Atualmente existem vários aparelhos disponíveis para o corredor que deseja acompanhar e aperfeiçoar seu desempenho. Esses dispositivos, que surgiram inicialmente com o propósito de monitorar apenas a frequência cardíaca dos atletas, coletam agora várias outras informações e produzem um grande emaranhado de dados, que muitas vezes sequer sabemos a que se prestam.
No caso dos equipamentos de maior precisão, como relógio com GPS, o preço aumenta exponencialmente, de acordo com as variáveis que ele é capaz de medir e produzir, ou seja, mais dados, mais elevado o preço. Precisamos mesmo de tantas referências? Veja a seguir quais são os parâmetros realmente úteis e como você e seu treinador (se tiver um) podem extrair e utilizar essas noções para melhorar a sua performance.
Os dados levantados e produzidos pelos principais instrumentos oferecidos no mercado – e que são úteis – podem ser divididos em 2 grupos: os que fornecem informações sobre a qualidade da mecânica do movimento do corredor e os que trazem números sobre a capacidade cardiorrespiratória.
MECÂNICA DO MOVIMENTO. A cadência é medida com o sensor de pé (footpod), de modo que o equipamento conta quantas vezes o membro que está com o sensor toca o chão no intervalo de 1 minuto. Valores de referência estão entre 150 e 200 passadas por minuto, sendo que o valor ótimo, desejável, é ao redor de 180. Se o corredor está com uma cadência muito baixa, o treinador irá direcioná-lo para atividades educativas no intuito de aperfeiçoar sua corrida; com passadas curtas, o indivíduo faz mais esforço e se desloca pouco. Em contraposição, passos com grande amplitude dão a falsa ilusão de que estamos indo mais rápido, mas ao mesmo tempo se consome também mais energia e no final das contas se percebe que estamos sendo menos eficientes.
Dispositivos modernos, como o Garmin Forerunner 620, medem também a oscilação vertical do atleta ao longo da atividade, com base em um sensor no peito do corredor. Como a corrida é uma atividade dinâmica, é impossível que a oscilação seja igual a zero, mas se o valor está elevado é um sinal de instabilidade, consumindo energia para se equilibrar. Índices da literatura apontam que a oscilação vertical ideal está entre 6 e 13 cm, sendo que quanto menor, melhor.
Neste caso, o treinador poderá recomendar exercícios de fortalecimento de tronco, reforçando a estabilidade do atleta, à medida que se movimenta. Esse parâmetro é mais útil para esportistas que já tenham uma boa base de treinamentos e conheçam melhor seu corpo, tendo uma propriocepção mais apurada. É um parâmetro que tem mais utilidade para corredores que estejam numa fase de refinamento do gesto corporal. Se ele estiver correndo "travado", esses dados não servirão para muita coisa!
CAPACIDADE CARDIORRESPIRATÓRIA. Uma variável bastante importante e levantada por praticamente todos os instrumentos vendidos atualmente é a frequência cardíaca (FC). Geralmente apresentada na forma de batimentos por minuto, a FC serve como indicadora do nível de esforço fisiológico e cardíaco durante a atividade física. Ao adquirir um desses equipamentos, o atleta insere informações como peso, idade e altura, que serão utilizados em algoritmos na realização de cálculos. Alguns aparelhos fornecem as zonas de desporto (Zn), levando em conta os intervalos de frequência cardíaca, sendo Z1 de 50-60% da frequência cardíaca máxima e Z5 acima de 90% da FCmáx. Segundo a cardiologista Luciana Rasquel, de Belo Horizonte, após o aquecimento o importante é mantê-la o mais constante possível, sem variações bruscas. Se em treinos em terreno plano a variação é muito grande, o atleta deve procurar um cardiologista, que certamente irá pedir a realização de um teste ergométrico para avaliação.
O VO2 máximo é a variável fisiológica que mais reflete a capacidade aeróbica de um indivíduo, porque mede a maior capacidade de uma pessoa de transportar e metabolizar oxigênio durante a atividade física. Na opinião de Franciane Costa, preparadora física da Academia Tropical, também de BH, especialista em reabilitação cardíaca, a forma mais precisa de se obter o Vo2max é através do teste ergométrico com o analisador de gases, no qual o indivíduo corre alguns minutos em esteira e o equipamento mensura com exatidão o consumo de oxigênio durante aquela atividade.
Entretanto, o mais comum é a realização de estimativa, com base principalmente na frequência cardíaca, distância percorrida, tempo e PSE (percepção subjetiva do esforço). É expresso geralmente em ml/kg/min. Existem atualmente mais de 10 protocolos diferentes para estimar o VO2 máximo. Sem saber qual algoritmo seu equipamento utiliza, o valor puro e simples servirá apenas para dar uma ideia relativa da condição do atleta. Aqueles treinos em que falta fôlego mostram que o VO2 deve ser melhorado.
VELOCIDADE. Parâmetro que irá resultar da combinação da capacidade cardiorrespiratória e da mecânica do movimento é a velocidade (km/h), que alguns aparelhos também fazem a conversão para ritmo (min/km). Uma pessoa com bom condicionamento irá conseguir alcançar velocidades maiores com uma PSE menor. Dessa forma, a velocidade pode ser utilizada como um indicador da condição física geral do atleta.
Se o objetivo é aumentar a velocidade numa determinada distância, o corredor será direcionado para exercícios intervalados, permanecendo por alguns minutos na sua zona de desporto limite e aumentando o seu VO2 máximo. Também pode ser combinado com exercícios pliométricos para aumentar a potência muscular.
Apesar de fornecer vários dados, alguns deles nem tão necessários, os dispositivos ainda pecam por não terem um simples sensor de medição de temperatura corporal, que poderia ajudar, por exemplo, a se ter uma ideia de como está a termorregulação do atleta, que muitas vezes apresenta uma PSE elevada devido à desidratação, sem se dar conta disso. É algo que acontece principalmente durante os treinos longos, nos quais o praticante não tem tanta oferta de hidratação.
A maioria dos parâmetros disponibilizados pelos dispositivos de monitoramento utilizados na corrida pode ser levantada por você e pelo seu treinador, alguns inclusive com melhor precisão! Dessa forma, antes de se deixar atrair pela modernidade dos aparatos, vale a pena refletir se estaremos investindo numa Ferrari, para andar na velocidade de um fusca.