Wanderlei Oliveira nasceu em 30 de outubro de 1959 e começou a correr logo cedo, acompanhando o pai, que era jogador de futebol. "Tinha apenas seis anos e dava voltas no campo e às vezes voltávamos correndo para casa." Atleta e técnico – Wanderlei não separa uma coisa da outra, diz que nunca ficou um dia sem correr e que em 20 de novembro de 2011 contabilizou seus quilômetros e comemorou 90 mil km, o equivalente a duas voltas no planeta.
Para o treinador, muita coisa mudou nas últimas três décadas, notadamente as razões para se correr. "Antes a corrida era pura, treinávamos para competir mesmo. Era um esporte; ainda não havia a proposta de qualidade de vida, de correr por lazer". Uma atitude de Wanderlei que nunca muda é a de sempre treinar junto com o grupo que orienta. "Esse é um hábito que mantenho, pois tenho que ser o exemplo aos meus alunos. E por isso não posso relaxar a forma física e nem deixar de evoluir nos treinamentos."
Wanderlei sempre foi muito ativo também no meio organizacional do esporte. Antes de completar 18 anos fazia parte da equipe de fiscais da Federação Paulista de Atletismo, e desde 2002 é diretor de Corridas de Rua da FPA. Outra contribuição importante foi em 1982, quando junto com um grupo de amigos criou a Corpore, o maior clube de corredores da América Latina.
Em 1999, Wanderlei conquistou a notoriedade ao sair na capa da Vejinha São Paulo, sob o título "Guru das Pistas". Entre os motivos para esse destaque estava o fato de ser responsável pelo treinamento de 550 corredores, notadamente funcionários do supermercado Pão de Açúcar (entre eles a família Diniz), mas também de sua assessoria particular, a Run for Life, que hoje concentra toda sua atuação como técnico.
Em 1990 foi o primeiro a levar grandes grupos para a Maratona de Nova York, depois vieram viagens para as maratonas de Paris, Roterdã, Berlim e até a Comrades, na África do Sul. Mas quem pensa que só iam os "bacanas", ledo engano. Grande parte desses corredores eram funcionários do Grupo Pão de Açúcar, pessoas simples que tinham nos treinamentos o objetivo para conquistar uma vaga para o sonho da primeira maratona internacional. "Creio que mais de uma centena de corredores-trabalhadores tiveram a oportunidade de conhecer outros países. O que mudou a vida e história de muita gente, que continuou correndo, alguns até hoje."
Entre as muitas provas corridas por Wanderlei estão 20 São Silvestres e todas as 25 edições dos 10 Km Tribuna FM, de Santos. Entre as internacionais, destaque para 22 maratonas, sendo 10 em Nova York, 7 em Paris, 4 em Roterdã e 1 em Chicago. Ele também foi técnico da equipe brasileira nos Campeonatos Mundiais de 100 Km no Japão (1994), Moscou (96), Holanda (97) e França em 99.
INCLUSÃO SOCIAL: Wanderlei acorda normalmente às 4 horas e se prepara metodicamente, desde a alimentação até o cuidado na escolha do equipamento, e parte para os primeiros treinos junto com seus atletas. Outra faceta desse guru é o resgate social pela corrida. Em 1996 foi escolhido pelo então governador Mario Covas para treinar a ex-drogada e menina de rua Ana Garcez dos Anjos, a "Animal", que por intermédio da corrida se recuperou, passou a competir e muitas vezes já subiu ao pódio de provas nacionais e do exterior.
José Cássio Oliveira Santos ou simplesmente "Nino" é outro corredor orientado gratuitamente por Wanderlei. Ex-puxador de carroças, teve seu barraco destruído por incêndio na favela que morava. Os colegas da Run for Life, assim como vários leitores da CR (depois da matéria que saiu sobre ele) o ajudaram a superar essa dificuldade extra. Atualmente Nino trabalha como balconista em um depósito de materiais de construção, e no ano passado correu a Meia de Buenos Aires para 1h18.
VETERANOS ATIVOS. Wanderlei aponta que infelizmente no Brasil há algumas ideias estranhas sobre a maneira correta de como as pessoas mais velhas devem se comportar. "Numa narração de futebol, é comum escutarmos os comentários a respeito dos jogadores que já passaram dos 30 anos. Dizem que estão velhos e que deveriam pendurar as chuteiras. Discordo! Também pessoas com mais de 40 anos por vezes são desencorajadas a fazer qualquer atividade física, o que é algo completamente equivocado!"
O treinador orienta diversos corredores veteranos e que se mantêm em grande forma. "Sempre estimulei a prática da corrida principalmente após os 40 anos. Temos a Mitiko Nakatani, que começou aos 60 anos e com 73 anos conquistou o campeonato mundial master na Espanha, continuando a correr até hoje, com 79 anos. Ou o Oswaldo Silveira, 81 anos, que foi campeão de sua faixa etária na Maratona de Nova York 2010 e vice em 2011."
Wanderlei defende sua postura em relação à terceira idade. "Acredito e digo que idade não é desculpa. São necessárias apenas algumas precauções iniciais. Ao longo de mais de 30 anos acompanhando ex-sedentários, homens e mulheres, na grande maioria acima dos 40 anos, o que mais tem me chamado a atenção em relação aos idosos que correm não é a (boa) saúde em si, mas o fato de simplesmente se sentirem melhor e terem mais disposição no dia-a-dia. Mais até do que muitos jovens."
O próprio treinador se vê como exemplo de vigor físico, já que aos 52 anos continua correndo muito bem. Em novembro último ele completou sua 77ª meia-maratona, na etapa de Brasília da Golden Four Asics, com seu melhor resultado desde 2008: 1h36.
Por mais de 10 anos fui orientado por Wanderlei Oliveira, um disciplinador, exigente com os treinamentos e que não tolera "corpo mole". Quando comecei a treinar com ele, em 1995, fazia os 10 km em 45 minutos e apenas 9 meses depois já corria a distância em 35 minutos. Eu tinha, então, 30 anos.
Wanderlei Oliveira também tem veia jornalística. Desde 2000 é comentarista da Corrida Internacional da São Silvestre, na TV Gazeta, e há três anos está no programa Vamos Correr da ESPN Brasil.
NOVO PERFIL DOS CORREDORES
Hoje a corrida de rua é uma excelente opção de lazer esportivo. É uma oportunidade de fazer e encontrar amigos. A Corja no Rio de Janeiro e a Corpore em São Paulo foram as precursoras desse movimento saudável. Antigamente eram poucos participantes nas provas, mas o nível técnico era superior. Correr sub 40 nos 10 km era normal. Lembro da primeira prova nessa distância realizada pela Corpore em Bauru. Eram 500 participantes e com 48 minutos fui o último classificado! E ainda levei uma bronca do Vasco (Manuel Garcia Arroyo – um dos fundadores da Corpore e diretor-técnico do clube, que perguntou por que eu tinha demorado tanto, já que precisávamos recolher as grades e devolver para a prefeitura. As inscrições naquela época eram geralmente gratuitas. Foi a Corpore que lançou a ideia dos postos de água nas provas, lanches após o término, camisetas comemorativas e medalhas a todos os participantes.
EXPERIÊNCIA EM PORTUGAL
Em 1985, foi realizada o 1º Meeting de Atletismo em SP, organizado pela Corpore. Na ocasião, Mário Moniz Pereira, técnico do Carlos Lopes (2h07 na maratona) e Fernando Mamede (27:13 nos 10.000 m), ambos recordistas mundiais na época, conheceu meu trabalho e me convidou para um estágio com ele no estádio do Alvalade, sede do Sporting Club, de Portugal, que era a equipe campeã da Europa em meio-fundo e fundo. Foi a minha melhor experiência como atleta, ser humano e profissional. Praticamente tudo que faço hoje em metodologia do treinamento está baseado nessa vivência nos anos de 1986/1988.