Quando li sobre a possibilidade de colaborar com a CR, num ímpeto me candidatei. Eu gostaria de influenciar e despertar nas pessoas o gosto pela prática esportiva. Pensei naquilo que me vem à cabeça quando decido correr. Por que não fico estagnada, inerte como bem manda a modernidade, zapeando em centenas de canais, nas redes sociais ou ainda desestressando num jogo de vídeo game e afins? Seria tão mais fácil?! O que me motiva a correr?

A 1ª Meia Maratona de Inverno, dia 10 de julho, reuniu centenas de corredores, que tentavam se aquecer às 6 da manhã, esperando a tão desejada largada. Correr em Curitiba nesta época do ano é um feito de coragem. E justamente nesse ponto eu me questiono: que força move essas pessoas?

George Volpão, acostumado a corridas longas em duras condições, como o frio, areia, trilhas rochosas e enlameadas, afirma que para manter a motivação coloca metas alcançáveis a médio e longo prazo, pontuando que cada saída para treinar é um momento único e especial, que jamais se repetirá e por isso é tão instigante. "Um dia de cada vez é meu mote principal. Nunca me arrependi de ter levantado cedo e ir correr sob chuva, sol ou frio", avalia. "Mas já me arrependi por ter me rendido à preguiça."

Estabelecemos metas e a partir disso a mente começa o processo de trabalhar a seu favor. Só a motivação externa, como uma silhueta nova ou um tempo melhor não basta; é preciso algo a mais: uma forcinha que vem de dentro e que nos faz superar o cotidiano, as dificuldades físicas, familiares e até financeiras, para alcançar o objetivo proposto. Motivação, na Psicologia, significa impulso interno que nos leva à ação. Na maioria das vezes são tantas as situações que nos fazem recuar e pensar em desistir que por vezes vacilamos.

Priscila Lorusso aponta as dificuldades quando relata sua experiência: "Participava de todas as corridas da cidade, sem descanso, até que em uma maratona veio a fratura na tíbia; desmotivação e tristeza, que depois percebi ser um alerta para saber o meu limite. Passei um tempo longe das corridas e quando voltei meu foco era outro, o prazer de sentir a endorfina, a sensação de um ´trabalho´ bem feito, o bem-estar de correr. Hoje a interação entre meus amigos corredores é o que tem de melhor na corrida. A sensação é  a melhor que existe, dividir passada a passada com uma amiga me faz ir além da satisfação da atividade física. E para isso não há preço!"

O COMEÇO. O que motiva você a correr? Saúde física? Mental? Prêmios? Metas? Satisfação pessoal ou estética? Cada qual com seu amor, cada qual com sua dor. Eu corro porque sei que o resultado será sempre positivo. Comecei aos 33 anos, 10 quilos acima do peso, lutando contra a síndrome do pânico. As manhãs eram os piores momentos, horário em que eu sabia que deveria agir, que precisava fazer crescer dentro de mim a força da motivação. Era eu contra mim mesma. Após 5 meses fiz minha primeira corrida de 10km. Que satisfação! Quatro anos depois arrisquei mais, 21 km… que pernada! Treinava muitas vezes na esteira para poder levar minha filha comigo, pois não tinha onde deixá-la. Haja motivação! Tinha apenas em mente que devia fazer aquilo, vencer a mim mesma. Florianópolis, janeiro 2010, meus primeiros 21 km; sofri com o calor e ri de contentamento ao final!

Lucio Milczevski, fundador do Corredores de Rua de Curitiba (CRC), grupo que visa integrar atletas e trocar experiências, relata: "Comecei motivado pela perda de peso, transformou-se na busca por resultados e desempenho, e depois por desafios cada vez maiores e, finalmente, cheguei a motivação de simplesmente curtir a corrida."

Como bem expressa a corredora Regina Saas, a motivação vem do bem-estar e condicionamento que a corrida proporciona, a felicidade de concluir as provas e, mais do nunca, a possibilidade de fazer amigos e incentivá-los a correr.

Já tendo participado de 23 maratonas e 5 irons, Arnaldo Laporte diz que o impulso vem da indescritível satisfação, o sentimento de liberdade, momentos de reflexão, endorfina e independente do resultado que alcance, seus filhos sempre o aguardam na linha de chegada! "É um esporte que não separa as classes sociais e promove a integração."

Correr nos torna mais humanos, mais conscientes de nós mesmos. Marcos Souza completa: "Corro para ver o que existe do outro lado, alimentar a minha curiosidade; corro para ser o senhor do meu corpo, domar a dor, colocá-la em uma caixinha no cantinho escuro da minha mente; corro para provar a mim mesmo que sou uma pessoa melhor."

OS BENEFÍCIOS. Tente! Todos os profissionais já foram amadores e todos um dia deram o seu primeiro passo. Correr é um esporte natural, devagar e espontaneamente deixe-se tomar pelos seus benefícios; todos nós começamos e continuamos pela mesma busca: saúde, amizades novas e o melhor, superação pessoal.

Encontre o que lhe inspira, cada um a seu modo, dentro dos seus limites e capacidades, porém com organização, disciplina e boa vontade em continuar, arcando com tudo que vem junto: algumas dores, dificuldades de adaptação, encaixar tempo de treino, angústia com os primeiros momentos e ansiedade nos primeiros quilômetros.

Inicie encontrando a sua auto motivação; com o tempo as endorfinas lhe mostrarão que está no caminho certo e a partir deste ponto virão as motivações externas: locais de treino, companheiros de corrida e provas que pretende realizar, tornando seu treino mais animado e proveitoso. Aproveite!

*GRACIELA ALLGAIER é psicóloga, corre, nada, pedala, escala e faz yoga. E agora também repórter!