Maratona é uma opção. Não obrigação. Então, respeite-a treinando

Quando você surta e corre 53 km em um final de semana, tem bastante tempo para pensar e refletir. A cada dia, tenho uma certeza: o que me deixa feliz na corrida é treinar para uma maratona. É sofrido, desgastante, precisamos abrir mão de algumas coisas boas (principalmente alimentares)? Claro que sim. Se no dia da prova está quente ou algo não sai como o planejado, faz parte. O importante é fazer o seu trabalho. Sinceramente, por essa paixão pelos 42 km, sou crítico sobre o desrespeito com a prova das provas. Quer correr uma maratona? Excelente. Então, treine para ela.

Com exceções de idade e outras físicas, não consigo entender uma pessoa entrar na maratona com objetivo de completá-la em mais de 4h30. Nem na estreia. É demais. Um esforço físico e mental completamente desnecessário. Antes que alguém jogue uma pedra, não estou falando de performance, nem nada. Longe disso. E a matemática ajuda nas contas. Se você correr a 6:23 por km, uma média extremamente confortável para quem treinou razoavelmente, fecha em 4h30. Uma segunda etapa, um sub 4h15, exige 6:02 por km e, em momento mais avançado, buscar um sub 4h (um tempo já excelente para nós, amadores, que dividimos profissão com família e corrida), 5:41 por km (aí, sim, começa a ficar bem mais difícil, não impossível, mas já complica).

O amigo Guilherme Teixeira, de Curitiba, correu a Maratona de Boston deste ano comigo. Isso mostra o ótimo nível dele na maratona. Porém, passou um bom tempo machucado e não treinou para Major americana. O relato dele, reforça o que estou falando. “Achei a prova muito legal, o percurso bacana, o apoio do público sensacional, enfim, alto astral. Pena que meu joelho não me deixou correr, além, é claro, da falta de treinos (não estava simulando ou escondendo o jogo, não tinha treinado nada mesmo, pois fiquei parado um mês e nas últimas três semanas, quando tentei voltar, não conseguia correr por causa da dor ou corria mancando). Nos primeiros quilômetros, foi uma dor terrível e corri mancando, como nos treinos. Depois que aqueci, corri alguns quilômetros sem tanta dor, mas ainda assim não podia aumentar a velocidade, porque voltava a doer muito. Fui assim até o km 20 mais ou menos quando um descida mais forte piorou a situação. Ainda consegui correr até o km 26, mas, como se não bastasse o joelho, veio a fatura pela falta de treinos, principalmente os longos: travou minha musculatura das duas pernas. Com muito esforço, passei a intercalar corrida com caminhada, com pequenas metas (ex: correr 2 km, uma milha, até o próximo posto de abastecimento, ao final da próxima subida etc). Assim fui indo, travado, me arrastando, mas firme no propósito de que tinha de terminar, cada vez correndo por trechos menores. Finalmente, depois de 4h19, bati meu recorde negativo em maratonas, mas, incrivelmente, cheguei com um ótima sensação de bem-estar, de meta cumprida, de superação, com um misto de dor e emoção, como na primeira vez que completei a maratona. Após isso, fiquei travado nos dias seguintes, mas o joelho melhorou. Estou subindo e descendo escadas sem qualquer dor, saindo e entrando no carro normalmente. Com mais algumas semanas de fisioterapia e correndo levemente, finalmente poderei voltar a treinar para buscar a sonhada maratona sub 3h já que fazer acima de 4 horas, o que era inédito para mim, é muito sofrimento…”

Então, levando muito em consideração os limites de cada um, o depoimento de Guilherme, que sabe bem a importância dos treinos para uma maratona, mostra que você estando 100% fisicamente e preparando-se, não deve “estourar” o limite das 4h30. Se tem esse pensamento, reflita se é o momento de ir para os 42 km. Será que não deveria dedicar-se um pouco mais aos 10 km e, principalmente, aos 21 km? Maratona é uma opção. Não obrigação. Então, respeite-a treinando!

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