Durante o percurso de bicicleta, que por sinal estava quase impossível de pedalar, eu sofri uma queda, que luxou e fraturou meu cotovelo esquerdo. Enquanto estava caída no chão, aguardando o resgate, passava pela minha cabeça, todas as provas que tinha colocado como meta este ano de 2009 e, que talvez, eu não mais conseguisse cumpri-las. Mas ao mesmo tempo eu pensava, ainda bem que não foi a perna… vamos ver o lado positivo da coisa…
Após passar pelo médico e receber a informação de que teria que operar e colocar placas e pinos no cotovelo, voltei para casa e o desânimo tomou conta de mim… Todavia, neste mesmo dia, um amigo maratonista (Marcus Lima, de Brasília) nos ligou dizendo que havia acabado de fazer a inscrição para Chicago e que estava no site pronto para fazer as nossas. Eu pensei… Maratona de Chicago… logo hoje! Mas foi neste momento que meu marido Hely disse que iríamos porque até lá eu já estaria bem.
Depois disso, fiz a cirurgia, passei por todo período de recuperação, fisioterapia, hidroterapia e após 60 dias de castigo finalmente fui liberada para voltar a treinar. A partir daí eu só tinha uma meta na cabeça, melhorar meu tempo em relação a Berlim (3h35). Fiz as planilhas, uma prova de meio Ironman 40 dias antes e parti, confiante, para Chicago.
MUITO FRIO NA LARGADA. Chegamos na quinta, com chuva e muito frio e assim ficou o tempo também na sexta. No sábado, as temperaturas caíram ainda mais, mas a chuva deu uma trégua. Domingo, finalmente o grande dia! Acordamos às 5, tomamos o café, e às 6 saímos para a largada, com o termômetro marcando 0 grau. Chegando lá, me separei do meu marido e foi cada um para o seu curral, o que me deixou um pouco apreensiva, pois nunca tinha largado uma prova longe dele, sem conta que trabalhamos, treinamos e competimos sempre juntos. Mas, fazer o que?
Fiquei lá esperando, sem ter idéia de que horas eram (meu GPS já estava pronto para dar start, não ia mudar a tela para ver a hora) até que, finalmente foi dada a largada. Começamos a correr, a partir daí o frio passou e eu estava cem por cento concentrada no que tinha que fazer, sabia todas as passagens de Berlim e tinha que diminuí-las, porém, no segundo quilômetro um corredor tirou totalmente minha concentração; ele era baixo e estava escrito nas costas da camiseta Karnazes, e pensei: " Será que é ele?" Olhei a panturrilha e tive certeza – era exatamente como estava descrita no livro. Acelerei, cheguei ao seu lado sorri e disse seu nome. "Dean Karnazes – O Ultramaratonista", me olhou, sorriu e disse que sim… Perguntou de onde eu era, me desejou boa prova, eu retribui e segui em frente; aquilo foi o último estímulo que precisava para acelerar ainda mais. Estava feliz por não sentir aquela canseira que normalmente passamos depois dos 30, 35 km. Eu estava inteira, até que ao passar o km 40 em 3:14:27, tendo portanto certeza que ia fazer a prova abaixo de 3h30, relaxei e fui para galera, fiz aviãozinho, dei a mão para torcida, chorei, cantei e finalmente cruzei a linha de chegada em 3:26:05, certa de uma coisa: os obstáculos servem não para nos derrubar e sim para nos tornar ainda mais fortes. E que venha Boston!
Ana Flávia Peres é de Indaiatuba, SP.



