Performance e Saúde admin 10 de março de 2015 (0) (93)

Vitaminas e suplementos são mesmo tão necessários?

Economistas dizem que o mercado é regido pela lei da oferta e da procura. O segre¬do do marketing, nos ensi¬nam, é criar novos nichos, fazer com que as pessoas sintam a necessidade de consumir coisas que elas nem sabiam que precisavam, e que, por sorte, você vende. Essa pare¬ce ser a lógica da indústria de vitami¬nas e suplementos.
Como melhor explicar a sensação que se tem ao entrar em uma loja onde as prateleiras estão abarro-tadas de produtos "fundamentais" para o bom desempenho do corre¬dor? Cada produto promete suprir o espaço deixado por uma falha do nosso metabolismo, aquele parafu¬so central que – descobriu-se recen¬temente -, se não ajustado, compro¬mete a performance do organismo inteiro, mas que agora você pode corrigir, pois uma nova planta foi achada nos confins do planeta.
Mas a indústria e sua máquina publicitária não são as únicas res¬ponsáveis por este cenário. Corredo-res e atletas em geral insistem em achar que está faltando algo na sua alimentação, e que isso está com-prometendo a performance. Proble¬mas com o treino, trabalho ou clima são sempre secundários; o principal suspeito sempre é a alimentação.
Talvez porque, se for realmente este o problema, a solução está ao alcance do bolso, é simples e rápida. Gostamos de acreditar que nossos problemas se resolvem através de comprimidos. Imagine só alguém pagar um nutricionista e sair do consultório sem a recomendação de comprar algum suplemento! É qua¬se uma ofensa ao dinheiro gasto na consulta ouvir que tudo se resolve com vegetais e mais peixe.
Em parte movidos pela ânsia de corredores e atletas de melho¬rar seus corpos de maneira fácil e descomplicada, mas também pela própria ganância, o mercado de vitaminas e suplementos cresceu de forma assombrosa nas últimas décadas. A rápida expansão sem¬pre foi acompanhada com relativa prudência por médicos e especia¬listas, que sempre – desconfiados – recomendam cautela quanto à adoção crônica de suplementos da moda, que são vendidos mais ra¬pidamente do que qualquer estudo sério sobre sua funcionalidade pu¬desse ser realizado.

PROIBIDOS! A situação parece estar começando a se inverter, e a extre¬ma cautela começa a dar lugar a atitudes mais firmes. A questão das vitaminas e suplementos voltou aos holofotes em outubro do ano passa¬do, quando um hospital pediátrico americano (Children's of Philadel¬phia) anunciou que estava retirando a maioria dos suplementos alimen¬tares, como vitaminas e minerais, da sua lista de medicamentos ofi¬ciais, e além disso estava instruindo seus médicos a dissuadir os pais de seus pacientes de usarem tais subs¬tâncias por conta e risco. O motivo é muito simples: não existem indicati¬vos suficientes para justificar o uso da grande maioria deles.
É claro que exemplos pontuais de substâncias que parecem auxiliar sim a performance ou a recupera-ção de uma sessão de treino fun¬cionam quando ingeridas de forma aguda. É o caso de se tomar de suco de beterraba (rico em nitratos), a simples suplementação de carboi¬dratos durante uma prova ou ain¬da a ingestão combinada de prote¬ínas com carboidratos, logo após o treinamento.
Contudo, este tipo de "suplemen¬tação" não é do que estamos tra¬tando aqui. Estamos falando do uso constante de compostos ou nu¬trientes sob formas não naturais, ou não provenientes dos alimentos. Enquanto alguns poucos elementos são melhor absorvidos quando in¬geridos de maneira não natural (o ácido fólico acrescentado à farinha brasileira é um ótimo exemplo), a grande maioria das substâncias é melhor aproveitada pelo organis¬mo quando ingerida em alimentos. Além disso, a suplementação aqui abordada é aquela feita por pessoas que nunca sequer fizeram qualquer tipo de exame para saber se efeti¬vamente possuem alguma carência daquele nutriente.

AVALIAÇÃO DOS SUPLEMENTOS. A revista científica British Journal of Sports Medicine, uma das mais re¬nomadas na área de ciências do es¬porte, há tempos possui uma seção chamada "suplementos nutricionais de A-Z". Nela são encontrados mais de 40 minicapítulos, e em cada um é feita uma revisão sobre o que exis¬te de concreto sobre diversos suple¬mentos alimentares que se propõem a auxiliar a performance e/ou a re¬cuperação em esportes.
Entre as substâncias avaliadas nesses produtos estão: vitamina B, vitamina K, sacarose (açúcar de mesa), espirulina, sucinato, acetilcolina, condroitina, glucosa¬mina, cissus quadrangularis, cro¬mo, nitrito, nitrato, octaconasol, cetona de framboesa, melatonina, melamina, glicerol, guaraná, fola¬to, flavonoides, leucina, lecitina, ácido linoleico.
Listadas acima estão 23 substân¬cias, que podem ser facilmente en¬contradas em lojas de suplementos e sobre as quais chegamos a prati¬camente a mesma conclusão: são compostos que podem ser encontra-dos na dieta natural e cuja suple¬mentação, além dos níveis normais, não traz qualquer benefício, além de poder ocasionalmente causar problemas para o organismo.
Além do desperdício de dinheiro e de possíveis complicações decor¬rentes de doses muito elevadas de determinados compostos, o uso in¬discriminado de suplementos para garantir a ingestão diária de vita-minas e minerais possui ainda ou¬tro efeito colateral: sabendo que a "necessidade" está sendo suprida pelo comprimido, as pessoas se tor¬nam menos propensas a fazer esco¬lhas saudáveis no resto do dia.
Por que se preocupar com o que comer no almoço se tudo o que pre¬cisamos estará numa cápsula no fim do dia? É uma supercompensação parecida com a daquela pessoa que começa a correr como parte da dieta e acredita que porque percorre 30 km por semana tem o direito de co¬mer o quiser, e acaba aumentando de peso, ao invés de perder.

Medicamentos x suplementos

Enquanto a indústria farmacêutica possui uma série de regulamentações para que um medicamento ganhe autorização para ser revendido comercialmente, os chamados "suplementos alimentares" possuem regras muito mais brandas para a sua comercialização.
Com isso, abrem-se inúmeras brechas para que afirmações infundadas se tornem argumentos de vendas para estes produtos, pois não há, em grande parte dos casos, necessidade de prova da funcionalidade ou eficiência dos produtos para os fins aos quais eles se destinam.

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