Ele tem uma história parecida com a da maioria dos corredores. Mas que, em 12 meses, se transformou radicalmente. Entrou no esporte para perder peso, recebendo dicas de amigos em Bragança Paulista. Parou por dois anos, engordou e retomou. Mostrou potencial. Foi o melhor amador na Golden Four Asics de 2012, chegou a vencer algumas provas regionais, além de etapas da Track&Field Run Series. Porém, estagnou na evolução.
Nessa época, chamou a atenção do técnico Clodoaldo Lopes do Carmo, que trabalha em um dos núcleos do Clube Pinheiros no interior paulista, com treinamentos em Bragança e na pista de atletismo do Bolão, em Jundiaí. Então, a vida de Juninho deu uma reviravolta. Evoluiu, focou na maratona, foi o melhor brasileiro em Buenos Aires e Nova York, em 2013. Agora, busca 2h12/2h13 e planeja o índice para os 42 km nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, em 2015.
Juninho trabalhava como paisagista durante o dia e, de noite, ajudava os pais, que têm um restaurante em Bragança. Uma rotina puxada. "A corrida entrou na minha vida aos 24 anos, da mesma forma que para muita gente, ou seja, para emagrecer. Corri dos 24 aos 26. Parei então por três anos devido ao trabalho, e meu filho nasceu. Depois, investi em um negócio, montei uma academia com minha esposa, que ela gerencia até hoje. Com pouco mais de 28 anos, voltei a correr. Nesse período, fazia provas mais amadoras, tinha o auxílio de amigos na preparação."
CONVITE PARA NOVA YORK. Então, o excelente desempenho na Golden Four Asics foi o momento de mudança. Na vida e na corrida. Com o tempo de 1:08:30, obtido nos 21 km de Brasília em 2012, venceu na categoria amadora e ganhou, como prêmio, a viagem/inscrição para a Maratona de Nova York de 2013. "Estava estagnado nos resultados, seja em meias ou 10 km. Conversei com o técnico Clodoaldo aqui em Bragança e disse: ‘Não sei como será. Mas quero treinar bem para Nova York'.", lembra Juninho.
Assim, começou a parceria, mas, nos primeiros meses, uma fascite plantar atrapalhou o treinamento entre março/julho do ano passado. "No começo foi realmente muito difícil me adaptar ao trabalho com o Clodaldo. Nunca tinha feito um planejamento. Não consigo dar pancada. Por exemplo: faço uma maratona para 3:07/3:10 de ritmo por quilômetro, porém, se for fazer 3:03 numa prova curta, quebro. Assim, o foco são os 42 km, mas claro que 10 km e 21 km entram na preparação."
Hoje com 30 anos, Juninho perdeu etapas importantes da preparação. O técnico Clodoaldo sabe disso. Por isso, o trabalho é diferenciado. Há o que melhorar, mas certas etapas puladas não há como corrigir. "Nossa parceria é relativamente nova, nasceu em fevereiro/março de 2013. Assim, 2014 será um ano importante, pois identificamos algumas variáveis que acreditamos serem muito importantes para a continuidade de sua evolução", explica o treinador.
"Começamos a fazer um trabalho bem diferente do ano passado e com muitas coisas que ele nunca tinha realizado e vem experimentando pela primeira vez. Ainda estamos avaliando se realmente essas modificações vão gerar os resultados esperados e de que forma isso poderá se traduzir em melhora de desempenho", destaca Clodoaldo. Entre esses "testes", estão o aumento ou redução da quilometragem semanal, por exemplo. Atualmente, Juninho explica que a velocidade recebe um cuidado especial.
PLANOS OUSADOS. Porém, independentemente dessas análises individuais, os planos são ousados. "Temos como principal objetivo do ano uma maratona importante no segundo semestre, já pensando em obter uma marca que o credencie a participar dos Jogos Pan-Americanos de 2015. Pensamos em repetir Buenos Aires ou quem sabe algo na Europa (Frankfurt e Amsterdã seriam as opções em discussão). Isso vai depender do que conseguiremos no primeiro semestre", adianta Clodoaldo. "Deveremos fazer a Maratona de Santiagono dia 6 de abril e, quem sabe, Porto Alegre. Isso tudo vai depender de como ele vai terminar a prova no Chile e de exames que realizaremos após a maratona para identificar possíveis problemas e monitorar a recuperação dele."
E os resultados tão rápidos surpreenderam até o próprio Juninho. Pois, após seis meses, destacou-se em duas maratonas importantes. Primeiro, foi o quarto colocado em Buenos Aires, no mês de outubro, com 2:16:29, atrás somente dos três quenianos que dominaram o pódio. Menos de um mês depois, Nova York, com o percurso duro, boas subidas e descidas, sem contar os seis quilômetros finais na região do Central Park e uma elite de respeito por se tratar de uma Major. Terminou em 18º lugar, com o tempo de 2:22:34 em uma prova marcada pelo frio e vento contra. Essas marcas fizeram tanto Juninho quanto Clodoaldo pensarem longe.
VAGA NO PAN. Clodoaldo explica que, a médio prazo, a programação inclui uma maratona importante no início de 2015 para ratificar a vaga no Pan. "Acredito também que ele terá reais condições de disputar em igualdade com outros maratonistas brasileiros uma vaga na equipe brasileira na Olimpíada do Rio em 2016. enso que ele tenha boas condições de correr 2h12/2h13 já para o final deste ano/início do próximo", afirma o treinador.
Mas, como já citou acima, o trabalho com Juninho é diferenciado do feito com outros maratonistas. "Pelo fato de ser amador até bem pouco tempo, ele deixou de realizar variáveis importantes do treinamento, sem contar que não existia um trabalho sistematizado e controlado em relação à frequência, volume, intensidade e densidade do treinamento."
Todos esses fatores ligados ao planejamento de treinamento estão na pauta de correções. "Por exemplo: ele tem um biótipo com muita massa muscular. A mecânica de corrida dele pode ser bastante melhorada e também a economia de movimento. Assim, temos investido bastante na coordenação. Desenvolvemos também um trabalho importante com a nutricionista Alessandra Paiosin. Entretanto, a melhora desses parâmetros não garante resultados, já que tudo isso deve ser acompanhado e avaliado ao longo desse processo, na tentativa de identificar qual a contribuição de cada variável e como desenvolver e potencializá-las da maneira mais adequada."
Assim, a melhor definição do atual momento de Juninho é que ele está "treinando para treinar". "Pelo pouco trabalho sistematizado e pela rotina e frequência que fazia, não é viável trabalhar como um atleta que já treina há cinco ou seis anos. O que os jovens corredores em sua maioria fazem nos inícios de carreira, é tentar melhorar a coordenação e desenvolver uma mecânica de corrida mais eficiente, além, é claro, do desenvolvimento pleno das várias capacidades físicas. Infelizmente, o Juninho só está fazendo isso agora e seguramente poderíamos tentar resultados mais expressivos, caso isso já tivesse sido realizado em outra fase de sua vida", reforça Clodoaldo.
PASSO A PASSO. Assim, como na corrida, a evolução e o planejamento de Juninho têm sido elaborados passo a passo. "Então, dentro disso, como expliquei anteriormente, para nós Santiago será uma incógnita, pois fizemos tantas mudanças no trabalho que não sabemos exatamente o que esperar. Será o ponto de partida para determinarmos a estratégia a ser adotada na maratona-alvo do segundo semestre", completa o treinador.
Se tudo der certo como o planejado, treinamentos em altitude, primeiro em Campos do Jordão e, depois de julho, em Paipa, estão na intenção. Outra novidade na vida de Juninho. "Nunca fiz essa preparação na altitude. Vamos ver como será", reforça. Mas, antes, tudo passa pelos 42 km no belo percurso chileno, com a Cordilheira dos Andes como cartão-postal no campo de visão.