Blog do Corredor Notícias André Savazoni 1 de agosto de 2013 (17) (162)

Uma maratona tem histórias completamente opostas de outras. Então, por que nos cobramos?

Fazia uma tempo que queria escrever sobre esse assunto especificamente. No sábado, na Expo da Golden Four São Paulo, bati um longo papo com o Geraldo Oliveira Junior, corredor das antigas, experiente, com muita vivência deste mundo das corridas. Ele me perguntou qual a minha opinião sobre a comparação de tempo entre maratonas.

Com a questão, já estava embutido o tema de que cada maratona tem uma história e, ao mesmo tempo, considero complicado comparar desempenhos em provas com características muito diferentes.

Por exemplo, citando as brasileiras, como comprar Curitiba e Foz do Iguaçu com Porto Alegre? No exterior, Boston e Nova York com Berlim? Isso pelas diferenças de altimetria. Nem estou citando a temperatura no dia dos 42 km, pois isso, é uma verdadeira loteria. Foge de qualquer controle.

Nos cobramos, gostamos de baixar tempos, principalmente os apaixonados pelas maratonas. A Iaaf, nas corridas de rua, procura não usar a palavra recorde (que é comum na mídia e entre os corredores). Focam em “melhores marcas”. No site da CBAt, também adotam a palavra “marca”. Exatamente por isso. E podemos levar isso para os 10 km (menos, mas também) e para a meia-maratona. É diferente de correr em uma pista de atletismo: 10.000 m serão sempre 10.000 m.

Minha resposta para o Geraldo foi exatamente a seguinte: “A melhor forma de avaliarmos nossa evolução, é na mesma maratona, com o mesmo percurso e clima parecidos. Por exemplo, se fez 3h40 em Porto Alegre no ano passado e, neste ano, voltou à capital gaúcha e terminou em 3h29, melhorou e bastante. Baixou 11 minutos.” E por aí vai. Podemos, daí, comparar Berlim com Disney ou Buenos Aires? Aí sim, provas “semelhantes”. Não idênticas, mas bem parecidas.

Essa análise, para mim, vale inclusive para a elite. Tanto que (com o absurdo de Boston em 2011, um ponto completamente fora da curva) dificilmente teremos um recorde de percurso melhor em Nova York do que em Berlim. Claro que isso não é uma ciência 100% exata, porém, voltando a nós, simples e mortais amadores, a comparação entre o desempenho nas mesmas maratonas tende a ser mais justa. Ou não?

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17 Comments on “Uma maratona tem histórias completamente opostas de outras. Então, por que nos cobramos?

  1. O quarto parágrafo do seu texto resume o que eu penso a respeito. De resto, escolher provas planas ou com subidas moderadas (eu prefiro ter alguma variação do que 100% planas), ou mesmo o máximo downhill permitido, é estratégia. Usar coelho devidamente de acordo com as regras, idem (por exemplo, pedir pra alguem acompanhar de bicicleta, carregando gel, agasalho, agua, etc, e entregando na hora que voce quer, isso eu considero atitude anti-desportiva, por levar vantagem aos outros atletas que não possuem esta mordomia.). Temperatura, vento contra, é questão sorte, mas também faz parte. “Não consegui porque estava quente” não é nada mais que uma desculpa esfarrapada, mesmo porque jamais alguem vai reclamar de ter feito um tempo melhor que o esperado, porque estava frio. Aliás, desculpa é o que não falta no meio. Tem gente que corre carregando uma melancia (e até aqui, não está fazendo nada de mais) só pra ficar falando “eu faço sub-4h carregando uma melancia”, ao invés de assumir o desafio de fazer sub-3h30, por exemplo.

  2. Porque, na teoria, André, 42km são 42km. Só que, claro, já nos demos conta que 42 em Foz e Curitiba (ainda mais em novembro) são bem diferentes do que em POA. E até mesmno na mesma prova a temperatura ajuda bastante ou não. Não acho, Hideaki, que seja uma desculpa o calor. Calor influencia negativamente, isso é comprovado cientificamente, podendo, inclusive, causar sequelas. Também não acho que alguém te acompanhar de bicicleta seja atitude antidesportiva, por ser “vantagem” em relação aos demais. Senão um atleta de elite que recebe seus suplementos em pontos estratégicos, com ajuda da organização, também estaria em vantagem em relação aos demais.

  3. Faz todo sentido. A vitória de Wanjiru nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, por exemplo, é considerada por alguns como a melhor performance em maratonas da história, mesmo com um tempo de 2:06:32, já que o calor, a umidade e a poluição estavam muito acima da média das maratonas tradicionais.

  4. E mesmo as mesmas maratonas podem ser completamente diferentes. Tem tanta coisa que influencia que acho que é por isso que acabamos comparando provas distintas.

    Por exemplo, fiz a Meia de Balneario Camboriu, com o morro da Rainha, em 1h44. Ja a Golden Four SP em 1h46′. Na teoria, nenhum sentido fazer a G4 pior que a de BC com duas subidonas, mas tem dia que é o dia.

    Tento ver a prova pelo percurso e altimetria. E traço um objetivo, mas sempre tentando fazer o melhor.

  5. Olá André,

    Este ano fui para minha segunda maratona, a Maratona do Rio, queria fechar em 3h30m, treinei bem para isso, até a Niemeyer deu, chegando no Leblon eu quebrei feio e me arrastei, fechando em 3h47m. Revoltado estou treinando novamente, agora para novembro na Maratona de Curitiba, vou tentar novamente os 3h30m mesmo sabendo que é outra maratona e outra dificuldade.

    Realmente são provas diferentes, mas é difícil separar uma Maratona de outra, sempre pensamos apenas no termo “maratona” e em nossa melhor marca.

  6. Das 44 maratonas que completei conheci vários tipos de percurso, planas ou com muitas subidas e descidas, com ou sem asfalto, com muito frio ou com muito calor, curiosamente de todas a maratonas que costumo repetir a única que estou em constante evolução é a dificílima K42 de Bombinhas, já fiz 3 vezes e a cada ano faço um tempo menor, creio que quanto mais difícil for a maratona mais temos chances de evoluir voltando nelas. Um dia perguntei para o grande ultramaratonista Valmir Nunes qual prova de longa distância era mais difícil a Comrades de 89km ou a Spartathlon de 246 km, ele deu uma inteligente resposta que pode ser aproveitada para todas as corridas, foi a seguinte: “A prova mais difícil é aquela que você não esta bem no dia, quando você esta bem não vai ter subida ou sol que vai te atrapalhar”. Um grande abraço!!!

  7. Oi André,
    Tenho 2:58:10 em Blumenau (plano) e 2:58:20 em Nova York (subidas) em um espaço de 8 meses entre elas.
    Sofri mais em Blumenau do que em NY.
    PS.: Grande Geraldo…
    Abraço,
    Harry

    ——————–

    Então, Harry, aí, complementa o que falei. Evoluiu em 8 meses. E, se tivesse feito Blumenau nesse período, teria feito ainda mais baixo…

    Abraço
    André

  8. Respondendo ao JC Baldi.
    Permita-me explicar, pois realmente o argumento ficou desconexo. É claro que a temperatura influencia no desempenho. Mas no fundo, mantenho a idéia inicial de que, se você escolheu uma prova quente ou que há possibilidade de esquentar, que arque com as consequências dessa escolha. Não é desculpa nesse sentido (e como estou digitando do celular neste momento, não vou entrar nos aspectos socioeconômicos). Diagnosticar suas qualidades e ponto-fracos, deveria ser obrigação de cada atleta e/ou treinador que busca alta performance, ou melhorar seus resultados. E a partir desse conhecimento, escolher provas em condições ideais, ou com grandes probabilidades de condições favoráveis. Sobre a bicicleta, ok. Existem regulamentos que permitem e outros que claramente proíbem. Nestes últimos, deveriam desclassificar sem dó. Já sobre a questão elite x geral, é comum o regulamento ser diferente. Na meia de Lisboa, até o percurso já foi diferenciado e valendo pra AIMS. Nesses casos, sempre vou pelo regulamento.

  9. Olás
    E sobre quente e frio tenho os tempos acima relatado e minha terceira sub 3h em 2:59:30 com 30C na caixola.
    Abraço
    Harry

  10. O Hideaki tocou num ponto importante: O “pace” para atletas amadores. Vejo muito nas maratonas gente correndo acompanhado por alguém de bicicleta carregando um monte de coisa, o que é proibido pelas regras, mas os organizadores fazem vista grossa. É totalmente anti-desportivo e injusto.

  11. Complementando, para o João Norberto: Se vc fez a maratona do Rio em 3:47 e quer fazer a de Curitiba em 3:30, eu, que já corri as duas, só tenho uma coisa a dizer: Treine muito, mas muito mesmo.

  12. Na verdade, acredito profundamente que uma das formas de definir maratona (ou quase tudo na vida) é como uma “briga com as variáveis”. Altimetria, temperatura, cansaço da viagem, tempo de espera da largada, as refeições dos dias anteriores, presença de rivais ou pacers, qualidade da pista, etc, etc, etc. Aliás, já coloquei isso quando discutimos aqui sobre a Matemática x Maratona. Eu acredito que no dia que todas as variáveis de um sujeito em relação a certa maratona forem decodificadas, será possível prever exatamente o tempo de conclusão dele. Se esse dia vai chegar tão cedo, daí, tenho muitas dúvidas. No caso do xadrez oriental (Shogui), que possui mais variáveis que o ocidental, mas infinitamente menos do que uma maratona, já há indicios de que este dia se aproxima, pois os tres melhores programas do mundo venceram neste ano, os tres melhores kishi (equivalente a enxadrista), sendo que até então, a “humanidade” estava invicta. Dito isto, creio que as analises do Pinguim , quando fundamentadas apenas na quantidade de maratonas por ele percorridas, perde boa parte da credibilidade, uma vez que ele introduz, propositalmente, uma variável consideravel, que poucas pessoas enfrentarão, que no caso é correr com uma maquina fotográfica profissional. No ponto de vista comercial, esta iniciativa é muito interessante, desde que devidamente inscrito e/ou autorizado, e preferencialmente, credenciado para tal. Mas o problema nem é tanto o peso carregado em si, mas nas paradas para fotografar. Existe um pressuposto de que o ideal de uma prova de corrida é corre-la de ponta a ponta, sem andar (embora eu discorde de levar este pressuposto ao nível de ditadura). Pois a cada parada, o seu corpo vai se recuperando, por pouco que seja, e no final, voce não vai sentir totalmente aquela satisfação de ter percorrido de forma contínua, suportanto a vontade de caminhar. Dado este pressuposto, parar propositalmente, vai totalmente contra os princípios de uma análise que pretende aproximar o quanto mais, de algo universal, que vale para todos. Eu mesmo não acho justo analisar provas como sendo difícies, quando eu não estou minimamente treinado.

  13. Como o post anterior ficou muito longo, vai um post consecutivo com a devida autorização do blogueiro (André), resumindo os meus tres posts anteriores, inclusive para evitar um mal entendido de crítica individual. Apesar de ter usado um exemplo específico, a reflexão espera ser geral.

    Resumo: uma maratona pode ser vista como um conjunto de incontáveis variáveis, e uma das formas de melhorar seu desempenho, é ir descobrindo como o seu corpo reage a cada uma delas (ou à relação entre uma ou mais delas) e traçar estratégias específicas (mesmo porque “o que pode funcionar pra uma pessoa pode não funcionar pra outra, ou mesmo prejudicar”). Quem pretende fazer uma análise universal de certa prova, também deve ter noção do máximo possível das variáveis. Obviamente qualquer análise vai ter as medidas do autor, não sendo algo universal. Mas as variáveis claramente fora do padrão, não devem ser consideradas para uma análise, a não ser, talvez, em forma de curiosidade. Entre muitos outros exemplos, não dou credibilidade nenhuma para análises que falam mais dos amigos encontrados no dia, do que da prova em si. (como relato, está valendo, claro).

  14. Olá Carlos Hideaki! Eu paro e ando nas maratonas para trabalhar mas eu pelo menos completo elas, além do mais eu sustento minha família com a fotografia, acho estranho você criticar quem anda ou para numa maratona sendo que várias vezes vi você fazendo isso, e sem estar fotografando ou carregando uma melancia, risos!!!

  15. Caro Pinguim, recomendo a releitura dos meus tópicos com a cabeça mais esfriada, pois acredito que tanto eu não critiquei a sua atuação profissional, como eu fiz uma crítica à minha própria prática. Na época que eu ainda conseguia completar uma maratona correndo de ponta a ponta, eu ainda escrevia mesmo nas provas que eu acabava andando. Mas caso não tenha percebido, já faz algum tempo que eu não assino relato de provas, embora continue dando pitacos em assuntos mais genericos. Como escrevi acima, eu valorizo este pressuposto de se correr de ponta a ponta, mas não o elevo ao nível de ditadura.

  16. Bom dia Hideaki! Agradeço sua explicação, creio que a maioria dos maratonistas e principalmente ultramaratonistas amadores ou profissionais já passaram pela experiência de parar ou andar e voltar a correr, seja voluntariamente para fazer suas necessidades fisiológicas, amarrar o cadarço do tênis, tomar um copo de isotônico ou se alimentar com mais calma ou involuntariamente como num dos casos esportivos mais famosos de todos os tempos que aconteceu na Maratona Olímpica de Atenas de 2004 com o maratonista Vanderlei Cordeiro que foi segurado pelo padre irlandês e depois com muito esforço e com a ajuda de um espectador voltou a correr e ainda conseguiu ganhar a medalha de bronze. Inclusive para quem gosta de correr longas distâncias em áreas urbanas é fundamental acostumar a parar e voltar a correr, o motivo são os vários cruzamentos, no meu caso particular aprendi a aproveitar a grande resistência adquirida para grandes distâncias para me transportar usando minhas próprias pernas para vários bairros da cidade, estou completamente adaptado a correr “em ritmo confortável” com um mochila nas costas “levando no máximo 3 quilos”, o suficiente para levar uma calça leve e uma jaqueta leve de tactel, as fotos que tenho que vender ou entregar e as vezes minha câmera fotográfica, eu decidi intitular isso como “treino-transporte”, até fiz um artigo sobre esse tema no Jornal Atividade Física, foi meu primeiro artigo sobre atividade física e meio ambiente, e foi publicado em dezembro de 2001 (nº 44, página 5 – Alternativa de Transporte). Abraços!!!

  17. Fazer essas comparações é da natureza humana, embora nem sempre faça sentido. Fazemos isso para nos arrumarmos argumentos, e quase sempre não somos imparciais. Cada um é diferente, e cada corrida também. Ainda bem! Abraços!

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