Performance e Saúde admin 12 de outubro de 2014 (0) (116)

Soluções para asma induzida pela corrida

A asma é uma doença com aspectos clínicos (falta de ar, tosse), fisiológicos (constrição das vias aéreas) e patológicos (inflamação das vias aéreas devido à hipersensibilidade). A atividade física, por sua vez, é um potente mecanismo para induzir a broncoconstrição, aparentemente em função do ressecamento das vias aéreas. Isso faz com que 80-90% dos asmáticos apresentem sintomas durante o exercício, e mesmo indivíduos sem quaisquer sintomas de asma em repouso podem revelar constrição dos brônquios e estreitamento das vias aéreas enquanto se exercita, levandoasintomas como falta de ar, respiração "chiada", tosse esensação de aperto no peito. Essa condição também é frequentemente associada com fadiga precoce e perda de performance.
A incidência de broncoconstrição induzida por atividade física está fortemente relacionada às condições climáticas e à intensidade daprática esportiva, sendo que climas frios e secos e altas intensidades propiciam o aparecimento de sintomas.Apesar de o tratamento padrão para o problema ser o uso de medicamentos, existe um grande esforço para encontrar formas alternativas de tratá-lo.
Além das questões financeira e logística (a necessidade de ter o medicamento sempre à mão), o uso constante de remédios pode levar à resistência aos seus efeitos, de forma que com o passar do tempo eles podem se tornar menos eficientes.Entre as possibilidades alternativas encontram-se intervenções alimentares, prática de movimentosespecíficos de aquecimento e até mesmo o uso do treinamento físico adequado, como forma de reduzir a ocorrência de sintomas.

AQUECIMENTO PRÉVIO. O uso de protocolos específicos de aquecimento para indivíduos que apresentam broncoconstrição induzida pelo exercício tem sido alvo de diversos estudos. O ato de aquecer pode ser considerado uma estratégia aguda de intervenção, com efeitos de curta duração. A intenção por trás destes protocolos é criar o chamado "período refratário", que pode durar entre 1 – 4h,quando a sensibilidade das vias aéreas é diminuída, de forma que o treino mais intenso pode ser realizado sem o aparecimento de sintomas e a necessidade de medicação.
Essas estratégias de aquecimento podem ser divididas em quatro grandes grupos: aquecimento contínuo de baixa intensidade, de alta intensidade, intervalado e finalmente o específico para os músculos respiratórios. Uma revisão sistemática publicada em 2011 aponta que,entre astrês primeiras alternativas citadas,com testes em atividades físicas como corrida e ciclismo, o aquecimento incluindo exercícios intervalados parece ser superior aos demais em sua capacidade de preservar a função pulmonar por um período de até 80 minutos.
Esse protocolovaria, mas em linhas gerais os estudos utilizaram séries de 7-10 repetições de 25-30 segundos em intensidades altas (pense numa série de 400 – 800 m, ou numacadência um pouco além do seu ritmo de 5 km), com pausas variando entre 45 seg e 2,5 min, entre as séries. Não se sabe, no entanto, qual seria a dose mínima destes "sprints" para se obter um efeito protetor.
De qualquer forma, parece perfeitamente possível a realização destas séries em corredores que sofremde broncoconstrição induzida pelo exercício, como parte de seus treinos, possivelmente reduzindo ou pouco (se necessário) o volume do trote inicial, inclusive antes de provas.
A quarta hipótese apresentada, a que utiliza exercícios específicos de respiração como aquecimento, ainda é muito recente e está em fase de testes, mas considerando os efeitos positivos de treinos da musculatura respiratória em pessoas saudáveis, é uma ideia promissora.

SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR. Outra alternativa de tratamento, já pensando em médio e longo prazo, é a suplementação alimentar. Existem pesquisas em diferentes frentes, testando o efeito de alguns compostos sobre a função pulmonar durante e após aatividade física intensa.
A suplementação com óleo de peixe, rico em ômega 3, é eficaz em reduzir e até anular a broncoconstrição em atletas de elite e pacientes asmáticos, após apenas três semanas de suplementação diária, efeitos estes que são significativos mesmo frente a um grupo placebo. O ácido ascórbico (a popular vitamina C) também parece ser efetivo em reduzir a perda de função pulmonar em exercícios, e pode ser uma alternativa viável para muitos. Claro que opções de suplementação alimentardevem preferencialmente ser discutidas com um nutricionista especializado, antes de iniciadas. O importante aqui é saber que elas existem e podem ser de grande auxílio para o corredor.

LONGO PRAZO. Será que o treinamento em si ajuda a atenuar os efeitos da broncoconstrição? Por estranho que pareça, a resposta não é exatamente clara. A prática esportiva moderadaajuda a melhorar a capacidade aeróbica, tanto em asmáticos quanto em pessoas que sofrem de broncoconstrição induzida pelo exercício, e melhora também diversos índices de qualidade de vida, por exemplo na quantidade de dias sem apresentar sintomas entre pacientes asmáticos.
Além disso, a sensibilidade dos brônquios e a função pulmonar em si também parecem melhorar; no entanto, estes efeitos não chegam a ser uma uniformidade entre pesquisadores. Um fator que parece ser importante é o fato de o treinamento diminuir a demanda respiratória para uma determinada intensidade. Conforme o condicionamento físico melhora, o corredor se torna mais eficiente no movimento, gastando menos energia, além de também se tornar mais eficaz no processo de transporte de oxigênio.
Juntos, esses fatores fazem com que volumes menores de ar sejam necessários para correr em uma dada velocidade, o que causa menos irritação às vias aéreas. Dados os efeitos benéficos do treinamento físico, a prática regular de atividades físicas é recomendada mesmo para pessoas com broncoconstrição induzida por exercício, que eventualmente precisarão ficar mais atentos ao volume de intensidade de certas fases do seu treino, mas que ainda assim podem desfrutar de uma longa a produtiva "carreira" pelas ruas.
A coluna deste mês faz um agradecimento especial a Philip Eichenberger, que está dedicando seu doutorado na ETH-Zurique ao estudo de intervenções para reduzir a incidência de broncoconstrição induzida pelo exercício.

 Diagnóstico

A broncoconstrição induzida por exercício requer diagnóstico feito por um médico pneumologista, através de testes de espirometria, que são realizados antes e depois de teste físico. A sessão deve ser intensa, normalmente entre 80-90% da frequência cardíaca máxima, e com duração de pelo menos 5 minutos.
Antes e depois da atividade a função pulmonar é medida, através do teste de volume de expiração forçada, em que o paciente, após encher ao máximo seus pulmões, "sopra" o ar para fora com a maior força possível. Uma perda maior que 10% na quantidade de ar expirado no primeiro segundo é considerada anormal.

 

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