Tradicional é a Corrida de São Silvestre. Não o percurso

A tradição de uma prova está ligada diretamente a sua história (e seu passado), aos anos de realização, aos participantes. Uma relação que passa de geração para geração. É o caso específico da Corrida Internacional de São Silvestre. A discussão atual é decorrente da alteração no trajeto na corrida paulistana. Largada na Avenida Paulista e chegada no Obelisco do Ibirapuera, confirmada nesta quinta-feira, dia 1º, pela CET-São Paulo (veja o percurso completo no final do texto). Isso não muda a São Silvestre. Continuará sendo a mais falada e histórica prova brasileira, conhecida em todo o mundo. E, para mim, não perde a sua magia.

Nos últimos anos, a subida da Brigadeiro, o “temível” trecho final da São Silvestre (que não é nem tão longa nem tão difícil assim, mas ganha ares de Himalaia pela tradição e pelas dificuldades anteriores da corrida), faz parte dos comentários. Com a mudança da CET, a prova terminará no Obelisco do Ibirapuera e, assim, na “descida da Brigadeiro”. Até acho que a prova ficará mais rápida e menos dura, mas essa é outra discussão. Não a conversa de hoje (o trajeto será alterado para que sejam mantidos os 15 quilômetros).

Foto: Ronaldo Milagre/ZDL

A São Silvestre está nas proximidades de completar 100 anos. É para poucos. Calma, falta um tempinho ainda (13 anos), mas chegará lá sem dúvida alguma. E o trajeto já foi alterado algumas vezes. Inclusive, em sua distância. Não pense que foram sempre 15 quilômetros. Antes, era realizada à noite. Tinha, 9, 12 km…

Por tradição (essa palavra novamente), a largada deveria ficar mesmo na Avenida Paulista. Espero apenas que o ponto de começo seja diante do prédio da Fundação Cásper Líbero (local da chegada atual).

A São Silvestre está ligada ao imaginário popular. Corredor ou não, a maioria dos brasileiros, ou melhor, todos os brasileiros que gostam de esporte a conhecem. Está certo que ouvimos, muitas vezes, a “Maratona de São Silvestre” ou “são quantos quilômetros mesmo?” – viu como o percurso não faz parte da tradição! Tem sido realizada ininterruptamente desde a estreia, mesmo em períodos de guerra mundial ou de anos de chumbo no país – épocas tristes que não condizem com a alegria e a saúde do esporte.

Em maio, quando eu e o Sérgio Rocha entrevistamos o gênio queniano Paul Tergat, ele citou que até na Ásia suas vitórias na São Silvestre eram conhecidas, comentadas, elogiadas. Numa noção de como a prova supera as fronteiras nacionais. A portuguesa Rosa Mota, durante a Meia das Cataratas, em Foz do Iguaçu, em julho, falou com muito carinho da corrida e da relação com os torcedores, da prova “onde tudo começou”. E estou citando apenas duas “feras” que estiveram na São Silvestre.

Falando tecnicamente, a discussão deve ser outra. O importante é que a São Silvestre caminhe para frente. Nada de andar para trás, que não condiz com a corrida. Que tenha cada vez mais participantes, mas com organização. Vai largar na Avenida Paulista e chegar no Ibirapuera? Tudo bem. Só que serão necessários ônibus da chegada para a largada antes do começo, como ocorre na Maratona de São Paulo (em um serviço muito bem feito). Precisa contar com separação por tempo (comprovado) e por ondas na largada. Não há como ignorar isso. Fazer as pessoas ficarem duas horas em pé no sol para conseguir sair mais na frente, é inadmissível.

Quer correr fantasiado ou carregando faixas? Vai lá para trás, para o “fundão”. Por que ir para frente e atrapalhar quem quer correr competitivamente? Nada contra as comemorações. Muito pelo contrário. Correr a São Silvestre é uma forma perfeita de encerrar o ano e agradecer por tudo de bom que enfrentamos, mas se a ideia é festejar, não atrapalhe quem quer competir, seja contra adversários ou contra o relógio.

Acho ótimo se chegarmos mesmo a 25 mil atletas (ou melhor, que um dia sejam 25 mil concluintes, o que realmente importa), mas para isso, antes de pensar em números, a organização (Rede Globo/Yescom) deve acertar a largada. Essa é a verdadeira discussão.

Clique aqui e leia o comunicado oficial da CET-SP. Com o novo traçado, a São Silveste passará pelas seguintes vias:

– Largada na Avenida Paulista em frente ao Masp
– Rua da Consolação
– Rua Rego Freitas
– Avenidas Duque de Caxias e São João
– Viaduto Elevado Arthur da Costa e Silva (Minhocão)
– Praça Padre Péricles
– Rua Marta
– Rua Margarida
– Al. Olga
– Baixos do Viaduto Pacaembu
– Rua Barra Funda
– Rua Dr. Carvalho de Mendonça
– Al. Nothman
– Alameda Barão de Limeira
– Av. São João
– Largo do Paissandu
– Rua Conselheiro Crispiniano
– Praça Ramos de Azevedo
– Viaduto do Chá
– Rua Líbero Badaró
– Largo São Francisco
– Viaduto Brig. Luís Antônio
– Av. Brig. Luís Antônio
– Av. Mal Estênio de Albuquerque Lima
– Rua Manoel da Nóbrega
– Rua Nabia A. Chohfi
– Av. Pedro Álvares Cabral, chegando à Praça Túlio Fontoura em frente ao Obelisco diante do Parque do Ibirapuera.

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