Especial admin 4 de outubro de 2010 (1) (99)

Corra mais tranqüilo: identificado!

Quando sai para correr, a empresária Juliana Guerra, 33, leva, na pochete, além do mp3 com a seleção de músicas, comprimidos para dor, sal, caso a pressão baixe, dinheiro e alguma identificação, com um telefone de emergência. Depois de sofrer um acidente de bicicleta, há mais de 20 anos, no Rio de Janeiro, e ser levada para um hospital público, Georgia Gatti Coutinho começou a correr com um cartão de identificação, que posteriormente evoluiu para uma plaquinha de identificação. Hoje, ela é proprietária do Sport ID, sistema de identificação de corredores que desde o lançamento – em abril de 2006- já vendeu mais de cinco mil placas de identificação pela internet.

Parece bobagem perder cinco minutos do dia para colocar o nome, e um telefone de emergência no pedaço de papel e prendê-lo no bolso ou em alguma parte do corpo, antes de sair para correr. Mas a verdade é que pouquíssimas pessoas se preocupam com isso. Segundo a Polícia Militar de São Paulo, grande parte das pessoas que dá entrada em hospitais públicos com roupas esportivas, vitimas de desmaios ou atropelamentos, chegam ali como indigente.

"A falta de identificação não muda a conduta médica. Atendemos o corredor da mesma forma. O que facilita é o contato com os familiares e a possibilidade de termos mais informações sobre tipo sangüíneo e alergia a medicamentos", explica o médico Milton Mizumoto, responsável pela área médica em provas organizadas pela Corpore.

Segundo o médico, a instituição nunca contabilizou a quantidade de atendimentos em provas de pessoas sem identificação. "Mas a grande maioria chega aos ambulatórios sem os dados preenchidos no verso no número do peito", diz.

Informações básicas. O que muita gente não sabe é que, em todas as provas organizadas pela Corpore -e por outras empresas do segmento- existe, atrás do número de peito, alguns campos a serem preenchidos com o mínimo de dados necessário: nome, telefone de emergência, tipo sangüíneo e se tem algum tipo de alergia. "O corredor não perde cinco minutos para completar essas informações que podem agilizar o atendimento caso alguma coisa aconteça na prova", completa Edgard José dos Santos, diretor administrativo da Corpore.

Quando o socorro é feito durante uma prova, diz Santos, e a pessoa não está identificada, os médicos entram em contato com o pessoal responsável pela cronometragem que, teoricamente, tem os dados de inscrição do atleta gravados no chip. "A partir daí, se os dados foram preenchidos corretamente, conseguimos localizar os parentes e encaminhar o corredor ao atendimento necessário. Mas isso leva um certo tempo", pondera.

"Durante uma competição é mais fácil a localização das informações, pois a pessoa já preencheu uma ficha de inscrição para estar ali correndo", explica Geórgia. "O risco está mesmo quando a pessoa sai de casa, sem telefone celular e sem nenhuma outra identificação". A Polícia Militar ressalta que a identificação é necessária para qualquer cidadão que transite em vias públicas.

Prevenção é o melhor remédio. Na Meia-Maratona de São Paulo de 2006 a empresária Juliana Guerra passou muito mal por conta do calor. A ponto de quase desmaiar. Também apareceram dores no joelho que a fizeram terminar a prova praticamente caminhando. De lá para cá, um sachê de sal e uns comprimidos analgésicos fazem parte dos itens indispensáveis na corrida, como o tênis e o tocador de mp3. "Até nos treinos quando sei que tenho suporte da assessoria esportiva da qual faço parte, eu levo os comprimidos e o sal", diz a prevenida corredora.

O advogado André Silveira, 28, também faz parte do time dos precavidos. Quando começou a fazer provas longas e ficar mais de uma hora fora de casa para correr, ele e um grupo de amigos plastificaram uma carteirinha – que cabe no bolso do shorts – com as informações básicas como nome, telefone de um parente próximo, hospital para ser encaminhado em caso de emergência e plano de saúde. "Nunca precisei usar. Mas isso anda comigo em qualquer corrida. Cabe até dentro do tênis", diz.

Foi pensando nisso que Geórgia Coutinho, proprietária da Sports ID, começou a vender as placas de identificação aqui no Brasil. A moda já existe nos Estados Unidos há um tempo. E foi lá que ela conheceu o produto. "Eu morava nos EUA e sempre saia com um papel escrito com meus dados. Mas molhava, rasgava ou eu perdia. Até descobrir as plaquinhas de identificação. Mas só tomei essa precaução após o acidente que tive no Rio de Janeiro, há 20 anos", assume.

Geórgia ainda tentou representar a marca norte-americana aqui no Brasil, que não se interessou. "Depois de muita pesquisa resolvi abrir a minha empresa e confeccionar as plaquinhas". Em 2006, quando foi lançada, cada placa de identificação custava R$ 53,00 e hoje sai por R$ 38, uma redução de preço de cerca de 30%. "Isso mostra o sucesso do produto e o interesse dos corredores. Em um ano consegui pagar o investimento feito no lançamento e pude reduzir o preço de venda".

Hoje, as placas de identificação podem ser feitas para o pulso, capacete de ciclista, tornozelo e também para criança. Cabem até 22 caracteres e seis linhas.

"Muitas pessoas ainda colocam frases incentivadoras ou fazem homenagens aos filhos ou entes queridos", diz a proprietária da marca.

A norte-americana Road ID também faz plaquinhas de identificação e entrega, no Brasil por correio. Lá uma placa para o pulso com seis linhas sai por US$ 19,90, ou R$ 35,80, mais o custo do envio.

Se você é daqueles que não gosta de correr acompanhado, o melhor é que avise a alguém de casa que estará na rua dando seus trotes matinais. "Ou perca alguns minutos fazendo alguma forma de identificação", diz o médico Milton Mizumoto.

Atenção penetras. Para os organizadores de provas, a dificuldade aumenta quando o corredor está na competição de forma irregular, não inscrito, como os conhecidos "bandidos", pipocas ou penetras. "Esses não têm identificação alguma em poder da organização da prova", diz Edgard. Por outro lado, os médicos não negarão atendimento caso algum corredor penetra passe mal. "Mas se ele não está identificado, fica muito mais difícil contatar algum responsável".

Corredor sem nome. Se, por ventura, você tiver de socorrer um praticante de esporte não identificado vítima de algum acidente na rua, infelizmente não há muito a fazer, mas o site da Polícia Militar dá algumas dicas:

– Ligue imediatamente para 190 e peça ajuda.

– Não remova a vítima do local. Espere a chegada da ajuda médica.

– Se a pessoa estava com roupas esportivas e sem chaves de carro, provavelmente ela saiu para correr nos arredores de casa. Tente avisar os estabelecimentos próximos como bancas, padarias ou lojas.

De fato, a ajuda é muito pequena comparada ao grande risco que a pessoa pode correr. Por isso, a dica dos especialistas é para o esportista: saia de casa sempre com alguma identificação, a mais básica que seja, justamente para o caso de emergências.

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