20 de setembro de 2024

Contato

Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (89)

Três objetivos na Maratona de Paris

Fraternité. Chegamos em Paris e partimos quase que diretamente para a Marathon Expo. Antes, um café no Starbucks. Starbucks? Os franceses não repudiavam a cultura norte-americana, sobretudo se o american way está no que é de comer ou beber? Paris, quem diria, não resistiu ao café americano. E olha que, sabidamente, os norte-americanos, ao contrário dos europeus, nunca foram referência quando o assunto é o café que bebem. É a globalização, diria um dos personagens das crônicas de Nelson Rodrigues: o idiota da objetividade. Pois saiba o idiota da objetividade que na Marathon Expo encontrei a honra francesa lavada. Não vi um Gatorade sequer. Gel das marcas Gu e Accel Gel, ambas norte-americanas, tampouco. Endurox, nem pensar.  

Dizem que os franceses, sobretudo os parisienses, tratam mal estrangeiros. Bobagem. A fraternidade francesa pode ser facilmente encontrada em qualquer restaurante italiano de Paris. Foi o que encontramos no simpático Finzi, onde jantamos na véspera da maratona. Serviço amigável e atencioso. Só não nos deixaram pagar com reais. 

Liberté. A Maratona de Paris é, provavelmente, a que tem o percurso mais bonito. Largar no Champs Elysées, passar pela Place de la Concorde e Museu do Louvre, pelo Château de Vincennes, correr às margens do Sena com a torre Eiffel no campo de visão, contornar o Bois de Boulogne para chegar na Av. Foch com o Arco do Triunfo a reverenciar os que, justa e honrosamente, triunfam.

Largamos às 8h45. Fazia 4 graus. Antes frio do que quente (em 2007, a temperatura atingiu indesejáveis 25 graus). A partir do km 10 um número exagerado de corredores da Maratona de Paris, penso que sobretudo de franceses, passa a exercer o mais amplo direito à liberdade.  A quantidade de homens, e de mulheres também, urinando livremente em qualquer moita, árvore, poste ou entre carros estacionados, impressiona. Urina-se ao ar livre não por falta de banheiros químicos, antes por opção.

Em 2008, pela primeira vez, os prenomes dos corredores foram grafados juntamento com os números que tradicionalmente identificam os maratonistas inscritos. Quero crer que a implementação de tal medida tenha contribuído decisivamente para a melhora do desempenho de muitos corredores. Toda vez que o nome de um corredor é gritado, este ganha pelo menos trinta segundos. Se o grito de incentivo é dado por uma criança, e são muitas a assistir a prova, o ganho pode superar quarenta e cinco segundos.

Gritaram meu nome três vezes, das seguintes formas: "Allez, Mauricio"; "Mauricio"; "Maurizio, Forza Italia (?)". Ao contrário de praticamente todos os brasileiros que vi durante o percurso, não corri vestido com as cores da bandeira nacional, muito menos com a própria estampada na blusa. Mas tampouco usei as cores da Itália. De duas uma: ou existe pelo menos um francês que pensa que alguém chamado Mauricio é necessariamente italiano, ou algum italiano pensou ter visto um conhecido. O forza Italia tirou-me três minutos.

Egalité. Mais de 28 mil corredores concluíram a Maratona de Paris. Aproximadamente 24 mil homens e apenas 4 mil mulheres (em algumas provas realizadas nos Estados Unidos, a Maratona de Las Vegas, por exemplo, há mais mulheres do que homens). É gente demais para determinadas ruas estreitas do percurso. Resultado: três ou quatro engarrafamentos obrigaram-nos a parar de correr e caminhar por preciosos longos segundos. Duramente longos para quem chega em 4 horas e um minuto e pensa que por tão pouco deixou de fazer marca sub 4 horas. Foi o meu caso. Se bem que se eu descontar os três ou quatro engarrafamentos e o "Forza Italia"

Juliana abandonou-me no km 25 e partiu para fechar a prova em 3h54 (líquido). Detalhe: Juliana e eu cruzamos juntos a marca da meia-maratona depois de correr exatas 2 horas. Juliana fez a segunda metade da prova em 1h54, realizando um belíssimo split negativo. Soube, depois, que seu nome foi muito gritado, inclusive por crianças. É natural que num universo predominantemente masculino as poucas e bravas mulheres sejam as mais festejadas.

Moacyr completou em 4h03. Poderia ter feito em bem menos tempo. Mas seu objetivo é maior, bem maior. Completar três maratonas em 2008 e correr a Comrades em 2009. E consta que Moacyr parou por alguns minutos por motivo desconhecido no km 35. Coincidentemente, bem ao lado da barraca que promovia a Maratona do Beaujolais.

Ao fim e ao cabo, realizamos, Moa-cyr, Juliana e eu, nossos objetivos.

Mauricio Lopes de Oliveira é assinante do Rio de Janeiro

Veja também

Leave a comment