Sem categoria admin 10 de março de 2015 (0) (99)

Você controla sua corrida ou a corrida controla a sua vida?

Você certamente já ouviu falar que a corrida pode virar um vício. Tanto no aspecto clínico, quanto no psicológico. Clinicamente, este vício pode ser detectado com alguns exames específicos. Mas, e o psicológico? Segundo a psicóloga Aline Sardinha, a corrida é usada com diversas finalidades: alívio de estresse, ansiedade e raiva; controle da hiperatividade; manutenção da saúde e da estética corporal. "O problema é quando a corrida passa a ser a única forma de se atingir este bem-estar e quanto mais rígidas forem suas funções. Aí ela vira um vício", explica Aline.
Para se detectar, de início de forma superficial, se a corrida está virando um vício e em vez de fazer bem está fazendo mal ao indivíduo, Aline montou um pequeno questionário (veja e responda) com questões do cotidiano dos corredores, que pode mostrar o quanto a corrida ou a falta dela podem afetar o ânimo, o humor, a saúde e até a produtividade no ambiente de trabalho.
Na opinião da psicóloga, entre todos estes aspectos, alguns apontam com maior clareza a existência do vício, caso o indivíduo fique um dia sem correr: irritação ao longo do dia; falta de concentração no trabalho ou em atividades importantes; aumento na intensidade da corrida em caso de excesso de alimentação na véspera; achar que há algo errado com o corpo caso o treino não saia como previsto. "Estes casos são os mais preocupantes", afirma Aline.
Muitas vezes o corredor só pensa que está sofrendo do vício de correr ao passar pelo chamado overtraining (efeitos do excesso de treinamento) ou por alguma lesão grave. É quando ele decide parar e pensar sobre seu comportamento. Mas existem casos de corredores que treinam duro, mesmo sendo amadores, e ainda assim não deixam que a corrida controle suas vidas.

PRAZER EM TREINAR. É o caso de Alexandre Moura, que aos 33 anos – 15 de corrida – buscou novos desafios e hoje, além de provas longas de corrida, faz triatlo. Moura sabe que existe vida fora da corrida, embora dedique seis de seus dias da semana aos treinos. "Treino muito buscando performance. Sinto um prazer imenso em treinar, mas também fico feliz de ter dias de descanso. Sempre fiz esportes, mas nunca me alterei pelo excesso ou ausência dele!", afirma Moura.
O corredor não é daqueles que fazem vista grossa para os avisos que o corpo dá. Sempre que necessário dá um tempo nos treinos, sem que isso o torne uma pessoa menos bem humorada ou produtiva profissionalmente.
"Sinto sinais do meu corpo o tempo todo. Temos limites, mesmo que temporários ou momentâneos. Saber respeitar isso é fundamental para a saúde física e a longevidade esportiva", conta Moura, que se deu ao luxo de aumentar a importância do esporte em sua vida. "Em breve, em paralelo ao meu trabalho como administrador de empresas, vou começar uma carreira profissional ligada ao esporte. Isso seria impossível sem gostar muito de atividade física, mas também sem ser consciente e controlado", completa.

MESMO COM LESÕES. Foi exatamente controle o que faltou para Cláudia Strogoff, corredora que há quatro meses se recupera de uma série de lesões com sessões de fisioterapia. Assumidamente ansiosa, Cláudia, mesmo em tratamento, não ficou de fora de provas, como a Golden Four Asics, dia 7 de abril, e a Corrida da Ponte, dia 19 de maio, ambas no Rio.
"Tive múltiplas lesões nos dois joelhos, sendo que o direito é o mais crítico; estou em tratamento de fisioterapia e acupuntura, mas ainda sinto dores quando corro no asfalto. Mesmo assim não consigo ficar de fora da maioria das provas", admite a corredora, que fez uma artroscopia no joelho direito há alguns anos.
Atleta da equipe Runners Rio, Cláudia conta que fez 38 provas em 2012 e incontáveis treinos longos e de subidas. O auge da loucura, segundo a própria corredora, foi o último dia do ano. "Fiz a Subida do Cristo e logo depois a São Silvestre, praticamente sem descanso. Quebrei no km 5 da São Silvestre e me arrastei até a linha de chegada.
A corredora garante ter noção da realidade e ao que expõe seu corpo, mas joga a culpa na ansiedade, que segundo ela, está perdendo a batalha. "A lesão me deixou mais consciente dos meus limites. Estou aceitando melhor a realidade de que descanso também é treino, mesmo que seja difícil para mim. Cometi loucuras e estou pagando um preço alto por isso. Mas ainda compenso um dia sem treino, dobrando a carga no dia seguinte", conta Cláudia.

 

DESCUBRA SE VOCÊ É UM VICIADO EM CORRIDA
(Responda ao questionário e depois veja o resultado)

Nos dias em que não consigo correr me sinto mais inquieto, com dificuldade de ficar parado?

( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Se eu não consigo ir correr, me sinto irritável ao longo do dia?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

A corrida é o melhor jeito de aliviar meu estresse ou a minha raiva?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Se eu não correr, não consigo me concentrar bem no trabalho ou em outras atividades importantes?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Se eu como demais no dia anterior, no dia seguinte compenso aumentando a intensidade da corrida?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Preciso correr todos os dias para me sentir em dia com a minha saúde?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Se eu não consigo fazer um treino que havia planejado, fico preocupado de haver algo errado com meu corpo?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Se eu não for correr, fico preocupado, achando que vou engordar?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Fico pensando que meu desempenho deve melhorar sempre?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Correr é a minha principal estratégia para me sentir bonito e atraente?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca

Resultado: Sempre = 2 pontos; Às vezes = 1 ponto; Nunca = 0 ponto

De 0 a 7 pontos: Parabéns! Você tem o completo domínio sobre a corrida e ela é para você uma forma para manter a saúde em dia e um elemento de prazer. Mesmo que busque sempre melhorar sua performance e siga com disciplina uma planilha de treinos, sabe que existe vida fora das corridas.

De 8 a 14 pontos: Cuidado! Embora você ainda não seja considerado um viciado em corridas de rua, pode estar caminhando – ou correndo – para isso. Em determinadas situações você se deixa controlar pela corrida. Lembre-se de que existem outras maneiras de se sentir bem e que um dia sem treinar não é o fim do mundo.

De 15 a 20 pontos: Atenção! Para você praticamente a vida não existe sem a corrida. Aliás, ela é a sua própria vida e isso não é bom. Por conta da corrida, ou da falta dela, você anda mal-humorado, com baixa autoestima e prestes a sofrer uma lesão ou chegar ao overtraining. Converse com seu treinador (se tiver um) ou procure uma ajuda profissional.

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