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Blog do Corredor Especial Redação 7 de maio de 2012 (0) (103)

Uma metrópole que respira corrida

Não importa o horário ou o dia da semana. Em qualquer lugar que você esteja em Porto Alegre verá algum praticante de corrida de rua suando a camisa. A modalidade é adorada por expressiva parcela dos 1,5 milhão de moradores da metrópole, que oferta mais de 5 mil ruas e avenidas, a maioria planas, duas dezenas de parques e um pulmão verde composto por dois milhões de árvores.

Entre os "loucos por corrida", boa parte integra o cadastro do Clube dos Corredores de Porto Alegre (Corpa), entidade que há três décadas lançou as sementes para a febre vivida hoje pelo esporte na cidade. E para entender um pouco desse ótimo momento da corrida na capital gaúcha, a Contra-Relógio ouviu entidades e algumas das principais assessorias esportivas locais.

Presidente do Corpa, Paulo Silva diz que há cinco anos a média era de 500 participantes por prova, mas que hoje são 1.500 a 3 mil pessoas. Ele observa outro aspecto: "Para conseguir um final de semana livre está bem complicado, pois às vezes têm mais de uma prova no mesmo dia, o que nunca havia acontecido antes, e todas com bom número de inscritos", diz. 

O gosto dos portoalegrenses pelas corridas de rua teve como resultado natural o aumento expressivo das assessorias esportivas especializadas. "Há cinco anos não tinha nem dez, agora são mais de 100", exemplifica Paulo, salientando que à frente das equipes estão profissionais de educação física e ex-atletas, o que garante credibilidade e visibilidade ao esporte.

Carlos Henrique Balduino, que preside a União dos Corredores de Rua do Rio Grande do Sul (Unicorr), opina que o crescimento está "diretamente ligado ao baixo custo do esporte, ao estímulo dos praticantes e ao crescimento das academias e assessorias, multiplicadoras dos grupos de corrida". Criada há três anos para fomentar e divulgar o calendário de corridas no território gaúcho, a Unicorr agrega 1.200 atletas em seu cadastro.

 

PROVAS AOS MONTÕES. Se cresceram as assessorias, impulso semelhante também tiveram as provas. Números da Unicorr apontam uma oferta excelente. Somente em 2011 a entidade teve conhecimento de 468 corridas no Rio Grande do Sul, especialmente em PoA, 30% a mais no comparativo com o ano anterior. "Prestamos consultoria em 30 dessas corridas, na média de duas por mês", contabiliza Balduino, assinalando que somente em janeiro passado 18 provas foram realizadas. Sob a batuta do Corpa, Paulo Silva revela que estão pelo menos 28 corridas do calendário deste ano.

Treinador da PerCorrer, uma das mais tradicionais assessorias esportivas locais, Leonardo Ribas lembra que em 2005 a equipe contabilizava três alunos. "Hoje são 180 e participando em média de 40 provas/ano, com grupo de 50 atletas", enumera. Enfatiza ter vivenciado os dois "booms" do esporte na cidade. "O primeiro no início dos anos 1980, com grande número de homens jovens buscando resultados. A partir de 2000 aconteceu o segundo ciclo, com mais mulheres, homens de meia idade e a procura das corridas sob a ótica da qualidade de vida", frisa Ribas, que elogia a melhora na organização dos eventos nos últimos 10 anos.

Participando de provas desde os anos 1980, onde a média não ultrapassava 200 corredores por evento, Luis Nascimento, da Equipe Run4Life, recorda que a organização era precária e não existiam assessorias. Ao montar a Run4Life o treinador surpreendeu-se positivamente. "Houve um salto de qualidade em todos os quesitos, o que me faz acreditar que as pessoas estejam buscando saúde física e mental e um convívio social mais prazeroso", assinala Nascimento, exaltando para o ambiente agregador das equipes e das provas.

Fundador da Equipe Winners, o ex-corredor de elite Átila De Conti diz que há 6 anos a corrida caiu nas graças dos esportistas locais. "Têm a ver com lazer, diversão, socialização e desafio pessoal no fortalecimento da autoestima", ressalta. E rememora que em 2009 a Winners começou com dois atletas, um ano depois chegava aos 50 e hoje está com mais de 90 integrantes.

Jéfferson Nobre, da Potencial de Ação, comenta que os participantes de corrida têm exigido cada vez mais das empresas organizadoras em itens como segurança e bem estar, além de estrutura de apoio também para familiares, e tem sido correspondidos, o que é muito bom."

A expectativa animadora e crescente do esporte na cidade motiva as assessorias, atletas e dirigentes para outro foco, o da inclusão social. "Esse crescimento vai atrair mais patrocinadores e investidores e propiciar reconhecimento, fomentando ações junto à comunidade mais carente e de pouco acesso ao esporte", pondera Balduino. Exemplo dessas iniciativas é o Banco do Tênis, que instiga corredores a doarem calçados usados, para corredores carentes.

 

MULHERES NA LINHA DE FRENTE. Antes uma modalidade de maciça presença masculina, as corridas de rua no Rio Grande do Sul atraem cada vez mais as gaúchas. Nos registros da Unicorr, 42% dos praticantes são mulheres com idade entre 25 e 60 anos. Desse total, 10% da terceira idade e fazendo de caminhadas à marcha atlética. "Temos constatado também que existe um número elevado de novos adeptos entre crianças dos 6 aos 13 anos, mas na maioria os praticantes tem de 35 a 55 anos", ilustra Balduino.

O crescimento feminino na corrida faz Leonardo Ribas arriscar uma projeção. "Penso que haverá cada vez mais a segmentação de públicos, um momento em que as assessorias trabalharão somente com mulheres, pessoas da terceira idade, alto rendimento e com iniciação", aposta ele, ilustrando que dos 180 atletas da PerCorrer, 47% são mulheres. Já na Run4Life, 35 dos 50 integrantes da equipe são do sexo feminino;

A mesma realidade é vivida na Winners. "Prevemos participar este ano de 20 provas, com média de 50 atletas por corrida, pouco mais da metade mulheres", exemplifica Átila. Acrescenta que no comparativo das três últimas temporadas o contingente feminino da equipe está em alta e hoje representa 64%. Caçula entre as assessorias e equipes da capital gaúcha, com pouco mais de um ano de atuação, a Potencial de Ação calcula que 60% dos seus assessorados são mulheres. "A faixa etária é dos 25 aos 40 anos e a média mensal no crescimento desse público é de duas a quatro alunas", conta o professor Jéfferson Nobre.

 

ESTRUTURA E ECLETISMO. Referência há sete anos em corridas de rua em Porto Alegre, a PerCorrer está ligada à Sogipa, um dos clubes de ponta no esporte amador brasileiro. Os treinadores são ex-atletas como Luciane Dambacher, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg e pentacampeã brasileira e tricampeã sul-americana na prova do salto em altura.

Parceiro de Luciane na assessoria e treinador de atletismo da Sogipa desde 1990, Leonardo Ribas enfatiza que a PerCorrer surgiu da percepção do crescimento do esporte na cidade e de que muitos novos corredores estavam sem orientação adequada. "Resolvemos colocar profissionais com conhecimento de causa trabalhando junto às pessoas que curtem a corrida", destaca Ribas, que também integra o quadro de treinadores da Seleção Brasileira de Atletismo.

E ecletismo é o que se percebe no grupo de corredores da PerCorrer. Na faixa etária dos 16 aos 70 anos, reúne atletas como Alessandra Cordeiro da Rosa, 16, e o industriário José Carlos Schultz, 64. "Comecei a correr porque era gordinha", conta Alessandra, recentemente convocada para a Seleção Brasileira de Cross-Country. Com um cuidado especial nos alongamentos, Schultz comenta que treinava sozinho antes da equipe existir. "Mas com o grupo veio um estímulo ainda maior", elogia ele, que dá suas corridas diárias, de 1h30, na pista do complexo da Sogipa ou nas ruas portoalegrenses. Tanta disciplina e motivação gera recompensas a Schultz, como a recente vitória na 1ª Rústica de Verão de Nova Petrópolis, na categoria 60-64 anos, em 4 de março.

Já Luis Henrique Nascimento criou a Run4Life em 2006. A assessoria e a equipe surgiram da vontade de seus alunos em participar das provas do calendário gaúcho. "Em nossa primeira prova éramos 8 atletas. Hoje, são 50 e nos mais diversos níveis", ilustra ele, que agregou ao trabalho de treinamento e preparação da equipe profissionais de nutrição, fisioterapia e massoterapia. Como quartel-general, a sede da equipe é a Mapi Academia, em Canoas, cidade ao lado de Porto Alegre.

Formado em Educação Física, Nascimento frisa que a equipe não tem corredores profissionais, mas que o nível de crescimento dos atletas é permanente. "A grande maioria nunca tinha feito um trabalho direcionado para melhorar resultados; corria por prazer", conta. A evolução nos treinos semanais teve como saldo 32 pódios em 2010. Também o atleta mais velho da equipe, com 48 anos, Nascimento diz que coletivamente o grupo definiu pela participação em apenas duas provas por mês. "Caso contrário, gera sobrecarga e ficamos mais suscetíveis às lesões", argumenta. 

 

QUALIDADE DE VIDA E PERFORMANCE. Criada oficialmente em 2009 pelo ex-campeão gaúcho de atletismo Átila De Conti, a equipe Winners nasceu para formar atletas competitivos, porém houve uma mudança no perfil. "Se o foco antes era performance, hoje tratamos de qualidade de vida", justifica Átila, assinalando que na abertura do Circuito Adidas, em 5 de março último, a Winners colocou 123 participantes na prova, o maior contingente em cinco anos do circuito em Porto Alegre. Nesse bando, novatos como Lucas Viero De Conti, 15, irmão de Átila. "Treino em média uma hora de três a cinco vezes por semana", conta Lucas, que começou aos 13 anos e tem 18:56 nos 5 km como seu melhor tempo até agora.

Na experiência dos seus 71 anos, Sérgio Bittencourt é o contraponto a Lucas em idade, mas não em motivação. Há pouco mais de três meses aderiu à corrida e está feliz com a escolha. "Sempre pratiquei esportes, jogo tênis e optei pela corrida para melhorar a aeróbica", fala Bittencourt, 1,75 de altura e bem regrados 69 quilos. Em 5 de março último ele encarou sua primeira prova de 5 km, na companhia da filha Lisiane, 42. "Me agrada a relação com o grupo, isso é enriquecedor", pondera Bittencourt. E é essa motivação percebida nos assessorados que alegra o professor Átila. "O bem-estar, a superação, o desafio da corrida e os objetivos pessoais de cada aluno precisam ser a ênfase do trabalho das assessorias", defende ele.

 

DA AMIZADE À EQUIPE. O gosto pela corrida fez um grupo de amigos e professores de Educação Física criar em 2010 a Potencial de Ação. A ideia inicial era apenas participar das provas, mas logo os horizontes se ampliaram com a chegada dos primeiros alunos. "Com o tempo percebemos que era preciso oferecer serviços especiais e atender as necessidades dos alunos que passaram a desejar uma orientação personalizada e profissional", conta Jéfferson Nobre, um dos sócios da Potencial.

Praticando o esporte há seis meses, Bruno Romero, 23, é o mais novo integrante da equipe. Como resultado, "emagrecimento, disposição, postura, fôlego e  agilidade do raciocínio", além de melhor desempenho nas tarefas e atividades diárias, e na solução de problemas. Aos 59 anos, Rejane Santos é a mais experiente da turma e corre há sete anos. "A sensação é de ter a vida reinventada, com novas perspectivas, mais disposição, bom humor e melhora do equilíbrio físico e mental, além da autoestima elevada", exalta ela.  

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