20 de setembro de 2024

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Especial admin 8 de abril de 2012 (0) (390)

Minha vida é corrida…

Exercemos múltiplas funções e nossa rotina se assemelha a uma prova de revezamento. Algumas vezes somos testadas na rapidez de resoluções de problemas, como se estivéssemos dando tiros de 100 m. Outras vezes, é nossa resistência que é colocada à prova, como em uma maratona. O certo é que, no final de cada dia, cruzamos a linha de chegada de uma corrida que sempre vale a pena.

Por meio de depoimentos de mulheres corredoras, que têm uma rotina bastante movimentada e traçaram um paralelo entre o dia a dia e o esporte, deixamos aqui nossa homenagem pelo dia internacional da mulher – comemorado em 8 de março – a todas que têm a corrida em suas vidas.

 

"MINHA VIDA É CORRIDA PORQUE SOU MULHER… E MULHER É COMO BOMBRIL, MIL E UMA UTILIDADES."

Lana Gomes, 49 anos, consultora de imóveis, casada, mãe de duas filhas, corredora há 5 anos.

 

Com Lana não tem tempo feio. Ela está sempre animada e pronta para o que der e vier. "Sou uma pessoa movimentada. Separo e misturo muito bem os assuntos. Agora que meu marido também corre, a família está toda envolvida no esporte. Faço tudo com muito prazer. Em nenhum momento sinto que tenho fardos a carregar. É lógico que passo raiva, sofro decepções, mas é tudo muito rápido. Guardar rancor envelhece, dá rugas".

A corrida em sua vida é uma grande fonte de energia. "Corro por prazer, corro para ser assunto, corro para fazer amigos, corro para sair nas revistas, corro para mostrar as pernas definidas e com celulites, corro porque sou muita ‘aparecida' – se fosse uma pessoa discreta faria ioga", diverte-se.

Bem ao seu estilo, diz que, assim como Romário, gosta mesmo é de fazer provas, de treinos nem tanto… "Mas não destaco uma corrida em especial. Gosto de provas de longas distâncias e se tivesse que apontar uma, seria a Maratona do Rio, em 2010, porque foi nela que minha ‘carreira de maratonista' decolou. Só sei que ficamos muito metidas depois de correr 42 km. Provamos que temos muita força e que quando queremos algo, nada é impossível. Para mim é assim. Quando estou correndo, vivo o momento intensamente".

 

"MINHA VIDA É CORRIDA PORQUE ASSIM FAZ MAIS SENTIDO. A CORRIDA ME DEU SIGNIFICADOS E MUITA ALEGRIA."

Andrea Longhi, 44 anos, publicitária, separada, mãe de dois meninos, corredora há 15 anos.

 

Perguntada sobre o que a corrida representa em sua vida, Andrea abre o sorriso e responde fácil: "É um dos meus pilares e uma das coisas mais divertidas que eu faço. Sempre foi um prazer, se tornou também um trabalho e virou uma referência da minha força".

Ela confessa que em todos os momentos difíceis, sem exceção, buscou forças no esporte. "Quando me separei, quando estava no emprego errado, quando tive uma suspeita de câncer, quando não sei o que dizer para meus filhos, quando perco as coisas que amo… Nessas horas, eu paro e penso: calma, você consegue, é só dar um passo depois do outro, acertar o ritmo, olhar para dentro, respirar, lembrar que é forte e que o que está insuportável agora, daqui a pouco acaba e você não vai nem se lembrar de todo esse sofrimento".

Para Andrea, a preparação para uma prova difícil, como uma maratona (ela já completou seis), é como uma gravidez: "Durante aqueles meses todos você pensa que o mundo inteiro está na mesma situação e busca as parcerias certas. Quando chega a hora do parto (ou da prova), está preparada e não tem medo do que está por vir. Mas durante a prova (ou o parto) sofre de um jeito que não tinha registro. Quando acaba (e nasce seu filho ou você se gruda naquela nova medalha), esquece de todo sofrimento, sente a maior alegria da vida e pensa que um dia, dali a pouco, vai querer tudo de novo".

Com a energia que lhe é peculiar, a publicitária fala aqui sobre "a prova da sua vida": "Entre as grandes que fiz, lembro de todas com importância. Por conta disso e por achar que ainda virão provas maiores e mais importantes, diria que a ‘prova da minha vida' foi a última que fiz".

Se há seis meses esse lugar pertencia à Maratona de Berlim (na qual obteve seu índice para Boston), hoje ele é ocupado pelo Cruce de los Andes, que completou em fevereiro, na Patagônia. "Cada prova encontra a gente em um momento diferente de treino, de vida, de emoção e de realização e isso se mistura com o desafio em questão e com a superação que ele traz junto com a nova medalha. Para o Cruce não consegui treinar da maneira desejada: uma lesão na panturrilha, herança de Berlim, me tirou dois meses importantes da preparação. Comecei dezembro devagar, com medo de romper aquele tecido novinho e criar uma lesão recorrente. E estava ciente de que aquilo não seria suficiente para uma prova de 110 km com subidas colossais. Fui corretamente orientada a desistir."

Mas, como ela própria assume, uma dose de loucura, somada à coragem, à vontade e ao autoconhecimento – características muito presentes também em sua vida cotidiana -, mais o compromisso de correr a prova em dupla, a fizeram manter a ideia e a viagem. "Parti com a decisão de realizar uma prova de coração, porém com inteligência. Fui lá e fiz, graças também a minha parceira (Suzana Resstom, 26 anos e nenhuma maratona) e ao apoio da Cris Carvalho. É muito bom estar entre mulheres nessas horas de sufoco. Nós não competimos da mesma maneira que os homens, nós nos ajudamos, nos damos as mãos e nunca esquecemos que gritos podem se misturar com carinhos e que uma mulher sempre tem algo escondido e muito forte dentro de si".

 

"MINHA VIDA É CORRIDA PORQUE VIVO INTENSAMENTE MINHA FUNÇÕES DE MÃE, ESPOSA, SECRETÁRIA, LAVADEIRA, ARRUMADEIRA, COZINHEIRA E… CORREDORA."

Áurea Bisan, 38 anos, secretária, casada, mãe de duas filhas, corredora há 10 meses.

 

Quem diria que a corrida já foi um problema na vida de Áurea, esposa do treinador e ultramaratonista Émerson Bisan… "Cheguei a tê-la como ‘inimiga'", confessa. Foi em maio do ano passado que resolveu mudar a história e fazer do esporte seu aliado. "Comecei uma nova vida, como uma borboleta que sai do casulo e começa a voar. Mas foi com os pés firmes no chão e muita determinação que parti para minha primeira prova de 3 km. Quatro meses depois, fiz 10 km em Buenos Aires (completando em 1h01) e logo após, em outra prova de 10 km, fechei em 58 minutos. Nesse dia, ao chegar em casa e juntar essa medalha às minhas outras e às tantas do meu marido, tive um imenso orgulho de mim, da minha luta, da pessoa que me transformei".

Por meio da corrida, Áurea superou perdas, decepções e mágoas. "Aprendi a cultivar a paciência, a perseverança e a humildade; a dominar a raiva, o medo e o orgulho. Com a corrida eu me reencontrei, resgatei minha auto estima, minha identidade, reconquistei meu espaço e meu verdadeiro amor, reconstruindo minha vida e minha família".

Com menos de um ano de corridas, a secretária já correu 13 provas e diz que cada uma tem sua importância. Mas destaca duas. "Participei da Corrida do Aricanduva em 16 de outubro de 2011, data do aniversário da minha filha Isabela, que faleceu em 2005, com um ano e oito meses. Nesse dia da prova ela estaria completando oito anos. Eu e meu marido corremos juntos em sua homenagem. Durante os 9 km passou um filme na minha cabeça. Lembrei o quanto ela foi desejada, esperada, revivi seu nascimento e sua curta, porém intensa e inesquecível existência. Eu não senti dor, nem tristeza, meu coração estava transbordando de amor. Me senti valente por estar ali correndo, podendo homenageá-la com uma medalha, que coincidentemente foi em formato de estrela – para nossa estrelinha! Outra prova importante foi a São Silvestre, quando conquistei minha 12ª medalha. Mas muito mais importante do que a medalha foi encerrar o ano de 2011 – um  divisor de águas na minha vida – correndo os mágicos 15 km. Durante o percurso eu agradecia a Deus por ter conseguido chegar até ali e por tudo que superei e conquistei. Foi importante notar o orgulho da pessoa que foi a motivação de tudo isso, meu marido, meu treinador, o amor da minha vida! E sentir ainda a admiração das minhas filhas Gabriela e Isadora.  Vê-los refletindo minha transformação e minha alegria fez tudo valer a pena. A corrida se revelou a possibilidade de me superar sempre!"

 

"MINHA VIDA É CORRIDA PORQUE EQUILIBRO MIL COISAS EM BUSCA DE CONQUISTAR, A CADA DIA, UM NOVO APRENDIZADO, COM DISCIPLINA E ENERGIA."

Eugênia Del Vigna, 30 anos, gerente de marketing, solteira, corredora há 4 anos.

 

A cada dia de treino, a determinada Eugênia diz ter mais certeza de que a corrida é grande prova de que, com disciplina e energia positiva, é possível se superar sempre. "Sou uma pessoa superfocada na carreira, mas não abro mão do meu esporte e da minha vida social com amigos e namorado. Hoje, por exemplo, acordei às seis da manhã, fiz musculação das 6h30 às 7h30. Às nove estava na minha primeira reunião do dia. Depois cruzei a cidade e trabalhei até as 20h30. Cheguei em casa às 21h30, fui correr, e às 23h30 estou aqui respondendo e-mails. E amanhã começa tudo de novo. Trabalho pelo menos 12 horas por dia, algumas vezes aos sábados, domingos e feriados, em uma empresa focada em metas e performance. Além de me dedicar ao trabalho, tenho que me organizar para ter vida pessoal e treinar – minha próxima meta é a Maratona de Paris, em abril. A corrida é minha válvula de escape, meu equilíbrio, minha referência de superação e evolução".

Ela sabe que as adversidades fazem parte da vida – assim como a dor e a dificuldade de cada quilômetro de treino ou prova. "A corrida ajuda nesse aprendizado de que, por mais difícil que pareça, a gente sempre dá conta de ir um pouco além, de evoluir, de estar bem e feliz".

O esporte entrou em sua vida, há quatro anos, justamente em uma fase complicada: na área profissional havia tomado a decisão de encerrar a vida de empreendedora e voltar à carreira corporativa; na área financeira, precisava se reestruturar; na área afetiva, havia acabado de romper um namoro de sete anos. "Parecia que o universo estava testando minha capacidade de lidar com a dor e a dificuldade. E em uma conversa com uma grande amiga, comentei: ou eu jogo a toalha – mas não tenho a mínima vocação para a tristeza -, ou arrumo uma válvula de escape saudável para me distrair até essa maré passar. Foi aí que resolvi começar a correr".

De tímidos cinco quilômetros na esteira, apenas para se distrair, logo ela evoluiu para maiores distâncias. Da mesma forma, sua vida deu uma guinada. "As situações difíceis foram passando e a vida tomando outros rumos. Algum tempo depois, acabei mudando para o Rio de Janeiro, cidade que respira energia positiva e que, para mim, representa uma nova e maravilhosa fase".

Não à toa ela destaca a Maratona do Rio 2011 como "a prova da sua vida".  "Teve um grande significado para mim: meus pais e grandes amigos estavam presentes no km 32, vários me deram apoio durante o percurso, e cruzei a linha de chegada ao lado de duas grandes amigas. A cada quilômetro lembrava de algo que havia superado, de alguém que me ajudou, de como a confiança e a certeza de que dias melhores sempre virão são importantes. Completei minha primeira maratona extremamente feliz e emocionada! Deixei naquele percurso todas as dores e dificuldades que vivenciei no passado. E só levei dali para frente a disciplina, a força de vontade e a motivação".

 

 "MINHA VIDA É ‘A' CORRIDA. SE HOJE VIVO É PORQUE CORRO."

Débora Soeiro Zargalio, 30 anos, bacharel em direito, divorciada, corredora há 3 anos.

 

Débora diz que sempre deu suas corridinhas. Mas foi em 2008, quando passou por um momento de fragilidade, que o esporte mostrou sua força e entrou definitivamente em sua vida. "A corrida me fez enxergar o quanto vale a pena viver e lutar por cada conquista. Sou carioca e estava morando em São Paulo. Logo após me divorciar, sofri muito com a solidão, mesmo tendo vários amigos na faculdade e no trabalho. Cheguei a passar alguns dias em casa sem querer sair da cama. Certo dia a angústia me sufocou tanto, a ponto de eu pensar em acabar com ela de uma vez, olhando pela varanda do 9º andar um terreno baldio ao lado. Inesperadamente recuei e resolvi dar uma oportunidade a mim mesma. Coloquei uma roupa e fui ao parque da Aclimação – até então apenas para respirar um ar menos poluído e ver as árvores, os pássaros e o lago. Do nada comecei a correr e, sem me dar conta, já haviam passado duas horas. A sensação foi tão maravilhosa que a partir daquele dia, 29 de setembro de 2008, nunca mais parei. Todos os dias eu voltava depois do trabalho e corria até cansar".

No Natal, Débora ganhou de uma amiga a inscrição para a São Silvestre. "O desconhecimento sobre a prova era tamanho que fui sem saber que seriam 15 km. Posso dizer que foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Tanto que prometi estar lá todos os dias 31 de dezembro, enquanto eu tiver saúde. No ano passado, minha quarta participação na SS, fiz meu melhor tempo: 1h22. Graças a Deus e à corrida consegui superar momentos extremamente difíceis sem precisar de remédio. Por isso digo que a corrida é a minha vida".

Outra prova que destaca é a Maratona de Porto Alegre de 2011. "Treinei sozinha por três meses e meio. Foram 789 km percorridos. Apesar de muitos não acreditarem que eu seria capaz de completar os 42 km, sempre confiei na força que a corrida trouxe para a minha vida. É até difícil descrever o que senti ao longo do percurso. Foi um misto de alegria e superação. E mais: era dia do meu aniversário de 30 anos e eu estava cercada de amigos!"

Logo após a maratona, porém, Débora teve de dar uma pausa nos treinos por causa do trabalho. "Em pouco mais de um mês correndo apenas uma vez por semana, aos domingos, em virtude também de minha pós graduação, os efeitos eram nítidos: o desânimo, a tristeza, a baixa autoestima tomaram conta de mim. Mas graças a uma amiga que conheci na Meia de São Paulo, a Su, consegui me libertar daquele sentimento horrível e conciliar trabalho e treinos. Em novembro, depois de reforçar minha equipe de trabalho, voltei com tudo. O objetivo agora é conquistar os 50 km de Ilhabela no XTerra Endurance, em abril".

Para encarar as dificuldades do dia a dia, sua inspiração é a corrida: "Lidar com os mais diferentes grupos de pessoas é um desafio diário. Quando me deparo com algo que parece me tirar do sério, paro e penso: se eu corri uma maratona, não é qualquer percalço que vai tirar a tranquilidade obtida nas corridas. A paz de espírito que se renova a cada dia de treino também renova minha alma".

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