Correr sem compromisso, sem cobrança e em ritmo sempre confortável serve para alguma coisa? Depende do objetivo de cada um. Se for só para preservar a saúde e deixar o sedentarismo de lado, sem dúvida nenhuma traz muitos benefícios em nível cardiovascular, na estética corporal e principalmente faz bem para a cabeça da gente. E participar de provas sem nenhuma pretensão de colocação, muito menos preocupação de chegar na frente ou atrás de quem quer que seja, também não tem nenhum problema. Muitos atletas realmente fazem da corrida uma diversão e não se pode negar que isso é bom para o social.
Entretanto, se o corredor pretende melhorar o desempenho, em primeiro lugar deve ser profissionalmente orientado, porque passará a cumprir planilha de treinamento com diversos tipos de estímulos, variando a intensidade, como ocorre nos intervalados, e a quilometragem de cada sessão diária e da semana.
Sendo assim, o microciclo (treino da semana) será composto de um longo, um ou dois momentos de alta intensidade (como intervalados) e um ou dois trotes mais fracos, que são essas corridas sem compromisso, chamadas pelos corredores de rodagem.
A rodagem é uma sessão lenta e contínua que alguns utilizam com o objetivo apenas de completar o volume de quilometragem semanal, mas que em minha experiência profissional considero, como principal vantagem, a de relaxar a musculatura depois de um treino mais intenso ou de uma competição. Aliás, antes e após exercícios mais fortes, necessariamente deve ser feito um de baixa intensidade.
Estudos bem conduzidos mostram que corridas leves podem dissipar o lixo metabólico gerado nos trabalhos intervalados, diminuindo inclusive a dor muscular tardia muito comum nas 24 a 72 horas após treinos fortes. Ou seja, aceleram a recuperação. Pesquisas concluíram que o tempo de remoção da creatinaquinase e do lactato, produtos metabólicos gerados pela corrida de alta intensidade, pode ser reduzido em 1/3 quando se realiza a rodagem, se comparado com o simples repouso. Ao mesmo tempo em que esses produtos podem ser utilizados pelo corpo como energia, sua permanência pode indicar presença de microlesões, dificultando o treino seguinte.
SEM EXAGEROS. Alguns atletas, admitindo a necessidade da preparação leve, mas fissurados na quilometragem semanal, costumam exagerar no tempo de duração da rodagem, que não deve ser longa para não espoliar ainda mais a musculatura já sofrida no treino anterior. A rodagem deve se resumir a 50% ou mesmo 60% do tempo normalmente usado na corrida.
Mas é comum alguns acharem muito pouco, com comentários do gênero: "Não perco meu tempo para correr só isso". O corredor tem a opção de não fazer e trocar por um descanso, mas garanto que o resultado no próximo dia de alta intensidade não será o mesmo.
Vale lembrar que essa sessão leve no dia seguinte ao forte, contrariando a crença popular, não é a mesma coisa que treino regenerativo. Rodagem é uma corrida em ritmo fraco e de curta duração. Não deve ser prolongado, porque então, ao invés de relaxar a musculatura, acaba contribuindo para uma lesão por conta da mesma ação mecânica que é a corrida.
O regenerativo, embora tenha também o objetivo de relaxar e acelerar a recuperação, significa fazer uso de outra atividade com ação mecânica diferente da corrida, como nadar, pedalar ou mesmo caminhar, também de forma leve. Não se devem confundir esses dois tipos de treinamentos.