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Especial Performance e Saúde Redação 11 de julho de 2011 (0) (112)

Pé na estrada

Correr nos parques é ótimo, sem dúvida, mas exige uma paciência acima da média quando o assunto é treino longo. Sair pelas ruas também não resolve muito o problema, pois parar em todas as esquinas quebra o ritmo, além de haver muitos pedestres nas calçadas, o que exige um certo contorcionismo para não atrapalhar. A tendência nesses casos é migrar para as rodovias (pavimentadas) e estradas (de terra), uma alternativa há muito utilizada principalmente pela turma das ultramaratonas em seus longões de quilometragem infindável.

Brayner de Oliveira Iren, da capital paulista, é um dos adeptos. "Sou ultramaratonista e pela exigência dos treinos não tenho como ficar em locais tradicionais como parques e a cidade universitária. Por isso costumo fazer meus treinos longos na Aldeia da Serra. Confesso que adoro correr em estradas e rodovias! Acredito que pela sensação de liberdade e pelo prazer que as belas paisagens costumam nos proporcionar, esse treino nos deixa mais fortalecidos física e mentalmente. O atleta se encontra em uma situação diferente, pois a sensação é de estar sempre desafiando os próprios limites, percorrendo grandes distâncias. Minha preferida é a Rio-Santos, pois é garantia de belas paisagens", conta.

Quem também procura as vias à beira-mar é a treinadora Cris Carvalho, do Projeto Mulher e Núcleo Aventura. "Eu gosto da amplitude que o treino de estrada dá. Adoro treinar na Rio-Santos, depois da praia de Santiago em São Sebastião: dá para correr quase o tempo todo com visual do mar e o relevo combina declives e aclives acentuados tornando a corrida mais dinâmica e divertida. Para quem quer fazer, recomendo que se mantenha no acostamento da contra mão para escapar de qualquer tipo de ‘brincadeira' de algum motorista abusado. Já soube de vários acidentes: motoristas que querem tirar uma ‘fininha' e acabam levando um ombro embora, ou jogam uma latinha ou qualquer objeto para te assustar e nem imaginam a força do impacto que a velocidade do carro transfere para o objeto arremessado. Além disso, a estrada sempre sugere treinos mais longos, portanto leve uma garrafinha ou mochila de hidratação e alimentos para manter sua glicemia. Devemos comer e beber a cada 40/50 minutos para mobilizar a gordura como fonte de energia. Do contrário, vai queimar massa magra e perder condição física", orienta.

A corredora Tatiana Yamamoto, 31 anos, também tem dicas importantes para quem corre em estradas. "Não escuto músicas durante esses treinos e uso o relógio com GPS e frequencímetro. A atenção precisa ser dobrada porque corremos ao lado carros e caminhões. Ou seja, qualquer distração pode custar caro. Atenção ainda ao pisar no solo devido às irregularidades na pista/terra. Já corri um trecho da Volta à Ilha em plena escuridão, às 5h da manhã, em uma estrada bem movimentada por caminhões, e praticamente sozinha. Foi uma mistura de medo e ansiedade. Como estou me preparando para ela novamente, os treinos na estrada são quinzenais, com uma média de 12 km em Aldeia da Serra. Gosto bastante de correr na estrada. A sensação de liberdade e paz vinda do contato com a natureza proporciona uma emoção diferenciada dos treinos rotineiros. A paisagem geralmente é outro fator estimulante, essencial pois geralmente a exigência física é maior também", conta ela, que corre há 3 anos.

Embora a maioria aproveite os retões para treinos maiores, há quem prefira exatamente o contrário, e deixe as pistas de atletismo de lado para procurar as rodovias para os treinos de tiros, como Anderson Furlan, campeão brasileiro de duatlo na faixa 35-39 anos. É na rodovia Bandeirantes que ele faz os treinos de qualidade para o Mundial que será realizado em setembro na Espanha. "Eu moro próximo a duas rodovias, a Bandeirantes e a Limeira – Piracicaba. Acho os parques monótonos e com muita gente, então é difícil imprimir o ritmo forte que eu preciso para treinar. Vou para as rodovias todos os dias, em dois períodos, para corrida ou bike e nunca tive problemas. Claro que é preciso mais atenção, você não está protegido. Eu corro no mesmo sentido dos carros, contrariando as normas de segurança, mais por estar acostumado a fazer assim quando estou pedalando. A Bandeirantes, na minha região, tem menos tráfego e mais sobe-e-desce, porém é mais agradável. Como eu também pedalo, sei exatamente a metragem entre os pontos para fazer os treinos. Meus longos são de 15 km, feitos em pouco mais de uma hora, então não preciso me preocupar com a hidratação neste momento, mas cuido bem desse aspecto ao longo do dia", conta Furlan.

O engenheiro civil Pedro Suassuna Reis costuma também se aventurar pelas rodovias de Goiânia. Para ele, a melhor é a GO 020, conhecida como Goiânia – Bela Vista. "É bom porque não repete a altimetria e você corre em situações diferentes. Além disso, não pode parar no meio do treino, afinal você tem que voltar. Porém, mais do que tudo, me anima a sensação de liberdade. Recomendo aquela rodovia, pois devido ao grande número de atletas de ciclismo e corrida o governo instalou diversas placas alertando e os motoristas estão mais acostumados. Mas mesmo assim alguns mal educados insistem em tirar "finas", e para me prevenir corro sempre na contramão dos veículos", conta.

 

PRAZER E PERIGO, LADO A LADO. As concessionárias das rodovias brasileiras não distinguem os acidentes com pedestres e corredores/ciclistas, mas é de se supor que uma parcela significativa dos atropelamentos possa ser formada por atletas.

Também parecem não estar atentas a uma prática bastante comum, quando o motorista aproxima o carro do ciclista ou do corredor para assustá-lo, causando uma infindável lista de acidentes com graves consequências. "Não acredito que alguém faça isso voluntariamente. O que acontece é ter sonolência e ‘comer' as faixas", acredita Fausto Cabral, gestor da área de tráfego da CCR, empresa responsável pela Autoban – que controla a Anhanguera e a Bandeirantes. Entretanto quem corre ou pedala nas estradas infelizmente sabe que essa prática deplorável é praticada.

Tendo em vista os perigos, as concessionárias não estimulam a prática, apesar de não negar suporte para quem usa as rodovias para esportes. "O que temos mais são os ciclistas, especialmente nos fins de semana e principalmente no prolongamento da Bandeirantes, uma parte nova, mais larga e sem tantos acessos. O Código Brasileiro de Trânsito não proíbe o tráfego de bicicletas ou pedestres, mas nós alertamos que isso é muito arriscado. Se flagramos uma situação de risco de atropelamento acionamos uma viatura. Nós não incentivamos o uso das rodovias para esporte, mas ajudamos se a pessoa precisar. Os postos de apoio ao usuário contam com banheiro e água. Como são postos operacionais, eventualmente estão fechados, mas quando abertos as pessoas podem usar, sem problemas. Temos também os telefones ao longo das vias, que podem ser usados pelos corredores em situação mais grave", explica Cabral.

DICAS PARA PEGAR A ESTRADA

– Confira algumas dicas elaboradas pelos treinadores Fábio Rosa, da MPR, Émerson Vilela, da Mevilela Assessoria Esportiva, e Kelmerson Henri Buck, da Bioecoesportes:

– Procure estradas e rodovias com volume menor de carros. Evite as que chegam ou saem das capitais, pois o fluxo de veículos é intenso.

– Vá sinalizado e visível para os motoristas: roupas refletoras são essenciais, de preferência coloridas e chamativas.

– Leve dinheiro, telefone e, em alguns casos, spray de pimenta para usar contra cachorros.

– Não teste equipamentos, acessórios e tênis em dia de estrada. Se um deles incomodar, você terá que voltar o caminho todo com ele atrapalhando.

– Não use estas vias em feriados prolongados.

– Passe protetor solar (não é raro começar o treino com chuva e depois abrir um sol inclemente).

– Boné e óculos de sol fazem parte do uniforme. Normalmente não há sombra.

– Dependendo da quilometragem pretendida, são necessários géis de carboidrato e repositores eletrolíticos em pastilhas – são leves e ocupam pouco espaço.

– Se não houver lugares para abastecimento, invista em um cinto de hidratação. Mas o melhor é traçar roteiros que passem por postos de gasolina ou outros tipos de estabelecimento. Até porque você pode precisar também de um banheiro.

– Corra no acostamento e na contramão dos veículos.

– Não corra à noite.

– Esteja bem alimentado e hidratado para não faltar "combustível" no meio do treino.

– Podem haver bicas no trajeto. Mas verifique se a água é potável.

– Cuidado com rodovias e estradas com curvatura excessiva para o escoamento da água. Aumenta o risco de lesão, pois você acaba correndo "torto".

– Procure estradas de terra com pouco movimento por causa da poeira levantada pelos veículos.

– Correndo sempre pelo acostamento e na contra mão, fique atento aos veículos quando estiver em estrada de pista única, especialmente nas curvas, quando alguns motoristas tangenciam pelo acostamento.

 

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