A morte por atropelamento de Álvaro Teno e o ferimento em mais quatro corredores, que treinavam na Cidade Universitária da USP, na capital paulista, no dia 16 de agosto, colocou em evidência nosso triste e violento trânsito. Teno tornou-se mais um integrante da lamentável estatística que cresce mês a mês no país. O número de vítimas fatais no trânsito brasileiro cresceu 38,3% no período de 2002 a 2012, de acordo com números do site Mapa da Violência.
Atualmente, morre-se mais em acidentes de trânsito do que por câncer. É a segunda causa de fatalidade violenta no Brasil, na frente inclusive dos homicídios, em uma comprovação do total desrespeito às leis em vigor e da má qualidade dos motoristas. A Lei Seca não inibe quem ingere álcool e sai dirigindo – de acordo com a polícia, o motorista que matou Teno testou positivo para o teste do bafômetro, e até o fechamento desta edição seguia preso e sendo processado pela Justiça.
Os corredores precisam das ruas para treinos. Assim, estão diretamente nesse fogo cruzado. Há um incentivo de anos pela motorização dos brasileiros, em detrimento ao uso de transporte público ou outros meios de locomoção, como bicicletas. Fator esse ainda mais evidente em São Paulo. A capital paulista, apesar de contar com locais para a prática esportiva, como o Villa Lobos, Ibirapuera e Parque do Povo, para citar os três maiores, não consegue comportar a demanda de corredores que cresce anualmente. Como se verifica na USP nas manhãs de sábado, sendo que lá há ainda um terceiro elemento: o ciclista. E a relação corredores-ciclistas-motoristas está distante de ser pacífica. Conflitos ocorrem em praticamente todos os finais de semana.
Extraoficialmente, aponta-se que 6 mil pessoas treinam aos sábados pelas vias da USP e a maioria já vivenciou (ou testemunhou) confusões. Depois da tragédia, a reitoria da universidade disponibilizou uma pesquisa entre os frequentadores e vem fazendo reuniões inclusive com a Associação dos Treinadores de Corrida (ATC) e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para encontrar uma medida mais positiva para o treinamento nas vias do local. Trata-se de uma discussão bem complexa.
O Conselho Gestor do Campus da Capital criou o Grupo de Trabalho de Mobilidade, que avalia medidas para melhorar e tornar mais seguro o fluxo de carros, bicicletas e pedestres. Entre as ações estudadas, estão a implantação de faixas exclusivas de ônibus e a criação de ciclovias dentro do campus, que serão desenvolvidas em parceria e em conformidade com a Prefeitura de São Paulo, com a atuação da CET para fiscalização do trânsito dentro da Cidade Universitária, informou a reitoria, por meio de nota oficial divulgada pela assessoria de imprensa.
Em relação à questão das práticas esportivas, a Prefeitura do Campus está levantando informações quanto aos horários de maior concentração de corredores (e ciclistas), os trajetos adotados, as demandas dos grupos, entre outros dados, para traçar um perfil dos esportistas que frequentam a USP.
Uma das ações já em prática é a campanha "Por um trânsito cidadão", lançada dia 22 de agosto, nos relógios digitais e mobiliários urbanos de comunicação da Cidade Universitária, com o objetivo de sensibilizar motoristas, ciclistas e pedestres para observação das regras de trânsito, atenção à sinalização das vias e respeito mútuo, necessário para um trânsito civilizado.
Outro fator que chama a atenção é que, além da ciclofaixa de lazer, São Paulo não conta hoje com vias públicas fechadas aos finais de semana e feriados para a prática esportiva, principalmente da corrida, como é comum em Brasília e Rio de Janeiro, dois exemplos bem positivos, e também em Porto Alegre. A situação, infelizmente, repete-se em outras capitais e municípios, com mais exemplos negativos do que positivos.