Blog do Corredor André Savazoni 4 de agosto de 2015 (19) (129)

Uma questão de influência cultural na Golden Four Asics?

Hoje foi o segundo dia de aulas no curso de Educação Física na Esef, em Jundiaí. Aos 41 anos, após “enrolar” por muito tempo, parti para cursar uma outra faculdade, além de jornalismo. Um sonho antigo que vai se materializando.

Já neste segundo dia, tivemos uma aula dupla (na verdade, são todas duplas, então, foram quatro seguidas) de Antropologia e Sociologia aplicada à Educação Física. Há sempre conversas muito interessantes;

Voltando ao tema, hoje discutimos como a cultura influencia no desenvolvimento das pessoas. Desde que o mundo é mundo. Nesse caso, tratando do esporte, da corrida de rua, podemos fazer um paralelo com essa questão na etapa de São Paulo da Golden Four Asics, no último domingo.

A prova já está consolidada. Vive o momento de voo por piloto automático. Não significa que pode se acomodar. Assim, não impede de ter algumas novidades interessantes. Como as informações via SMS ou Whattsapp (antes e após a prova) e os aplicativos de fotos funcionando perfeitamente nas redes sociais. Além de agilidade na Expo, o respeito aos horários, hidratação correta, boa dispersão… esse últimos pontos são o mínimo do mínimo, mas foram bem entregues.

Chegamos, então, ao ponto que se refere a nós, corredores, e da influência cultural. O “nós” nesse caso é genérico, Entra no caso de que estamos inseridos no meio e não há como fugir. Mas é um “nós” que eu (e a maioria dos que está lendo esse texto) também não se inclui. Muito pelo contrário.

Gente que se inscreve com nome de um parente ou amigo com mais de 60 anos; que corre com chip de mulher; que corta caminho… o que tem de resultados estranhos, principalmente na “briga” para conseguir um top 100 (no caso masculino) ou top 20 (no feminino)… Gente com diferenças enormes entre os tempos bruto e líquido (enorme é enorme mesmo), sem a passagem do tapete dos 10 km (pode ter falhado, pode, mas…), outros que literalmente cortaram caminho e chegaram com os braços levantados, em uma festa incrível. Comemorando o quê? Qual o sentido disso?

Se você se machuca ou sente um cansaço fora do normal e decide ir até o final, é uma escolha pessoal. Se eu não completo a distância da prova, não pego a medalha. Mas isso é individual. Cada um tem uma forma de pensar e agir. Nem é disso que estou falando, mas de buscar um prêmio (pois é uma premiação a medalha dourada, seja para homens ou mulheres) que não lhe diz respeito. O que é pior. Afeta outra pessoa pois deixa quem merecia de fora!

Fica uma dica para a Asics e a Iguana em 2016 em todo o circuito da Golden Four. Dará mais trabalho, claro. Além dos tapetes ao longo do percurso (e na hora da chegada  do top 100 ou top 20, não dá para conferir isso), somente para a classificação final, seria fundamental voltar ao passado. O controle manual. Gente anotando a cada 3 km os números de quem vai passando e informando via rádio ou outro sistema, para ter um controle mais preciso. Vai acabar tom os golpes totalmente? Não. Porém, será uma forma de inibir.

Além disso, não sei quanto à questão legal (um advogado poderia explicar melhor), mas acredito que depois possa publicar no site os desclassificados, com base nas apurações (as maratonas lá fora fazem isso, caso não tenha as passagens pelos tapetes ao longo do trajeto) e pedir que devolvam as medalhas de top 100 ou top 20. Teria algum impedimento disso?

Se uma parte dos corredores (espero, sinceramente, que continue sendo uma pequena parte, apesar do que tenho ouvido cada vez mais de gente até cobrando para fazer índice para Boston, correndo com dois chips etc) segue agindo assim, podemos dizer que é uma questão de influência cultural que reflete os costumes da sociedade em que vivemos? Fica em aberto a discussão.

Foto: Asics/Blog

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19 Comments on “Uma questão de influência cultural na Golden Four Asics?

  1. Concordo com suas sugestões. Aliás, na prova que participei nesse final de semana (Mizuno Uphill), várias pessoas presenciaram uma atleta (se assim à podemos chamar) que pegou carona no ônibus da organização, e que inclusive seu tempo da segunda metade foi bem inferior ao da primeira metade (sendo a segunda parte muito mais difícil), e a decisão da Organização foi desclassificá-la, e com direito à destacar em vermelho na lista de resultado (http://www.x3mbrasil.com/2015/download/resultados-mizuno-uphill-2015.pdf – 431ª). Todas deveriam fazer isso.

  2. Muito bem colocado! Estava mesmo falando sobre isso com algumas pessoas esses dias. Isso acontece em todas as provas, na G4 talvez mais ainda por causa das medalhas TOP… Em 2013 quando corri em Brasília, teve muuuuito cortador…muuuito homem com número de mulher….Na maratona do Rio, a mesma coisa. Já reclamei várias vezes com a Iguana,Yescom, Latin sports….comentando “olha, tal pessoa não correu, veja a foto, não era uma mulher, era homem, poderiam retirar da classificação?”e outras coisas mais…..NUNCA obtive retorno. Tem os malandros, que querem trapacear mesmo, e aí sou a favor de penalizar de alguma maneira, lista negra, não pode se inscrever mais em provas da organizadora, sei lá! E tem aqueles que ingenuamente pegam números de quem desistiu. E aí dá uma confusão na classificação também, como aconteceu lá no RIO. Pegue as primeiras colocações de categorias….tem homem com número de mulher, gente novinha na categoria 55-59…Isso acho que dava para diminuir se tivesse uma campanha contra passar número pra frente, tipo um um folheto no Kit salientando isso, talvez ajudasse. Mas o fato é que as pessoas concordam com as regras para os outros….quantas vezes converso com alguém sobre isso….e a pessoa depois está na semana seguinte de pipoca ou com número de outro?

  3. Sobre a ASICS e Iguana…uma prova como a Meia da ASICS poderia ou deveria ter as faixas etárias conforme o padrão internacional, de 4 em 4 anos. Atualmente esta de 10 em 10 anos.

  4. Que coisa incrível que o é o ser humano… de uma estupidez enorme… fraudar, roubar,… prá que tanta vaidade… e o pior, se enganar… terrível… lendo os comentários acima, fui olhar a minha categoria na maratona do rio e confrontar com as primeiras colocadas por um site de fotos… e não é que a que pegou em primeiro lugar não tem ciquentinha nem aqui e nem na China… que coisa…

  5. Por isso fica cada vez mais difícil fazerem classificação por faixa etária. Culpa cultural do corredor. Lamentável.

  6. Concordo com tudo, André. Mas ainda vejo muita gente defendendo pipoca e pipocar em provas… estamos anos luz de muitas coisas, pois honestidade está cada dia mais raro. As pessoas cobram o fim da corrupção, mas cortam caminho, inscrevem o pai e correm com esse numero,correm de pipoca e acham bonito. Coloca mais um século pra tudo melhorar…

  7. Eu já fiquei surpreso quando as inscrições se encerraram e a página da Golden Four no facebook virou um leilão “público” de inscrições. Várias pessoas anunciando venda e outras pedindo inscrição, sem se importar com nada, se era número de mulher, idoso etc.
    No pós prova, me chamou atenção o número de mulheres com tempo desproporcional já na primeira página de resultados. Muitas sem o tempo dos 10km. Aí poderiam alegar que o sistema novo de chip no numeral pode ter falhado, mas isso já havia sido implementado em outras etapas, além de no masculino isso ter sido menor.
    Eu mesmo, após ter concluído minha prova, voltei caminhando uns 300 metros para ver meus amigos. Fiquei posicionado próximo a bifurcação que a organização montou para retirar os “pipocas”. Fiquei abismado, em 15 minutos no local, contei mais de 50 pipocas. Alguns bravos, outros ignorantes que peitaram os seguranças e continuaram. E pasme, alguns vinham até mim pedir meu número de peito para poder entrar na arena. Quase arrumei briga.
    Enfim, é a velha e martelada estória. Se a mudança não partir de nós mesmos, nada mudará.
    O certo é certo, mesmo quando ninguém está olhando.

  8. Enquanto isso, fora Dilma.

  9. Logo logo nenhum organizador vai querer se incomodar mais com premiações (seja faixa etária, top 100 e etc). Será apenas elite e o resto “corrida participativa”.
    Pra que ficar se incomodando fazendo conferências sem fim por causa dos desonestos ?
    Eu se fosse organizador de prova faria isso.

  10. Outro dia me inscrevi em uma pequena corrida grátis em uma cidade a 200 km da minha.
    Por algum motivo não pude ir, e olhando a classificação vi que alguém correu com meu chip (e provavelmente o número tb). Não tinha fotos da corrida pra eu verificar.
    Mas custava mudar o nome no sistema antes da prova ? Era uma corrida pequena, grátis, daria tranquilamente pra fazer isso. Mas por preguiça ou sei lá o quê, preferiram correr com meu nome. E nem foi a primeira vez que isso aconteceu.

  11. No mínimo, hilário sobre uma questão que parece beirar a malandragem. Tal dicotomia ajuda no entendimento destes extremos de nossa sociedade e pensamento. Se por um lado ainda ocorrem falhas por uma organização, por outro abrem lacunas que brotam atletas tais. Valorizo muito uma Assessoria que educa de maneira consciente e responsável seus atletas e este deve ser um dever.

    Segue um poema de Bandeira, sobre um livro fundamental do sociólogo Gilberto Freyre :

    “Casa Grande & Senzala
    Grande livro que fala
    Desta nossa leseira
    Brasileira
    Mas com aquele forte cheiro e sabor do Norte
    Com fuxicos danados
    E chamegos safados
    De mulecas fulôs com sinhôs.
    A mania ariana
    Do Oliveira Viana,
    Leva aqui sua lambada
    Bem puxada.
    Se nos brasis abunda,
    Jenipapo na bunda,
    Se somos todos uns Octoruns
    Que importa? É lá desgraça?
    Essa história de raça,
    Raças más, raças boas
    &– Diz o Boas &–
    É coisa que passou

    Com o franciú Gobineau.
    Pois o mal do mestiço,
    Não está nisso
    Está em causas sociais,
    De higiene e outras coisas que tais
    Assim pensa, assim fala
    Casa Grande & Senzala
    Livro que à ciência alia
    A profunda poesia
    Que o passado evoca
    E nos toca
    A alma do brasileiro,
    Que o portuga femeeiro
    Fez e o mau fado quis
    Infeliz!”

  12. André, você comentou dos aplicativos de foto… talvez esta seja uma saída: ao invés de controle manual a cada 3km, camêras identificando os atletas. Bibs com cores diferentes para homens e mulheres também poderia ajudar.

    E o problema é cultural, sim. Redes sociais contribuem um pouco também… status!!!

    Essa da Uphill que o Condratti citou é o fim da picada!!! E ainda posta no FB, agradecendo os amigos e dizendo que deu tudo certo, que a missão foi cumprida… Pelamor, viu…

  13. Acho que é muito pouco apenas um tapete de cronometragem no km 10 para uma prova com premiação com medalha banhada a ouro pros 100 mais rápidos. O número de peito não tinha o nome / categoria do corredor, o que facilitou muito o “repasse” das inscrições.

  14. São os tempos das redes sociais em que o mais importante é mostrar, ao invés de ter ou conseguir. Do ponto de vista da organização, acho que isto é uma falha, pois prejudica o corredor que treinou e merecia melhor colocação, já que tinha premiação pros 100 melhores.

  15. Uma medida simples acabaria com falcatruas nas faixas etárias, basta ter cores diferentes para o geral, uma cor para o feminino, e outra para os veteranos e basta conferir nas filmagens no caso da ASISC. e punição severa para os engraçadinhos.

  16. Excelente seu texto, pra se refletir.
    infelizmente é triste ver que este tipo de coisa acontece nas corridas, aposto que estas mesmas pessoas que trapaceiam nas provas, são aquelas que reclamam da corrupção depois.

  17. Minha opinião, que difere um pouco da dos colegas (mas respeito todos os comentários acima). Quero menos corridas competitivas, e mais parkruns (ver em http://www.parkrun.com/). Parkruns são corridas de 5Km em que ninguém ganha nada: nem medalha, nem prêmio em dinheiro, nem troféu.

    E também não custa nada! É de graça para participar!

    Claro que precisamos, eventualmente, ter boas corridas pagas de 10Km, meias, maratonas, ultras, etc. Mas estas só valem a pena se:
    (1) forem aferidas (corrida “tipo 5K” tem muita aqui em Curitiba e não vale a pena)
    (2) controlarem a largada
    (3) ao menos tentarem controlar os “malandros” (que existem no mundo todo – vamos deixar de vira-latismo).

    ———————–

    Adolfo, o que mais tem no Brasil são corridas participativas, sem premiação especial. Corrida competitiva, é exceção da exceção, até pelo público hoje em dia que está em busca mais de qualidade de vida, saúde, diversão, confraternização…
    Quanto às provas de 5 km aferidas, vai cair, também, na questão do público, pois o custo para aferir 5 km e 10 km, é quase o mesmo. E uma prova só de 5 km, vai se sustentar? Fica a pergunta para o público e organizadores…

    Abraço
    André

  18. Pura falta de educação e de respeito.

    Deveriam aguardar um pouco pra anunciarem os top 100 ou 20 para entao premiarem os mesmos sendo liberados a retirada da medalha só após a conferencia do tempo, numero de peito, e se está tudo ok (se realmente é idoso, se é mulher, etc).
    Corredor que é corredor, não se importará tanto em aguardar alguns minutos (enquanto descansam) pra retirar a merecida medalha.

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