20 de setembro de 2024

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Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (103)

Corredores seletivos

 

Nosso calendário de provas está cada vez mais repleto de competições e o que não falta é corredor disposto a participar. Hoje em dia há uma infinidade de provas espalhadas por todo o país, principalmente nas distâncias menores e revezamentos. Em grandes centros, como a cidade de São Paulo, que reúne uma enorme massa de praticantes, há finais de semana em que é até difícil escolher entre uma ou outra competição.

Mas, se para a grande parte dos corredores é uma tarefa árdua escolher a prova em que marcará presença quase que semanalmente, no outro extremo estão aqueles que são bem seletivos e preferem simplesmente treinar e só encarar uma prova quando realmente estão focados no seu objetivo. Na maioria das vezes, estes atletas não entram em prova simplesmente para participar. De uma forma geral, cruzar a linha de chegada e poder colecionar uma série de camisetas ou medalhas é o que menos interessa para estes corredores, que muitas vezes treinam até sem foco, contrariando a idéia máxima de que são os objetivos traçados que impulsionam os corredores a manter a regularidade e a disciplina na corrida. Mas o que move então estes corredores a estar sempre treinando e qual será o motivo que os mantêm a uma certa distância das competições de rua?

O paulista Luciano André Ribeiro, de 34 anos, corre desde 1993, já participou de inúmeras provas e hoje se considera bem mais seletivo em relação às competições, tanto é que em 2010 ainda não participou de nenhuma. Sua última foi nos 600K da Nike, em outubro de 2009, temporada em que fez também apenas mais duas meias maratonas como seletivas para os 600K. De lá para cá, Andrezinho, como é conhecido entre os amigos e que tem sete maratonas no currículo, sendo três delas abaixo de 3 horas, apenas treina.

"Já participei bastante de provas de distância menores, mas hoje acho que elas são muito cheias. Há muita gente e tem um ar mais de prova de fim de semana, em que vão os amigos, e as pessoas correm em pelotões. Quando você entra numa prova de 10 km, pode perder mais de 1 minuto devido ao congestionamento no início,", comenta Andrezinho, que ainda diz não sentir necessidade de ter um objetivo para manter a regularidade nos treinos. "Quando não tenho um objetivo, treino mesmo assim, talvez não com a mesma intensidade, mas com a mesma freqüência. Pratico atividade física desde criança, nunca parei de fazer esportes e sempre tive essa atitude", diz o paulista, que fez sua última maratona em 2007, quando bateu seu recorde pessoal (2h57), e preferiu nos últimos dois anos não traçar nenhum grande objetivo, devido a questões profissionais e pessoais.

A PRIORIDADE É O TREINAMENTO. Outro corredor rigoroso nas suas escolhas é o mineiro Fabiano Soares Carneiro, de 31 anos, que corre desde 2007 e começou na modalidade pela praticidade de conciliar esse tipo de atividade física com o dia-a-dia do trabalho. Com duas maratonas nos currículos, Florianópolis e Buenos Aires, ambas em 2009, o atleta de Belo Horizonte também prefere priorizar o treino a entrar em qualquer prova que apareça. "Essas competições que acontecem em quase todos os finais de semana tomam muito tempo. Algumas são tumultuadas e nem sempre seguem os horários determinados. Acho que há hoje certo exagero na quantidade de provas. É mais fácil levantar cedo, ir para qualquer lugar e correr a distância pretendida", comenta Fabiano, que também não sente dificuldade em manter o foco quando não tem um objetivo estabelecido. "Encaro o treino como uma prova. A diferença é que não preciso fazer inscrição, pegar kit, colocar chip, ter hora marcada e ficar em lugares cheios e apertados." Para Fabiano, o grande prazer de participar de provas está no desafio de fazer algo que não há a certeza de que vai conseguir, como as maratonas. Por isso mesmo, segundo ele, quando opta por uma competição, está em jogo algo muito mais além, que o obrigue a treinar não só o corpo, mas também a cabeça, e que também o faça ter disciplina e persistência.

Quem igualmente faz questão de selecionar provas ao longo do ano e participar apenas daquelas definidas como metas principais é a paulista Renata Soares Barquilla, de 29 anos. Ela corre há mais de 7 anos e foi incentivada por seus pais, que também são corredores. Desde que estreou em maratonas, em 2008, Renata sempre preferiu fazer apenas uma por ano e praticamente riscou as provas menores do seu calendário. Já correu Disney e também Chicago e está se preparando para fazer Berlim, agora em setembro. Embora hoje seja bem criteriosa na sua escolha, Renata lembra que nem sempre foi assim. "Gostava de fazer provas diferentes e legais, como a Volta à Ilha e revezamentos de Ilhabela e Campos do Jordão, assim como algumas de 10 km. Porém, com o passar do tempo estas corridas foram ficando cada vez mais cheias e passou a ser necessário chegar muito cedo para estacionar, entre outras dificuldades. Também ficou mais difícil conseguir correr no tempo desejado, pois tem muita gente e você precisa desviar dos mais lentos no começo. Assim, desisti dessas provas e resolvi correr só as diferentes, que também vão me dar trabalho, mas o prazer de realizá-las é maior", diz Renata, que, quando tem 10 km na planilha, prefere acordar mais tarde e encarar a distância perto de sua casa mesmo. Apesar disso, ela confessa que poderia mudar de idéia em relação à participação em provas menores, se estes eventos não apresentassem os problemas citados.

A corredora paranaense Solange Pereira da Silva, de 26 anos, que mora em Sorocaba e corre há 3 anos, também defende o lema de qualidade e não quantidade. Ela começou a correr depois de conhecer seu marido, um apaixonado por corrida. No começo, Solange também fazia várias provas, sem muito critério, simplesmente pelo prazer de participar. Mas depois de um tempo começou a selecionar mais. "No início, tudo era novidade e eu queria correr todas as provas. Mas agora prefiro escolher e focar num só objetivo", comenta Solange, que passou a tomar gosto por competições que ofereçam um grau de dificuldade maior e também por aquelas que gerem a possibilidade de conhecer locais diferentes, que ela ainda não conhece. Pensando nisso, a corredora, que já completou duas maratonas (Rio em 2009 e São Paulo em 2010) já traçou sua próxima meta: está treinando para encarar os 89 km da Comrades, na África do Sul, no ano que vem.

 

APENAS UMA MARATONA POR ANO. Outro adepto de correr poucas, mas boas corridas, é o médico Marcos Guilherme Cunha Cruvinel, de 39 anos, que nasceu em Uberaba e mora em Belo Horizonte. O mineiro começou a correr há 3 anos, depois de um pacto com sua irmã e seu cunhado, e em setembro de 2007 fez a Maratona de Berlim. Após a estréia nos 42 km, Marcos tomou gosto pela corrida e estabeleceu uma maratona por ano como objetivo. Fez a do Rio em 2008 e a de Porto Alegre em 2009 e 2010. Apesar de correr apenas uma grande prova no ano, Marcos sabe que participar de uma ou outra competição nesse meio tempo é o melhor caminho para ter mais motivação. Mas o pouco tempo destinado aos treinos acaba de certa forma minimizando sua escolha. "Para conciliar minhas atividades como médico e não sacrificar meu tempo com a família, escolho uma prova maior por ano e foco o treinamento para ela", comenta o corredor, que este ano fará também a Meia-Maratona de Belo Horizonte.

Ainda que a maioria dos corredores seletivos priorize uma ou duas maratonas ou meias ao longo do ano e sigam firme no treinamento em busca de seus objetivos, em número bem menor há aqueles que já tiveram o gostinho de participar de provas de 5 ou 10 km e que, depois da experiência, preferiram apenas seguir treinando. É o caso do santista Fabrício Reis dos Santos, de 32 anos, que viveu apenas três experiências de prova, mas que foram suficientes para que tomasse a atitude de nunca mais encarar uma competição.

"Corro há cerca de 10 anos e nunca precisei de corrida nem de assessoria esportiva para me deixar motivado a dar continuidade ao esporte que escolhi para ter saúde e manter minha qualidade de vida. Meu prazer pela corrida está muito além disso. Não sou como a maioria. Uma medalha ou uma camiseta não são suficientes para me tirar de casa num domingo", explica Fabrício, que diz ter odiado os tumultos nas provas nas suas primeiras experiências. "Quero sair de manhã e correr, sem me preocupar com tempo ou distância percorrida. Além do mais, estas provas são realizadas sempre aos domingos e para mim é um dia que prefiro estar com minha família."

 

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