Cada pessoa tem um objetivo diferente na corrida. Ingressar no Ranking Brasileiro de Maratonistas da CR foi o de Douglas Garcia dos Santos, de Araras, SP. Ele dividiu a meta em três etapas, conquistadas em 85 dias. Já Antonio Mendes de Moraes, de Colombo, PR, comemorou seus 80 anos no Mountain Do Deserto do Atacama, no Chile. Mas a sequência de "celebrações" começou bem antes, em janeiro, com o Desafio do Pateta e passou por inúmeras provas. Enquanto isso, lutando há dez anos contra um câncer, Ivonete "Fofolete" Gomes, de Diadema, celebrou a vida durante a Maratona do Rio de Janeiro, em junho. Os três personagens relatam, a seguir, as histórias dessas provas inesquecíveis.
No Deserto do Atacama
"Sempre achei que a minha corrida mais importante tinha sido a 100ª Maratona de Boston, em 1996. Ostentar a medalha da centenária maratona sempre me encheu de orgulho e contentamento. Porém, depois de ter completado os 42 km do Mountain Do Deserto do Atacama em 2016, passei a considerar essa a minha "prova inesquecível", principalmente porque estava fechando com chave de ouro as comemorações dos meus 80 anos, completados no dia 16 de outubro, quando participei da Meia do Rio.
As celebrações dos meus "oitentinhas" passaram por várias provas, iniciando pelo Desafio do Pateta, na Disney (21 km + 42 km), em janeiro, e contando com mais cinco meias-maratonas e a Maratona de Porto Alegre, para então encerrar o ano (e as comemorações) no dia 13 de novembro no Atacama. Como faço em todas as corridas, treinei intensamente durante três meses para o Chile. Mesmo assim, estive sempre preocupado, afinal seria a minha primeira do Mountain Do e por correr no deserto mais seco, mais árido e mais alto do mundo.
Calor insuportável, vento e areia na cara e, ainda, para completar, a preocupação do ar rarefeito dificultando a respiração. Felizmente, a organização do Mountain Do dá um superapoio, oferecendo postos de hidratação a cada seis quilômetros e isotônico durante toda a segunda parte do desafio. Junto com o kit da corrida recebemos uma minimochila, onde levamos água adicional e sachês de carboidrato.
Veio então a largada e me senti um garoto, correndo, saltitando e brincando pelo deserto. Claro que houve um pouco de falta de ar devido à altitude e ao calor. Finalmente, completei os 42 km 7h09. Os joelhos e as panturrilhas foram muito exigidos, mas estavam perfeitos, sem o mínimo desconforto ou dor. Apenas a sola do pé esquerdo ficou um pouco ferida devido ao acúmulo de areia no tênis, mas nada que me impedisse de ir até o hotel. Após o banho, retornei para a praça central de São Pedro de Atacama e, já terminando a entrega dos prêmios, fui chamado ao pódio por ter completado os 42 km aos 80 anos de idade!
Para mim, foi a prova mais empolgante e emocionante de todas as quase 70 maratonas das quais participei no Brasil, na Europa, na América do Norte e do Sul. Naquele momento, da premiação, fiquei extasiado, sendo homenageado e aplaudido por tantos colegas maratonistas e por populares, me sentindo importante naquele momento mágico de minha vida, e tendo a oportunidade fechar com chave de ouro as comemorações dos meus 80 anos de vida, com saúde física e espiritual." (Antonio Mendes)
Resumo das celebrações de 80 anos em 2016
09/01 – Meia da Disney – 2h28
10/01 – Maratona da Disney – 5h15
01/02 – Meia Rio Negro/Mafra – 2h21
06/03 – Meia de S. J. dos Pinhais – 2h15
24/04 – Meia de Camboriú – 2h25
15/05 – Meia de Curitiba – 2h24
12/06 – Maratona de P. Alegre – 5h08
16/10 – Meia do Rio – 2h27
13/11 – MD Deserto do Atacama – 7h09
3 sonhos em 85 dias
"Sou assinante e fã da Contra-Relógio. Corro há seis anos, mas os quatro primeiros por conta própria, participando de provas de 5 km, 10 km e 21 km, com média na meia-maratona entre 2h18 e 2h34.
Em 2016, resolvi treinar seriamente para realizar o sonho de completar uma maratona. Procurei uma assessoria esportiva e uma nutricionista do esporte. Perdi 23 quilos no ano passado, completei 17 provas de 10 km e 7 meias, entre elas Santiago com 1h59 e Buenos Aires com 1h44.
Agora, em 2017, treinei duro desde janeiro para os três grandes sonhos: o primeiro de estrear em uma maratona; o segundo de completar uma ultra e o terceiro, e principal, de colocar o meu nome no Ranking Brasileiro de Maratonistas da CR.
Porém, sofri uma lesão no tendão, ficando 40 dias treinando somente bicicleta, academia e natação. Com isso, perdi a estreia na Maratona de São Paulo. Mas segui em frente e consegui realizar o primeiro sonho no dia 6 de maio, ao completar os 42 km da prova 28 Praias (Ubatuba a Caraguatatuba) em 6h27.
O segundo sonho foi concretizado no dia 10 de junho, ao concluir a minha primeira ultra, de Brotas a São Pedro (no Interior de São Paulo), fazendo os 62 km em 7h39.
Restava o terceiro sonho e a prova inesquecível. Ele foi alcançado no dia 30 de junho, ao completar a São Paulo City Marathon em 3:39:08 e conseguindo, assim, o índice (sub 3h40 na faixa 18/34 anos) para o ingresso na listagem dos melhores maratonistas, que será publicada na revista de janeiro.
Para a felicidade ser completa, meu irmão, Carlos Eduardo Fermino (comigo na foto, à direita), o meu maior incentivador a começar a correr, terminou com o tempo limite de 3:49:59 (na faixa etária dele, o tempo de corte do ranking era ser sub 3h50), ou seja, alegria completa!" (Douglas Garcia)
A maratona da vida
"Em primeiro lugar, nunca planejei ou tive a intenção de fazer uma maratona. Apenas em 2015, quando corri a primeira meia no Rio de Janeiro, foi que pensei: "Se um dia fizer uma prova de 42 km, será aqui". Mas apenas isso. O tempo passou e, então, ganhei do meu filho, Alexandre Gomes da Silva, a inscrição para a Maratona do Rio de 2017.
Mas antes de contar como foi toda essa preparação e vivência para uma maratona inesquecível, alguns detalhes precisam ser explicados. Nunca sei o dia de amanhã. Vivo somente o hoje, desde que descobri um câncer. Agora, no final de agosto e início de setembro, completou dez anos que estou na luta contra a doença. Feita essa "apresentação", voltamos à decisão de correr a maratona. Entretanto, havia toda uma questão especial. Fiquei dois meses e meio sem fazer a quimioterapia. Se seguisse com a medicação, não conseguiria correr os 42 km. Durante a preparação, foi uma pneumonia atrás da outra. Somente consegui concluir dois longões, um de 27 km e outro de 30 km.
Agora, desde que decidi correr no Rio de Janeiro, tinha uma convicção muito grande de que iria cruzar a linha de chegada. Durante três meses, fortaleci a musculatura na academia com a orientação dos professores Diogo Cruz e Bruno Massa. Dois meses antes da maratona, saí de 38 sessões de radioterapia todos dos dias, de segunda a sábado. O tumor segue de forma ativa, ou seja, não está estacionado. Precisava desse tratamento antes da prova, que eu chamo de "A maratona da vida", pois foi uma provação atrás da outra.
No dia 18 de junho, ao levantar, às 4h, e ver o céu azul, comecei a chorar. Ao chegar à área da largada, não acreditava. A cada 10 km, eu tirava uma foto e a Rosi Barbosa, uma amiga que me acompanhou durante toda o percurso, enviava as imagens pelo celular para os parentes (incluindo meu marido, Paulo Sérgio) e os integrantes da equipe Amigos da Onça da Fofolete (companheiros de todos os treinos curtos e longos), de Diadema, informando que eu estava bem e seguindo em frente. Chorei pouco na prova. No km 38, vi muitos homens fortes passando mal, vomitando, meninas novas desistindo da maratona… E segui em frente. Foi inesquecível cruzar a linha de chegada.
A descoberta do câncer foi muito difícil. Vivi três meses muito difíceis, enfrentei uma depressão por anos. Mas quando comecei a correr, parei de me sentir doente. Agora não sou mais uma paciente de oncologia, mas sim uma pessoa curada, mesmo sabendo que não é verdade. Essa é a sensação que a corrida me dá." (Ivonete Gomes)
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