Notícias do Corpo – Por Luiz Carlos de Moraes| lcmoraes@compuland.com.br – Maio 2011
O equilíbrio no centro do corpo é fundamental para correr mais e melhor
Invariavelmente, todo ser vivo na sua trajetória de nascer, crescer, envelhecer e morrer segue naturalmente uma ordem lógica de desenvolvimento de habilidades motoras e psicomotricidade. Seres humanos nascem, rolam, levantam a cabeça, ficam de quatro, engatinham, ficam de pé procurando equilíbrio, andam, correm, saltam e arremessam. No decorrer desse crescimento natural, se não houver uma tentativa de adiantar o processo ou não ocorrer traumas, as habilidades motoras serão bem desenvolvidas, tudo a seu tempo, aperfeiçoando o sistema nervoso central. Se todo o processo de desenvolvimento natural não for interrompido, qualquer ser humano será capaz de exercer com o mínimo de esforço as atividades funcionais.
Na fase de engatinhar, a criança ao tentar se levantar quase sempre começa de frente; depois percebe que não é possível, rola de lado, para em seguida ficar de quatro. É nessa fase que criança fortalece o abdome e não vai andar antes de um fortalecimento mínimo de toda a região central do corpo. Ou seja, existe uma progressão de desenvolvimento natural estabelecida pela natureza e que a ciência chama de desenvolvimento cognitivo.
As respostas motoras obedecem à capacidade do desenvolvimento físico e mental. Os músculos e ligamentos dos pés, por exemplo, começam a ser aperfeiçoados quando a criança, principalmente descalça, começa a tentar ficar de pé, exercendo força de agarre com os pés contra o solo. É esse movimento reflexo de sensibilidade que vai permitir a formação da estrutura dos pés, tão importante para o equilíbrio e futuramente para correr e saltar com facilidade.
No Brasil o número de corredores fundistas tem aumentado em proporções geométricas com as lesões geralmente acompanhando esse batalhão de novos adeptos. Entretanto, parte dessas lesões se deve à falta de um treinamento chamado funcional, voltado ao fortalecimento da estrutura central do corpo, que envolve a parte baixa do abdome, quadril, pernas e pés.
Resgate do treinamento funcional.
O treinamento chamado funcional visa justamente resgatar o estímulo, a flexibilidade e o equilíbrio perdido desses grupos musculares ou mesmo pequenos músculos que servem de base para um determinado movimento. O que não se usa atrofia e o que se usa em excesso ou com postura inadequada desgasta. Um adulto que não consegue se levantar do chão sem o uso das mãos ou que não consegue vestir as calças em pé já perdeu quase 20% da sua flexibilidade e equilíbrio. Por isso um dos treinamentos mais naturais de manter a flexibilidade é exatamente esse: vestir as calças em pé.
No esporte também acontece isso. A maioria dos treinadores se preocupa muito com a repetição do gesto esportivo e uma parcela dos corredores quer apenas correr e com isso fortalece apenas os músculos atuantes, deixando os mais fortes cada vez mais fortes e os mais fracos cada vez mais fracos. Por essa razão, é comum corredores ficarem doloridos ao executar uma tarefa que não faz parte do seu dia a dia, ou mesmo ao praticar um esporte que não estão acostumados.
O treinamento funcional é um tipo de exercício que traz bons resultados, sendo feito com bola suíça, elásticos, bases instáveis, a boa e antiga medicine ball (bola grande e pesada), tudo visando o estímulo da propriocepção, a correção postural, o fortalecimento muscular, o equilíbrio e o relaxamento. As superfícies instáveis, como a bola suíça e a cama elástica, acabam recrutando músculos estabilizadores mais profundos em qualquer exercício nelas executado. Várias modalidades esportivas estão descobrindo essa técnica, que já existia na fisioterapia e que, popularizada nas academias, têm colaborado com a redução do índice de lesões.
Região mais beneficiada.
O treinamento funcional pode ser aplicado a todos os segmentos sociais, desde as pessoas comuns até as diversas práticas esportivas. É uma ginástica completa, explorando todos os movimentos possíveis em cada articulação e grupos musculares. Antes de sugerir alguns exercícios funcionais com bola suíça, três informações importantes. O Core: O foco do treinamento funcional é o fortalecimento dos músculos mais profundos do tronco e quadril, o chamado “core”, termo inglês que significa núcleo. A transferência de força, gerando qualquer movimento, seja com as pernas ou combinado com os outros segmentos corporais, depende da qualidade dessa estrutura muscular.
A criança não anda sem essa musculatura estar desenvolvida. O futebolista não chuta forte, o corredor não corre sem ter lesões, o ciclista não pedala bem sem os músculos do core bem treinados.
O MA P: Fazendo parte dessa importante região do corpo e que pouca importância se dá em todo tipo de ginástica estão os músculos do “assoalho pélvico” (MAP), responsáveis pelo controle urinário, fecal e sexual. Eles ficam situados na parte inferior da bacia, formando uma espécie de funil bem no meio das pernas. Esses músculos, assim como qualquer outro do corpo, se não estimulados ou treinados ficam fracos e sensíveis ao ato de tossir, espirrar ou pegar peso sem os devidos cuidados técnicos.
Da mesma forma, sabendo-se que a corrida de fundo gera um impacto de duas a três vezes o peso corporal, essa região enfraquecida pode gerar dores normalmente confundidas com outros tipos de lesões. Podem também ficar enfraquecidos após cirurgias de próstata ou parto, seja natural ou cesariana. São também sensíveis à pressão intra-abdominal na execução de exercícios de musculação com respiração inadequada. O treinamento funcional específico conjugado com a retroversão do quadril e os abdominais visam fortalecer o MAP.
O CG: Qualquer objeto e também qualquer corpo tem um centro de equilíbrio em que a soma das forças internas se equilibram com as externas, que no corpo humano na posição ortostática (em pé) fica um pouco acima da linha do quadril, ou seja, no core, considerando um indivíduo normal. Quando há qualquer desvio postural, sobrepeso ou protusão do abdome, o centro de gravidade (CG) muda, gerando conseqüências imprevisíveis nas articulações do quadril, joelho e tornozelos, que passam a trabalhar de forma inadequada para realinhar o corpo.
Entre os fatores que podem ameaçar o equilíbrio estão a fraqueza muscular e a diminuição da propriocepção. Daí a importância da perfeita noção do equilíbrio em qualquer movimento feito pelo corpo humano, desde os mais simples como a marcha, até os gestos esportivos mais complexos. O treinamento funcional visa também restabelecer o equilíbrio do corpo.
Dez vantagens do treinamento funcional
1) Melhora da resistência muscular, da flexibilidade e da força como um todo.
2) Melhora da postura e da auto-estima.
3 ) Diminui o índice de lesões, tanto em atletas como em pessoas comuns.
4 ) Melhora do rendimento esportivo, desde os amadores até os de alto rendimento.
5 ) Melhora do equilíbrio e coordenação motora.
6 ) Diminui os problemas de dores nas costas e problemas de coluna relacionados ao trabalho.
7 ) Melhora da propriocepção e da psicomotricidade.
8 ) Melhor domínio de movimentos, desde os mais simples até os mais complexos.
9 ) Melhor domínio da noção espacial.
10 ) Recrutamento de maior número de fibras musculares e unidades motoras por grupos musculares.