoço. "Sempre às 12h45. Treino no clube e tenho a sorte de me alimentar até melhor porque ali existe um restaurante com ótimo serviço de comidas saudáveis. Isso me estimula também a ir até o clube na hora do almoço, em que pese o sol", conta.
Correr nesse período não atrapalha sua rotina profissional. "Ao contrário. Para mim é a salvação. Minha tarde fica perfeita. O próprio treino também é uma forma de organizar um pouco minha tarde. Essa horinha de corrida no meio do dia funciona. Uma sorte".
HORÁRIO DE TREINO: 13:00
PICO DE ENERGIA. A rotina da produtora executiva de cinema e televisão Mayra Lucas, de 32 anos, de São Paulo, também é cheia de horários malucos. "Tento treinar à noite, no Pacaembu, mas quando não dá, corro de manhã cedinho no Cemitério do Araçá, o lugar mais calmo e arborizado perto da minha casa. Às vezes não rola treino de manhã e sei que não vai dar à noite. Sobra a hora do almoço. Mas eu gosto de fato. Estou com mais energia nesse horário".
Mesmo usando o intervalo para correr, ela não descuida da alimentação. Come uma fruta ou uma barra de cereais por volta das 11 da manhã, sai para correr à uma da tarde e às duas faz um almoço leve, geralmente grelhado e salada – o que ajuda a manter ainda mais a boa forma. A corridinha no início da tarde traz ainda um benefício extra: "Fico menos estressada e mais energizada para enfrentar o resto do dia de trabalho".
HORÁRIO DE TREINO: 12:00 E 15:00
MUDANÇA DE ROTINA. A professora universitária e doutoranda Vivian Dombrowski, de 29 anos, é de Curitiba, mas desde o início do ano mora em Brasília. Na capital paranaense, ela saía para correr bem cedo, presenciando cenas belíssimas ao amanhecer. "Não há nada melhor do que ver o sol nascendo e a cidade acordando. Ar fresco, sol preguiçoso, ruas silenciosas. Certa vez corri com geada grossa, foi praticamente como correr no gelo", conta.
Agora com muito trabalho e estudo na capital federal, os horários ficaram apertados. "Treino ao meio dia e às vezes no meio da tarde, quando tenho uma ‘janela' em minha agenda. No horário do almoço até que é bacana porque só encontro quem realmente está na mesma que eu, otimizando o tempo". A única coisa ruim é que a alimentação fica um pouco prejudicada. "Mas a gente se acostuma e o organismo se adapta".
Vivian tem o hábito de correr na rua e em um treino no horário do almoço recebeu um incentivo especial. "Passou por mim um ônibus da APAE, que levava os aluninhos para casa. Eles foram para as janelas gritando: ‘vai moça, vai'. Foi muito lindo!"
HORÁRIO DE TREINO: 05:00, 12:00 E 21:00
ENCAIXES NO DIA. O analista de negócios Diego Bandeira, de 34 anos, de Florianópolis, não tem horário certo para treinar. Pode madrugar e começar às cinco da manhã, pode sair ao meio dia ou depois das nove da noite. "São os horários que sobram, conforme o dia. Às vezes tenho o dia inteiro livre e fica mais fácil, outras vezes é quase como um jogo de encaixe".
Mas ele diz que é um pouco cansativo se exercitar nesses horários diferentes. "Ou você tem de acordar muito cedo ou ir treinar tarde da noite depois de passar o dia inteiro trabalhando…" Também aponta prejuízos em seus relacionamentos. "Principalmente em casa é complicado explicar para minha mulher que irei acordar supercedo ou ainda que cheguei às 20h30 e vou sair para uma corridinha de uma hora e meia bem na hora do jantar. É necessário ter jogo de cintura e contar com a compreensão".
Apesar das dificuldades, vez ou outra se diverte com as situações em seus horários alternativos. "Certa vez uma pessoa saindo da balada, para lá de alcoolizada, me pediu água para tomar um Engov às cinco da manhã. E outro dia, em uma viagem a trabalho para uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul – tão pequena que não havia hotel, somente um pensão e sem internet -, saí para correr por volta da hora do almoço, fardado de bermuda de compressão, viseira, fone de ouvido, iPod no braço e tênis laranja. Todo mundo saía para a rua para ver aquele maluco colorido correndo…"
HORÁRIO DE TREINO: 01:00
MADRUGADAS AGITADAS
Trabalhando por turnos no cais de Santos há mais de 20 anos, o portuário Ezequiel Moura Rodrigues Silva Junior, de 41 anos, é um eterno "sem rotina". "Horários malucos são constantes em minha vida. Corro de madrugada ao sair do trabalho por volta de uma hora da manhã; às quatro da manhã, sem ter dormido; corro na hora do almoço… E não saio para fazer menos de 10 km", conta.
Ele diz ter preferência pelas madrugadas. "Adoro a noite e aqui em Santos é bastante tranquilo correr nesse horário pela orla. Às vezes, o único incômodo é o assédio ou as provocações de pessoas saindo das baladas, jogando o carro em cima da gente".
Embora participe de diversas provas e tenha corrido até maratonas, Ezequiel diz que não "treina". "Nunca usei a expressão ‘vou treinar'. Sempre digo que vou correr. Acho que correr é mais do que ganhar uma medalha, é mais que baixar o tempo, é mais que seguir uma planilha. Nunca me privei de nada na alimentação, nunca segui uma planilha, nunca treinei em equipe ou assessoria. Não sou e não gosto muito de seguir regras que não sejam essenciais em minha vida. Regras que sigo são as do meu trabalho e está bom demais", diz.
Correndo à noite, ele diz que sempre presencia situações inusitadas. "Cansei de ver casais se ‘pegando' na areia da praia, vários ‘rala e rola' dentro dos carros, várias brigas de bêbados. E uma vez em companhia de minha namorada e um amigo, em um domingo à noite, muito frio, correndo pela areia fofa, uns cinco cachorros cismaram conosco. Foi um sacrifício. A gente espantava um, vinham três para cima de nós. Chegou a dar desespero. Levamos a maior corrida dos cães. Mas no final deu tudo certo, terminamos a corrida sãos e salvos".
Ezequiel conta que a "corrida dos corujas" também sempre termina com um lanchinho legal em algum posto de gasolina 24 horas ou trailer de lanches. "No verão rola até mergulho no mar, às três manhã".
HORÁRIO DE TREINO: 23:30
TREINO CORUJÃO. No começo, correr no início da madrugada era uma necessidade na vida do professor de finanças Alexandre Scaldaferri, de 43 anos, de Belo Horizonte. "Mas acabei gostando e hoje prefiro esse horário. Correr de madrugada é fantástico: clima delicioso, ruas vazias, locais e cenários lindos. E a lua é sempre companhia certa".
Ele diz que gosta de correr com outras pessoas, mas no "treino corujão" quase sempre está sozinho. "É um encontro comigo mesmo onde penso muito, me conheço mais e encontro soluções para os problemas pessoais e profissionais. Estes momentos são muito ricos e criativos. Adoro estar com os amigos, mas preciso de um tempo para mim", justifica.
Alguns amigos costumam chamá-lo de maluco por treinar à noite. "Acham que de madrugada é perigoso e que me arrisco a ser assaltado. Também querem saber que horas durmo e como dou conta dos compromissos no dia seguinte". Para matar a curiosidade: ele dorme por volta das duas da manhã e acorda antes das oito para cuidar de seu filho e trabalhar.
A cena que mais o diverte correndo após as onze da noite é ver a expressão de admiração das pessoas que estão nos bares por onde passa. "Parecem não acreditar no que estão vendo. Os bares quase param para ver e algumas pessoas até gritam para eu largar de correr e ir tomar uma com elas".
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Ótimo incentivo para os que sempre dizem que não tem tempo pra nada.